Capítulo VII - Gotas

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-Mas que maravilha! - Ela disse aquilo já abaixando-se para ver o tornozelo de Dina, que estava um pouco ralado, e algumas gotas de sangue escorriam nele; parou por algum tempo e cutucou o local que já estava começando a inchar.

-Ai! Você tá maluca? Pode quebrar mais sabia... Se ao invés de ovos crus, você tivesse trazido remédios para infecção.

-Pode parar de reclamar por favor? Você só sabe reclamar desde que nós saímos da sede, e além do mais, seu tornozelo não quebrou, só está de mal jeito. - Cristy disse já levantando-se do chão irregular e tirando o mapa do bolso.

    Dina levantou-se do chão choramingando e com certo drama conseguiu pôr-se de pé (sem a ajuda de Cristy, que estava muito concentrada no mapa), ela tomou o mapa de suas mãos e começou a andar para frente (mancando de forma ridícula e dramática), Cris a acompanhava dando passos duros e que demonstravam a repugnância que havia sentido por aquela atitude. 

    Elas já haviam andado um bom tempo, e a fome já começava a apertar novamente, o sol estava a pino, e as gotas de suor pingavam nas faces delas duas, já deviam ter dobrado uns cinco caminhos e pareciam andar em círculos. As pernas de Dina já tremiam e ela por conta própria resolveu parar para comer, abriu sua bolsa e  resolveu procurar algo para "enganar o estômago", assim que abriu-a achou uma maçã meio murcha, mas tinha a impressão que pela fome que estava poderia comer uma pedra, se temperada com algum molho (de shoyu, quem sabe). Cristy também parou e sentou-se em cima de uma pedra alta. Dina jogou uma maçã pra ela, a última coisa que podia nesse momento era perder alguém.

-Olha só, me alimentando. - Cristy disse num tom sarcástico. - Não ligue pra mim, sarcasmo é minha única defesa.

-Subir em árvores também. - Dina olho-a de relance, como se soubesse que ela estava  escondendo algo. -Sabe, como você subiu com tanta facilidade na árvore ontem a noite? 

-Odeio pressão, tudo bem. - Cris levantou as mãos como sinal de rendição a companheira de viagem. - Tenho uma mutação, por favor não pense que eu escalo paredes, ou as derrubo, é só uma força um pouco maior do que as pessoas que são " normais" - disse isso fazendo as "aspas" com as duas mãos.

-Isso é engraçado. Quer dizer, é mágico.

-Não é magia, é ciência.

-Foi algo retórico.

-E seu pé? -ela perguntou ignorando totalmente o que Dina havia dito a três milésimos de segundos atrás.

-Doendo e roxo. Mas mudando de assunto eu acho que já estamos perto de encontrar os nativos. 

-Eu acho que não, devemos ter andando somente uns quinze quilômetros.

-"Somente", você é doente Cristy.- As duas começaram a rir, e Cris começou a mexer na bolsa, procurando algo.

-Aí, desculpa por hoje mais cedo.- apesar de durona era uma pessoa legal.- Toma, olha o que eu achei dentro da minha bolsa. - Cris esticou a mão para ela, entregando um relógio, numa cor de ouro envelhecido e que parecia estar novo.- é que sabe, já que você me deu a arma, nada mais justo, eu acho.

-Tá novinho né?

-É que meu pai me deu antes de viajarmos pra cá.

-Por falar em pais, estou com saudade da minha mãe.

-Vamos continuar andando, só assim a gente esquece os possíveis problemas. - aparentemente a comandante havia voltado.

-Você que manda.

   Dina encaixou o relógio no pulso e viu as horas: 15 : 12 , havia razão de minhas pernas estarem bambeando, pensou. Andaram muito, sem parar nem se quer para respirar direito, o suor agora já não contia-se apenas no rosto, mas também nas costas e no pescoço, as gotas desciam livremente. O chão ficava cada vez mais irregular, o terreno era úmido e cheio de pedras e folhas das árvores (elas deviam ter uns 6 metros e também possuíam uma folhagem bem esverdeada, com musgos em seus troncos). O sol começava a se pôr e elas subiram em outra árvore, dessa vez mais baixa, em decorrência do pé da garota.


***


   A noite já havia chegado, a janta das duas havia sido ervilhas (que por sinal estavam horrivelmente horríveis), tudo estava parado e quieto, novamente como na noite anterior, mas antes que Dina fosse fechando os olhos viu algo,  cutucou Cris e apontou para lá.

-Você tá vendo aquilo?

-Não, aonde?

-Na sua direita, na árvore

-Pera, acho que vi, isso é estranho, na verdade não é essa a palavra, bem, talvez inusitado.


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