Em breve

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10:46- Por mais medo que tivesse não achei que fosse ser tão difícil. Quero dizer, a igreja que tia Vivian frequenta é só de brasileiros, logo inglês era a última coisa que eu precisava me preocupar naquela noite.

Pois bem, de fato não me preocupei com isso, mas com todo o resto...

Primeiro que a ida até a igreja teve seu toque de tortura, pois Vini foi quem me levou já que seu castigo também está sendo ter que ajudar em qualquer coisa que o pastor precise lá.

Durante todo o caminho meu primo ficou exaltando o quanto as crianças do lugar eram diabólicas e que eu me preparasse. Pois é, acho que Vini está começando a se enveredar pelo lado do terror psicológico, porque se ele queria me assustar, de fato conseguiu. Cheguei na igreja já achando que iria ter que enfrentar o apocalipse em forma de crianças.

Ao entrar no lugar, que parecia mais um centro de conferências, Vini me apresentou ao pastor que foi muito legal comigo embora eu tenha certeza que ele estivesse pensando, depois de o terem contado sobre minha fuga, o quanto devo ser uma alma desviada.

Mas a vergonha ficou para trás assim que entrei na sala das crianças porque ela acabou dando lugar ao desespero.

O local era fofo, com paredes azuis pintadas com nuvens brancas e eu estaria no céu se o número de crianças não tivesse me assustado. Eram pelo menos quinze, de várias idades.

Todas já estavam nas mesas fazendo algazarra quando cheguei e o pastor Israel apenas me apresentou a elas, não me passando o que de fato importava: o manual de instruções pra cuidar da gurizada. Então fiquei lá parada sem tomar iniciativa alguma, quando ouvi o som do culto começar.

Eu sabia que tinha que fazer alguma coisa por isso disse um "oi" fofinho no estilo apresentadora-retardada de-programa-infantil ao que fui solenemente ignorada como se fosse uma pedra.

Daí alguns meninos que deviam ter uns três ou quatro anos começaram a brincar de lutinha no chão. Ainda falei com delicadeza para pararem, mas nenhum deles me ouviu e foi nesse momento que uma onda elétrica, ou um anjo torto passou, pelo lugar e simplesmente todas as crianças pequenas começaram a correr uma atrás da outra pela sala.

Um menininho que estava com uma etiqueta na blusa onde ostentava o nome João Victor caiu no chão e começou a berrar. Fui ajudá-lo e esse foi o meu erro. Porque colocando os olhos em uma criança apenas você acaba se esquecendo de todas as outras ao redor. E elas pareciam ter como meta de vida quebrar a sala da igreja naquela noite.

Gritei com cara feia para todas pararem mas, claro, não fui ouvida. Porque elas estavam gritando muito mais alto, daquele jeito em que você precisa tapar os ouvidos se ainda tiver amor aos seus tímpanos. Tentando ao menos fazer João Victor parar de chorar o levei até o banheiro da salinha e lá quase tive um treco.

Duas garotas estavam lavando as mãos com sabonete... e molhadas dos pés à cabeça, além da pia estar recoberta por um mar de espuma.

Botei todo mundo pra fora e tentei jogar parte do sabão no vaso enquanto João berrava no meu ouvido parecendo estar num duelo de falsete com um amigo imaginário.

Quando voltei com ele mais calmo para a sala meu coração quase parou. Algumas crianças estavam em cima das mesas enquanto uma outra tinha enfiado uma bolinha de gude na boca e uma terceira, no cantinho da sala, desenhava com um pilot no rosto de outro amiguinho.

Em trinta segundos gritei para descerem, apertei a boca da criança para que ela golfasse a bola antes que engolisse e peguei a canetinha da mão da outra desmiolada.

O diário (internacional) de Babi 2 -New AmericanaOnde histórias criam vida. Descubra agora