Capítulo I -A chegada

387 44 36
                                    

Era talvez sua décima terceira viajem em apenas 10 anos, já estava acostumada com as mudanças súbitas da mãe, contudo, gostava de sentir novos ares, conhecer diferentes culturas, o modo como o ser humano adaptou-se a viver em mundos tão diferentes entre si, era apaixonada por esse sentimento: LIBERDADE.
Sua mãe (uma cientista inteligente -muito inteligente-) foi convocada ( secretamente) para o projeto de desenvolvimento de microcontroladores.
Mas Dina ia morar numa ilha, teria que deixar seu pequeno mundinho para trás, seus poucos amigos, o resto de sua família, uma igrejinha na qual costumava ir. Até por que lá não tivesse talvez tantas "regalias" como em sua antiga morada:

-Acha que vamos chegar vivos lá?- pergunta o irmão dela em um tom meio sarcástico quando estavam se acomodando no avião.
-Espero que sim- responde Dina deixando transparecer em sua voz um pouco de preocupação, ignorando o sarcasmo na voz dele.
Uma mulher de cabelos curtos, olhos escuros e com uma saia na altura do joelho que Dina identificou como aeromoça pede educadamente para que eles apertem seus cintos e preparem-se para a decolagem.Dina sentia-se um pouco incomodada, suas mãos estavam suando frio, e achava que a qualquer momento poderia vomitar todo o almoço; não era a primeira vez que andava de avião (com certeza não), mas daquela vez era diferente, ir para uma ilha escondida do mundo, não saber nada sobre ela, e bem, sem certeza de quando iriam sair daquele lugar.

***
Dina acorda com o grito de seu irmão. Já devemos ter chegado, pensa ela, e quando vão descendo do avião fica impressionada com tanta beleza, árvores enormes, e verdes, e no meio de tudo um pouco mais para dentro da floresta haviam enormes casas, a maioria delas eram na verdade laboratórios, direcionados para pesquisas, havia uma casa enorme no centro, sua mãe pouco antes de sair para visitar os laboratórios disse que todos ficariam hospedados lá. O lugar era bem arrumado, talvez fosse cedo demais para pensar em comodidade. Na entrada do saguão branco com alguns detalhes amarelos havia uma placa com os dizeres:
Regras para a nossa agradável convivência:
1- Respeite todos.
2-Para menores de idade (filhos dos convocados) só é permitida a entrada nos laboratórios com autorização do diretor.
3-O toque de recolher será as 9:30 hs da noite, quem ultrapassar esse horário será infelizmente multado.
4- Todas as pessoas devem fazer tarefas para ajudar uns aos outros (cozinhar, varrer o domicilio, etc)
5- Brigas, ofensas e coisas assim não são permitidas.

-Vejo que vocês já se familiarizaram com nossas mais importantes regras- fala o diretor com uma cara simpática e um sorriso no rosto.-Sou o diretor de atividades e vamos, quero que vocês, enquanto seus pais estão nos laboratórios, conheçam alguns lugares...
O homem levou-os para um passeio na floresta.As coisas eram tão diferentes da casa de Dina.Sem fumaças, sem tantas pessoas caminhando apressadas para o trabalho, a melodia dos pássaros cantando.Sentia-se encantada, como se tudo se passasse dentro de um filme. Meu Deus, toda aquela calmaria, mas no fundo ela ainda estava com saudades de casa, talvez não da casa, mas do cheiro de amaciante de roupas, das lanchonetes que haviam em cada esquina. Havia uma menina, Cristy, estava escrito no seu crachá, parecia ser legal, Dina não tinha nada a perder:
-Minha mãe está no laboratório 3, sou Dina.- Fala isso esticando a mão para cumprimentar a menina.
-Ah, olá, meu pai está no segundo, sou Cristy-Ela abre um grande sorriso.

Os laboratórios eram divididos em sete, cada um de acordo com o QI dos cientistas. A mãe de Dina era muito inteligente, mas não tão boa talvez quanto os seus colegas de trabalho. O diretor virou-se para eles, depois de ter mostrado uma pequena parte do lugar, que afinal era uma ilha e ele não mostraria tudo em uma única tarde:
-Agora vocês podem me acompanhar de volta para a sede, porque a noite teremos uma "festinha" de boas vindas, e bom, espero que estejam gostando de tudo
Talvez fosse aquele sentimento que Dina, Cristy, e todos os outros que estavam lá precisavam, a liberdade, mas será que aquilo era liberdade? Ficar presos numa ilha?

Sobre VoarOnde histórias criam vida. Descubra agora