O tempo não tem a única função de amenizar; ele pode também intensificar.
Começava a ficar sufocante para Milena viver naquela casa junto daquele homem. Qualquer barulho ou cheiro que ele exalava eram suficientes para fazer Milena transpirar. Por conta disso passava a maior parte do seu tempo na rua, tentava retornar apenas próximo ao horário de dormir. Torcendo para não o encontrar sentando em sua poltrona na frente da televisão.
Milena estava deitada em sua nova cama colocada propositalmente próxima à janela. Não estava ali quando chegou há uma semana. Mudou para perto da janela no segundo dia, quando no primeiro não pregou os olhos devido ao calor que sentiu por todo o seu corpo. Quem sabe a brisa da noite fazia tudo aquilo sumir. Doce ilusão de uma menina que se tornava uma mulher.
O silencio foi interrompido pelas vozes que vinham da caixa colorida do andar de baixo. Mark havia chego. Tarde dessa vez. E não estava com sua moto barulhenta. Aquilo intrigou Milena. E sem dar conta da forma como estava vestida desceu as escadas.
Mark estava lá sentando tomando um gole de sua companheira inseparável nesses últimos 16 anos de ausência em seu lar. Havia tomado algumas no bar do único e verdadeiro amigo que fez quando chegou à cidade grande. Esse o proibiu de vir guiando, apesar de ter visto em estado pior em cima daquele troço endiabrado.
Mark soube que outra companhia chegava. Ele conseguiu ouvir em meio aquele barulho estridente que saia de sua televisão os passos de Milena pela escada. Não piscou. E como conseguiria depois de avistar a mulher que vinha roubando sua sanidade e prudência.
Milena estava lá com sua roupa – ou não roupa – de dormir. A regata azul-marinho sem sutiã. Para que uma garota de 18 anos precisaria de sutiã? Objeto totalmente inútil. E uma daquelas calcinhas maiores. Quando Mark viu aquilo da primeira vez em alguma propaganda se perguntou: por que uma mulher usaria tal coisa? - e ali estava à resposta lhe provocando bem de frente ao seu nariz.
Mark mesmo com a cabeça cheia de cerveja levantou com tamanha rapidez que Milena apenas percebeu o que estava acontecendo quando a língua daquele homem que a deixava as noites em claro invadiu a sua boca sem pedir licença.
- Porque fez isso? - Milena ainda em choque perguntou ao homem assim que esse permitiu que voltasse a respirar.
- Não é algo que saberia responder. Apenas me desculpe.
O homem com vergonha pelo seu ato impensado, ou seria pensado? Afastou da garota que ainda recuperava o fôlego. Nunca ninguém havia lhe beijado daquela forma tão intrusiva. Mark praticamente conseguira invadir os seus pensamentos mais sórdidos apenas com aquele beijo, ficou imaginando o que ele faria se a tomasse por completo.
- Mark... - Milena sussurrou.
- Isso... É errado. – Mark deu dois passos em direção ao objeto que lhe levaria ao andar de cima – Olha menina, não deveria andar dessa forma pela casa. – foi então que de súbito a irritação tomou conta do seu raciocínio.
- O que? – Milena olha indignada para o homem – A culpa agora é minha se você não consegue controlar os seus impulsos? Bem típico isso!
- Se estivesse no meu lugar saberia o quanto é. Meu Deus... Eu poderia ser seu pai!
- Não estou acreditando no que ouvi! Foi isso mesmo? Ser meu pai? Em que mundo você vive?
- Naquele em que isso... – apontou para Milena em sua frente – é errado.
- Quer saber? Foda-se você! – Milena passa por Mark esbarrando o seu corpo contra o dele o que o fez desequilibrar e sobe para o segundo andar pisando firme na escada a fazendo ranger mais que o normal.
- Ei menina! – Mark atônito sobre tudo que estava acontecendo a segue.
- Para de chamar de menina! Eu não tenho quatorze anos! - Milena esbravejava.
- E também não tem idade suficiente para comprar uma bebida! - Mark também altera seu tom de voz.
- Entendi. Precisa de alguém que lhe compre bebidas, Mark? Acredito que não, isso você consegue fazer muito bem sozinho.
- Para aonde foi àquela garota que chegou aqui toda assustada...
- Foi para puta que pariu junto com a sua gentileza, carisma, charme... Sensualidade... – a voz de Milena começou a falhar à medida que ela enumerava o que achava daquele homem.
- Isso é muito errado... E estou fodendo para tudo isso!
Mark enlaça Milena pela cintura e a traz de encontro ao seu corpo gigantesco. Milena tentou se desvencilhar, mas assim que suas mãos tocaram em seu peito largo – aquele que ela já havia sonhado antes – não tinha mais volta. Estava da forma que gostaria de ter ficado assim que o viu retirando aquele maldito capacete.
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Não Estávamos Prontos [Completo]
NouvellesA garota deseja libertar-se de um destino comum, busca aventurar-se pelo mundo, deixar os laços para trás. O homem já teve sua cota de aventura, e agora o passado volta para lhe assombrar. Como agir? Uma história narrada em três perspectivas.