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Tão logo acordou na manhã seguinte, Liam sentiu-se diferente. Mais relaxado, poderia dizer. Aliviado até. O caçula dos Payne vestiu um sorriso e notou que cantarolava uma canção para si mesmo enquanto descia para tomar café com os pais. Sua mãe lhe deu um sorriso quando viu que estava de bom humor e ele correspondeu, doce. Liam era o típico filho suburbano norte-americano: tinha um emprego de carreira de longo prazo, mesmo que não exigisse muita qualificação – ele instalava gás encanado nas residências, um pouco braçal demais, não? –, tinha 24 anos e ainda morava com os pais, mas isso não era um problema a seu ver, uma vez que todos os seus amigos que regulavam idade também o faziam. Coisa da geração, seu pai costumava dizer sem se incomodar. Bem, qual seria a graça quando Liam saísse de casa? Da vida de quem seus pais cuidariam? No mais, sua rotina era bem simples: ia à igreja todos os domingos, tinha uma bela namorada – filha de um amigo de seu pai –, comportava-se bem e fazia o que era esperado dele.

Exceto que Liam não era nada disso. Mas ele não deixaria ninguém descobrir.

Sua mãe colocou café em uma caneca para ele, enquanto conversava com seu pai sobre visitarem sua irmã hoje. Ela sorriu para ele e por um segundo Liam teve um flash de pensamento: se ela continuaria com esse sorriso terno se soubesse a verdade. Liam sabia que não, obviamente, foi ensinado desde pequeno o quanto aquilo era errado. Ele preferiu forçar esse pensamento a desaparecer na sua mente para não estragar seu dia. Liam não gostava de enfrentar seus problemas.

—Estamos pensando em ir à Ruth hoje. Quer que deixe algum recado com ela? – Geoff se dirigiu ao filho, despreocupado.

—Não, obrigado. Eu acho que vou vê-la no fim de semana, talvez dormir com Michaela para que ela e Rob saiam para jantar. Lembro-me dela ter me ligado para pedir tal favor, ou algo assim. – Deu de ombros.

Geoff voltou então sua atenção às suas torradas e Karen fazia ovos para Liam como todas as manhãs. Ficaram em silêncio, ouvindo ao rádio baixinho. Não eram uma família de conversar muito e rir. Às vezes Payne considerava os pais muito calados, porém, analisando bem, era até melhor assim. Tê-los perguntando o tempo todo de sua vida seria desastroso. Eles preferiam fazê-lo de forma mais sutil e Liam sempre foi esperto o suficiente para estar um passo à frente. Terminaram a refeição da mesma forma e o caçula subiu para se arrumar. Fez a barba, pois gostava de seu rosto jovial e ajeitou os cabelos de um jeito calculadamente despretensioso.

Deu adeus a seus pais e saiu para mais um dia de trabalho, cantarolando mais uma vez junto com as músicas da rádio. Logo recebeu a primeira ligação do dia, a central avisando que ele precisava efetuar uma ligação em uma residência no vale ao leste da cidade e depois o corte dois bairros ao norte. O loiro da última noite havia sido realmente refrescante para a joça de vida que Liam levava. Também havia sido o homem mais bonito com quem já havia se deitado, poderia garantir isso. Liam ainda se lembrava de seu nome e sua voz melodiosa em seus ouvidos. Ele era tão sexy que Payne achava que poderia ficar duro só com a memória de suas palavras e o jeito que seus lábios se moviam.

É, ele não era muito "ativo" no campo sexual com outros caras, poder-se-ia dizer assim. Fazia cinco meses que não mantinha relações com nenhum homem e isso é muito, considerando sua idade. Não o levem mal, ele até tinha uma namorada, Dani, ela era bonita e tudo o mais... Porém Liam nunca conseguiu se sentir atraído por ela. Ou por qualquer outra garota, pra falar a verdade. Na adolescência, isso costumava desesperá-lo – o fato de que ele ficava mais ansioso para as aulas de educação física porque sabia que depois poderia espiar algumas bundas no vestiário; do que para quando tinha seus encontros arranjados com garotas. Ele ainda se lembrava da primeira vez que uma garota permitiu que ele sentisse seus seios. Sentia-se, naquele momento, como um daqueles bonecos de ar de postos de gasolina: vazio. Ele costumava se culpar muito por ser do jeito que era e, obviamente, tentou se suicidar algumas vezes. Nunca deram certo porque ele nunca teve a coragem para realmente fazê-lo – irônico, não?

Shoot love ↪ NiamOnde histórias criam vida. Descubra agora