A cirurgia.

64 1 2
                                    

  O dia mais temido chegou. Será que ele nunca mais irá andar? Não! Eu não posso deixar eu não suportaria. Fiz minha oração, dessa vez apresentei Guilherme.
  Horas antes da operação fui ao quarto dele para o encorajar,mas nem precisei,ele estava confiante.

- Júlia! Que bom que você veio. Achei que você não se importava comigo.
- Como não? Eu vim te visitar assim que fiquei sabendo do acidente.
- Achei que só veio para ouvir minha explicação.
  Sai do quarto, não queria discutir com ele naquele momento. Dani decidiu ir até o quarto,mas ela estava com medo e tive que acompanhá-la.

- Danielle tenho algo muito sério pra te contar. Além da cirurgia eu tenho que fazer um tratamento.
- Eu sei você pegou uma bactéria.
- Não, na verdade eu estou doente já faz dois meses e vou ter que mudar de estado.
- Por que não me contou nada antes?
- Porque não queria te deixar preocupada.
- E como acha que estou agora?
 
Ela debruçou a cabeça sobre Guilherme e os dois começaram a chorar.

Já era hora. Ele foi levado até o centro cirúrgico. Eu fiquei conversando com uma garotinha de 7 anos enquanto a cirurgia acontecei. O nome dela é Ana Vitória,ela estava internada,pois teve uma crise. Ela tem leucemia, mas ainda está no estágio inicial e os médicos disseram que ela tinha chances de "viver bem". Os pais dela descobriram a doença há uns 8 meses,tinham muito medo de perder a única filha, por sorte eles conseguiram uma vaga na quimioterapia,mas a Ana estava triste porque ia perder o cabelo.
Meu cabelo é longo,liso e escuro, sempre tive vontade de doar, porém meus pais não deixavam.
A cirurgia durou 2 horas,e a Aninha passou quase 1 hora penteando meu cabelo e dizendo o quanto ele era lindo. Aquilo me partia o coração.
A operação já havia terminado,fui junto com a mãe de Guilherme ver se tudo tinha ocorrido bem.

-  Deu tudo certo Flávia.
- Graças a Deus.
- Ele tem que ficar de repouso por 2 semanas,isso já é o suficiente.
- Obrigada doutor.
- Esse é o meu dever.
  Subimos até o quarto,mas ele estava dormindo.

- Júlia,obrigada por ter ficado até a cirurgia terminar. Vocês devem ser ótimos amigos.
- Não precisa agradecer,eu me preocupo com ele. Sim somos bons amigos.
- Você deve estar cansada, já pode ir se quiser. E muito obrigada.
- Sim,tenho que ir,minha mãe já deve estar com os nervos a flor da pele.
Sai daquele ambiente ruim. Não gosto de hospitais e nunca conseguiria ser médica, mas admiro esses profissionais, até porque eles salvam vidas todos os dias.
  Finalmente cheguei em casa. Peguei o celular e tinha muitas mensagens! Eram de Rafael. Nossa,com essa correria esqueci dele. Comecei a responder.

"Oi Rafa,desculpe,eu estava no hospital e deixei o celular em casa".
"Tudo bem ".
"Você queria me falar alguma coisa?"
"Eu posso passar na sua casa?"
"Pode sim".
"Então até mais,beijos".
"Até".

Quando fui pra sala ele já estava lá conversando com a minha mãe, até achei estranho porque ela não gosta de visitas inesperadas.

- Oi Rafa. Como você está?
- Estou bem Jú. E você? Eu estava preocupado contigo. Você não respondia minhas mensagens.

Minha mãe foi para o quarto e nos deixou sozinhos.

- Eu estava com a mãe do Gui,no hospital.
- Como ele está?
- Ele já está bem, a cirurgia foi bem sucedida.
- Ainda bem, embora ele não fale comigo, eu me importo com ele.
- Eu sei.
- O que você tem?
- Estou triste.
- Por que?
- Porque conheci uma garotinha que vai perder o cabelo por causa do câncer. Ela se apaixonou pelo meu cabelo,mas meus pais não me deixariam doar.
- Você quer fazer isso?
- Sim,meu cabelo é longo e irá crescer de novo.
- Eu converso com a sua mãe e consigo um bom salão para cortar e fazer a peruca.
- Você faria isso?
- Eu vou fazer isso,não gosto de ver as pessoas que amo,triste.
  Dei um abraço bem forte nele e ele retribuiu e me deu um beijo na testa.
- Vamos ao cinema?
Droga,o convidei na emoção do momento.
- Mas eu que deveria te convidar. Júlia, você gostaria de ir ao cinema comigo? Sei que sou um cara chato, mas o cinema é legal.
- Bobo,se sua intenção era me fazer rir,conseguiu. Vou me arrumar e já vamos.
- Quando você diz "me arrumar", significa "me maquiar"?
- Sim.
- Você não precisa disso. É linda de qualquer jeito.
- Você está me deixando com vergonha,mas tudo bem vou assim mesmo.

- Vou comprar a pipoca e você fica escolhendo o filme.
- Pode ser romance?
- Pode ser qualquer um,as damas tem prioridade.
- Você é sempre tão gentil, sua namorada tem muita sorte.
- Namorada?
- Sim,não adianta negar. Você é lindo,com certeza tem namorada.
- Eu vou comprar a pipoca antes que a fila fique grande.
  Por que será que ele não quis continuar o assunto? Talvez ele não goste muito de falar sobre coisas do coração.

- Já comprei as pipocas e os refrigerantes. Já escolheu  o filme?
- Ainda não, os que estão em cartaz não são legais. Só tem de zumbi.
- Filme de zumbi é legal.
- Só se for pra você, embora eu queira ser roteirista de filme de terror, tenho muito medo,principalmente de zumbi.
- Eu vou estar ao seu lado.
- Melhor não, você vai me ver chorando.
- O que tem demais em chorar?
- Não quero.
- Tudo bem.
- Desculpe, mas eu tenho muito medo.
- Tudo bem Jú,eu entendo.
- É melhor a gente ir embora.
- Se é isso que você quer, então vamos. Não vou te obrigar a ficar.
  Já estávamos na fila da bilheteria e ele já havia comprado a pipoca,mas eu não queria ficar lá. E agora? Ele estava sendo tão atencioso,um fofo e era um ótimo amigo. Assistir o filme como gratidão seria uma boa ideia,mas iria me sentir mal.

A Paixão De Uma AdolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora