13.

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O bode, Axl percebia, estava muito à vontade naquele terreno montanhoso. Comia, satisfeito, o capim baixo e as urzes, sem se importar com o vento nem com o fato de suas patas esquerdas estarem apoiadas num nível bem mais baixo do que as patas direitas. O animal puxava a corda com muita força — como Axl bem havia sentido durante a subida — e não tinha sido fácil encontrar um jeito seguro de amarrá-lo para que ele e Beatrice pudessem descansar. Mas Axl acabara encontrando uma raiz de árvore morta se projetando da encosta e amarrara a corda nela com bastante cuidado.

O bode estava totalmente visível do lugar onde eles se encontravam agora. As duas enormes pedras, encostadas uma na outra como um casal de velhinhos, haviam estado visíveis de um ponto mais baixo do caminho, mas Axl tinha esperança de encontrar algum abrigo contra o vento bem antes de chegarem até elas. No entanto, a encosta árida não oferecera nada, e eles foram forçados a continuar subindo pela pequena trilha, enquanto o bode os puxava tão impulsivamente quanto as violentas rajadas de vento. Contudo, quando finalmente chegaram às pedras gêmeas, foi como se Deus tivesse erguido um santuário para eles ali, pois, embora ainda ouvissem as rajadas ao redor, sentiam apenas leves movimentos no ar. Mesmo assim, eles se sentaram encostados um ao outro, como que imitando as duas pedras acima deles.

“Ainda tem tanto chão abaixo de nós, Axl. Parece que aquele rio não nos fez descer praticamente nada.”

“A nossa viagem pelo rio foi interrompida antes que pudéssemos ir muito longe, princesa.”

“E agora aqui estamos nós, subindo a encosta outra vez.”

“Pois é, princesa. Estou desconfiado que aquela menina escondeu de nós o quanto a tarefa seria difícil.”

“Sem dúvida nenhuma, Axl. Ela deu a entender que seria uma caminhadinha à toa. Mas, por outro lado, coitada, uma criança ainda e tendo que assumir tantas responsabilidades que não são para a idade dela. Axl, olhe lá para baixo. No fundo daquele vale, você está vendo?”

Protegendo os olhos da luz ofuscante com uma das mãos, Axl tentou enxergar o que a esposa estava mostrando, mas, depois de algum tempo, fez que não com a cabeça. “Os meus olhos não são tão bons quanto os seus, princesa. Vejo vários vales entre as montanhas, mas nada de extraordinário em nenhum deles.”

“Lá, Axl, acompanhe o meu dedo. Não são soldados andando em fila?”

“Ah, eu consigo ver agora. Mas eles não parecem estar andando.”

“Eles estão andando sim, Axl, e me parece que são soldados, pelo modo como avançam numa longa fila.”

“Para os meus olhos fracos, princesa, eles não parecem estar se mexendo de forma alguma. E, mesmo que sejam soldados, estão longe demais para nos incomodar. O que me preocupa muito mais são aquelas nuvens de tempestade a oeste, pois elas podem nos causar problemas muito mais rápido do que qualquer fileira de soldados à distância.”

“Tem razão, marido. Quanto será que ainda temos que andar? Aquela menina não estava sendo honesta quando insistiu que era só uma caminhada curta. Mas, coitada, quem poderia condená-la? Com os pais ausentes e tendo que cuidar dos irmãos mais novos. Ela devia estar desesperada para que aceitássemos fazer o que ela estava pedindo.”

“Eu estou vendo aquelas figuras melhor, princesa, agora que o sol apontou atrás das nuvens. Não são soldados nem sequer homens, mas sim pássaros pousados um ao lado do outro.”

“Que tolice, Axl. Se fossem pássaros, como é que iríamos conseguir enxergá-los daqui?”

“Eles estão mais perto do que você imagina, princesa. São pássaros pretos pousados em fila, como eles costumam fazer nas montanhas.”

O Gigante EnterradoOnde histórias criam vida. Descubra agora