Dois (II)

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O restante da caminhada foi curto, e logo o caminho ficou em vista. Passamos pelos arbustos na borda dele, e nossos sapatos atingiram o solo pavimentado, nossos passos entrando em sincronia. Quando chegamos na borda da floresta, Harry parou.

"Acho que você sabe o caminho a partir daqui," ele disse, traços de um sorriso em seu rosto.

"Sim," eu disse. "Muito obrigada pela sua ajuda... E pelo desejo de feliz aniversário."

Os traços de um sorriso transformaram-se num de verdade, seus lábios se erguendo delicadamente. "Claro... Luna."

Parecia que meu nome fugiu dele por um segundo, antes de rolar de sua língua. Ele ergueu o braço para puxar uma mecha de cabelo de seu rosto, reajustando a alça de sua mochila em seu ombro.

Eu não queria que aquele fosse a última vez que falava com ele. Eu não queria ir para casa e colocar a peônia em um vaso e vê-la desidratar alguns dias depois; eu não queria reviver minha conversa com ele na cabeça e querer falar mais com ele só para conversar com alguém que não tinha vivido nesta cidade pequena por eras; não queria deixar meu encontro com ele perder a importância e evaporar.

Então eu disse, "Amanhã de noite meu pai vai ter uma festa de campanha. Se você quiser ir, será bem-vindo."

Uma leve brisa passou por nós e então entrou na floresta. Puxei meu cabelo para longe dos meus olhos.

"Talvez eu passe lá," Harry disse.

Assenti e sorri novamente, antes de me despedir e virar para andar até minha casa, a flor balançando em meus dedos.

...

Nova e Genevieve estavam chegando em casa também, Genevieve no celular (como sempre). Acenou para mim sem entusiasmo antes de entrar em seu quarto, indicando que estava em uma conversa importante.

Nova olhou para mim, um sorriso em seu rosto. "Feliz aniversário," ela disse, segurando minha mão livre e apertando-a.

Sorri para ela, "Obrigada."

"Onde você conseguiu isso?" Esticou o braço para passar aspontas dos dedos nas pétalas cor-de-rosa da flor.

Olhei para a flor em minha mão. "Ah... Na floresta. Pegue um vaso para mim, por favor."

Nova assentiu animadamente e saiu, Genevieve saindo do quarto ao mesmo tempo. Sorriu para mim.

"Já retirei seu vestido da lavagem a seco. Você pode querer experimentar novamente e ver se ele está bem ajustado. Se não estiver, podemos voltar naquela butique amanhã e achar um vestido no-"

"Genevieve," interrompi minha madrasta. "Genevieve, hoje é o meu aniversário. Você esqueceu."

Seus olhos se arregalaram e seu queixo caiu um pouco. "Ah, Luna! Me desculpa. Feliz aniversário, Luna!" Falou me puxando para um abraço, meus braços continuando aos meus lados.

"Obrigada," falei sem emoção.

"Eu me sinto tão horrível. Vamos sair para jantar, sim? Nós quatro. Vamos naquele restaurante italiano que você gosta. Deixe eu ligar para o seu pai-"

"Não se preocupe," falei. "Mas obrigada, Genevieve."

Ela me olhou culpada enquanto eu subia as escadas para o meu quarto, fechando minha porta.

Alguns momentos depois Nova entrou no meu quarto, um pequeno vaso com água sendo cuidadosamente equilibrado em suas mãos.

"Aqui está," falou, ficando na ponta dos pés para colocar o vaso na beira da janela. Entreguei a flor e ela colocou delicadamente dentro do vaso.

"Perfeito," falei sorrindo pra ela.

Eu e Nova não tínhamos laços sanguíneos, apesar de parecer assim. Nova era a pessoa que eu mais amava, e sabia que faria qualquer coisa por ela. Seu cabelo era escuro, um tom de marrom tão profundo que parecia quase preto, combinando com o da Genevieve, sua mãe, e tendo um grande contraste com o meu cor de mel. Os olhos de Nova eram um tom de azul só um pouco mais claro que os meus, e sua pele era clara, tão lisinha que me lembrava de porcelana.

"Nova!" Genevieve chamou do pé da escada, assustando nós duas.

"Estou indo," Nova respondeu, revirando os olhos. "Ela provavelmente quer que eu experimente meu vestido de novo. Chato."

Ri, esticando o braço e bagunçando seu cabelo gentilmente. "Melhor ir, então."

"Nova!"

"Meu Deus, mãe! Falei que já estava indo!" Respondeu. Ela definitivamente era a menina de oito anos mais audaciosa que eu conhecia.

Sorriu pra mim novamente antes de se virar e sair do quarto, fechando a porta. Ouvi seus passos leves descendo as escadas dois degraus por vez.

Me virei para olhar pra peônia dentro do vaso na beira da minha janela.

Pensei no desejo de feliz aniversário da Genevieve para mim. Pensei no da Nova. Pensei no inexistente do meu pai; apesar de ser injusto da minha parte reclamar sobre isso durante a época de reeleição, quando ele estava tão ocupado. Quando ele chegasse em casa, talvez eu desse um leve lembrete.

Minha mente foi para o desejo de feliz aniversário do Harry pra mim.

Achei engraçado como um 'feliz aniversário' genérico de um estranho que não conhecia por nem duas horas significava mais do que o daquelas pessoas que conhecia por anos.

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Um milhão de desculpas pela demora!! - Carol xx

evergreen [h.s.] (tradução) ON HOLDOnde histórias criam vida. Descubra agora