Capítulo 6

498 20 10
                                    

Eu abri meus olhos lentamente, sentia minha cabeça girar. Uma luz forte e branca, distorcia minha visão. Pisquei algumas vezes e, finalmente, abri meus olhos. Olhei. Olhei. Fui assimilando as coisas devagar, bem devagar. Estava em um quarto de hospital, tudo era realmente branco ali. Alguns quadros de pinturas modernas enfeitavam o quarto pálido. Pude observar que havia uma pessoa ao meu lado. Minha mãe. Mãe... Minha mãe chama-se Maria . Ela é uma mulher com 42 anos de idade. Eu era parecidíssima com ela. Era clara, branquíssima. O cabelo negro era como o meu, porém, o dela caia em ondas nas pontas. Eu achava o cabelo mais lindo do mundo. Minha mãe era a mulher mais linda de todo o mundo. Ela devia ter uns 10 centímetros a mais que eu e seus olhos eram bem verdes, verdíssimos, um verde maravilhoso. Brincava com ela dizendo que foi egoísmo ela não deixar mais daquele verde em meu olhar. Ela sorria e dizia que os meus olhos eram os mais lindos de todo o mundo. Dona Maria era a mulher mais afável e carinhosa que já existira. Era simplesmente impossível não amá-la. Apesar de ser viúva e já ter passado por maus bocados, ela transmitia aquela áurea de mãe perfeita, que nada a abala. Ela estava me olhando com um sorriso tão bonito. Seus dentes branquinhos combinavam perfeitamente com aquele quarto branco. Voltei a realidade. Levantei minhas mãos para encostar meus dedos nos seus e ela os segurou firme. Sua voz era de fada. Deliciada. Eu amava Maria.
- Minha filha, minha Mel. Me diga, como você está se sentindo? - Ela disse tocando minha face com a outra mão, como se eu fosse um bebê. Ela passava apenas as pontas dos seus dedos finos em meu rosto. Eu não sabia como eu estava. Eu estava... Vazia. Lembrava do médico me dizendo aquelas palavras e elas pareciam facas afiadas que rasgavam o meu cérebro e o meu coração. Eu a olhei e pude ver amor transbordando de seus olhos, podia sentir seu amor emanando sobre mim.
- Eu estou vazia, mamãe. - Eu disse com uma voz fina, quase imperceptível. Ela continuou me olhando e seu sorriso se desfez.
- Eu conversei com o seu médico Hector Hall e ele me contou o resultado de seus exames. Você precisa ficar calma, meu doce. Você desmaiou em meio a uma crise nervosa. O doutor virá conversar com você em instantes. Vai ficar tudo bem, confia em mim. Você sabe que existe tratamento e você fará todos possíveis. Terá o apoio da sua família e seus amigos. Aliás, Thais e Jonathan estão na recepção querendo ver você, minha princesa. Você precisa ficar bem. Você vai ficar bem. Estamos com você, minha eterna Capitu. - Minha mãe soltou essa fala com uma voz tão calma que deixaria bem até um suicida em cima de uma ponte. Ela abaixou sua cabeça e encostou sua testa na minha e fez um beijinho de esquimó comigo, batendo suavemente a pontinha do nariz com a minha. Eu correspondi e, por mim, ficaria naquela posição para sempre.
Como tudo que é bom dura pouco, em minutos o doutor entrou no quarto. Eu o olhei com vergonha, me lembrava que havia o batido - apesar de, eu, como minha pouca força, não havia feito nem cócegas nele - e isso me deixou realmente constrangida. Seu olhar estava calmo assim como sua expressão, seus dentes estavam a mostra e isso me deixava um pouco melhor. Eu realmente gostava do seu sorriso. Assim que ele se aproximou da cama eu comecei a me desculpar desesperadamente, havia muita verdade em minhas palavras.
- Ei, minha querida, fique calma! - Ele começou a falar. - Está tudo bem, sua reação é extremamente aceitável e altamente comum, está certo? Está tudo bem. - Eu respirei aliviada, pelo menos eu não era a única que tinha uma crise nervosa com uma notícia dessa. - Bom, eu estou aqui para esclarecer todas as suas dúvidas. Vou falar e, caso falte algo, você pode perguntar, está bem?! Mel, não sabemos a origem da sua doença. Você não estava entre o grupo de risco, teremos de investigar a causa. Bem, vamos falar de como será sua vida a partir desse momento. Você será submetida a mais exames para termos certeza do tipo correto de tratamento. Por hora, suspeitamos que você esteja como o que chamamos de Leucemia Aguda. Não ficarei explicando termos técnicos, temos que ser práticos e ágeis. Não serei hipócrita em dizer que sua doença não é grave, porque, infelizmente, ela é. Contudo, faremos tudo, eu digo e repito, tudo que for possível e impossível para te curar. Você terá uma junta médica para cuidar de você e o apoio de amigos e familiares é realmente importante, está bem? - Ele olhou rapidamente para minha mãe, que assentiu de forma rápida, porém confiante. - Pois bem Mel, você ficará alguns dias aqui no hospital para fazermos todos os exames necessários para sabermos o exato tratamento. Você estará anestesiada em boa parte deles, não se preocupe com a dor. Começaremos amanhã pela manhã, darei mais detalhes para sua mãe sobre o internamento. Agora eu te peço, fique calma que tudo dará certo. Confie em mim e eu confio que você vai ficar bem, eu sei que você é uma mulher jovem, forte e tudo dará certo. Você confia em mim ? - Ele me olhou e deu aquele sorriso que me confortava. Assenti e olhei fixamente em seus olhos. Ele entendeu. Ele sabia que eu estava confiando minha vida em suas mãos. O doutor afagou minha cabeça e logo saiu, levando minha mãe consigo para tratar de outros assuntos. Eu respirei fundo e me afundei na cama, digerindo cada palavra que eu havia escutado. Tentava me fixar nas palavras de ânimo que ele me dera, ele estava confiante, logo, eu também deveria ficar. Olhei para a janela e fazia frio lá fora, flocos de neve caiam na cidade gelada de Nova York. Pude observar que havia algo diferente na cidade e logo assimilei. Era Natal. Que belo presente eu havia recebido. Feliz natal, Mel, você está com câncer no sangue.

Até Que A Morte Nos Separe (Livro Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora