Juro que não odeio acordar cedo. Gostar, porém, já é uma palavra muito forte para ser usada aqui. Só acho que manhãs deveriam vir com uma advertência semelhante à daqueles remédios soníferos de tarja preta:
"Atenção, cuidado ao manejar carros, operar máquinas pesadas ou dirigir sua vida."
Porque manhãs são soníferas mesmo. Não há como negar. Ao menos saber que eu iria encontrar o Théo em menos de meia hora me deixou ligada. Eu já estava pronta e sentada no degrau da porta de tia Vivian roendo todas as unhas enquanto olhava para a entrada da rua quando o carro dele apareceu.
Gritei para Ana sair e já estava indo em direção ao carro dele quando mamãe me mandou entrar para me dar o dinheiro do lanche. Ela ainda está me punindo com seu silêncio, mas o rompeu para dizer como eu deveria me comportar na Odyssey High.
Nessa altura Théo já estava buzinando.
Pelo jeito que corri para fora parecia que estava louca pra começar logo meu primeiro dia de aula o que não era verdade. Meu motivo era outro.
Ao abrir a porta vi Théo encostado em seu carro, de braços cruzados sorrindo. Os olhos azuis estavam escondidos por trás dos raybans e mesmo assim ele continuava impecável.
Como Ana já estava dentro do carro dei uma corridinha até ele e abracei Théo como se não o visse desde o ano passado.
"Sentiu minha falta?" perguntei o encarando ainda que presa em seus braços.
"Essa é uma daquelas perguntas em que a resposta é óbvia, mas a outra pessoa precisa ouvir, certo?" ele disse sorrindo pra mim.
"Você é um bobo." Soquei seu peito de leve.
"E você é linda." Ele rebateu.
E o beijo que me deu em seguida preencheu a falta que os lábios dele me fizeram todos esses dias. Naquele momento esqueci que havia gente no carro ou que minha mãe poderia estar olhando pela janela. Queria aproveitar o Théo o máximo que pudesse, afinal, separados por várias matérias eu não sabia que horas o veria de novo. A única certeza que eu tinha era que era bom estar nos braços dele outra vez, anestesiada pelo cheirinho leve de shampoo que saia de seus cabelos ainda úmidos.
Quando nossos lábios se separaram ele ainda deu um beijinho na ponta de meu nariz e sorriu. Uma música começou a tocar, era "love is in the air", e vi que vinha de dentro do carro, mais precisamente do celular de Fábio que ria no banco traseiro ao lado de Ana.
"Há-há. Muito engraçado." Théo disse para o amigo meio que rindo e eu abri um sorriso também até perceber que havia outra pessoa no carro.
Megan, a meia-irmã de Théo estava no banco dianteiro e exibia uma expressão de desgosto em nossa direção.
Fingi que não a tinha visto e quando Théo me disse para entrar no carro dei a volta para me sentar no banco traseiro. Porém, Megan saiu e, me lançando um olhar mortal, sentou no lugar onde eu achei que iria. Então acabei ficando com o banco do carona ao lado de Théo.
Depois de cumprimentar o Fábio e falarmos um pouco sobre as matérias que cada um tinha pego chegamos em minutos à Odyssey High. Mesmo o estacionamento sendo grande, procurar uma vaga não foi fácil.
Segundo Théo aquela era uma das maiores escolas da região, tendo 3 mil alunos, o que fez todo o sentido pra mim quando vi a quantidade de pessoas no lugar.
Já do lado de dentro, enquanto Fábio procurava por seu armário, Théo e Ana me ajudavam a procurar o meu, pois segundo eles eu nunca o encontraria sozinha dado o tamanho do prédio e a quantidade de pessoas que circulam pelos corredores.
Falando sério, tem tanta gente nessa escola que assim que você consegue um pedacinho de chão tem que cercar, botar um boizinho e construir uma casa para poder chamar de seu. Caso contrário, é empurrado, recebe um belo de um pisão no pé e a frase que já decorei em inglês "você não olha por onde anda?"
Ao achar meu armário decorei sua senha e depois fui com Théo e Ana ao deles. Minha ansiedade ainda não tinha sido aplacada e meu coração ricocheteou no peito quando os auto-falantes da escola começaram a veicular a mensagem de um homem com uma voz grave.
Sem entender nada, apenas fui guiada por Théo e minha prima até o auditório onde ela encontrou algumas de suas amigas, inclusive Britt. Nos sentamos nas cadeiras apenas algumas fileiras atrás de Megan, sua amiguinha Zoey (que havia acabado de chegar) e mais umas três garotas que pareciam fazer parte do grupinho delas.
Com o auditório lotado um homem subiu ao palco e depois de chamar a atenção de todos começou a discursar pelo microfone.
Eu não estava entendendo nada, mas pelo visto não era a única. As pessoas na plateia também estavam com expressões de que algo estranho estava acontecendo.
Pedi a Théo para me explicar e ele fez uma espécie de tradução simultânea enquanto o homem falava.
"Bom, segundo o cara ele é o novo diretor da escola. E vamos ter um ano letivo diferente de antes com algumas modificações para que a Odyssey High volte a ser uma escola de conceito A, pois estamos há dois anos com conceito C. E isso pra ele é inadmissível." Traduziu Théo.
"O que será que isso significa?" perguntou Fábio.
E pelo silêncio e rostos perplexos entre os alunos da Odyssey eles também queriam saber.
"Parece que vamos ter um ano escolar atípico." Minha prima suspirou.
"É isso mesmo que eu ouvi? O cara tem uma formação em política de segurança?" uma das amigas também brasileiras de Ana se manifestou.
"Ué. Mas para ser diretor não tinha que ser formado em pedagogia ou algo assim?" Fábio se inclinou para nos encarar.
O homem ainda continuou falando por mais um tempo no palco até que nos liberou para que fossemos para nossas salas.
Depois de sairmos do auditório Théo foi comigo e com Ana até nossa sala e me deu apenas um beijinho na testa antes de se despedir dizendo que se eu precisasse de alguma coisa era só mandar uma mensagem para ele. E agora eu estou aqui na aula de Inglês 2 enquanto Ana está sentada duas cadeiras depois de mim por causa de suas amigas e ouço o professor falar sem consiguir extrair um mínimo sentido em suas palavras.
Oh, não espera. Agora ele está olhando em minha direção enquanto fala. Espera, ele está falando comigo? Oh, Deus. Chegou a hora de enfrentar o inglês.
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O diário (internacional) de Babi 2 -New Americana
Teen FictionA vida não continua nada fácil para Babi. Agora, como moradora conformada de Orlando, ela é obrigada a enfrentar uma inimiga que, na sua visão, é muito pior do que qualquer bruxa de contos de fadas: a língua inglesa. E essa luta só piora ainda mais...