CAPÍTULO 2 - EDWARD
"O meu perdão não tornava o erro dele mais nobre, apenas tornava minha dor mais suportável "
Joguei a mochila em um canto e suspirei. Ouvi minha mãe conversando na cozinha, deveria estar no telefone com a Tia Helena, contando o quão maravilhosa era a cidade, e em como deveria ter se mudado antes. Saímos do interior do Colorado para morar com a minha Tia Helena, perto da capital, Denver. Quando optamos pela mudança, Tia Helena já havia preparado tudo, já que ela detestava morar sozinha, e que nos aguardava a tempo demais.
Tirei o tênis, tentando não pensar no quanto odiava o novo colégio. Deveria ter esperado o fim do ano letivo. Não faria amigos naquela altura do campeonato. Tinha que pensar em como manter minhas notas altas, mesmo vendo coisas tão diferentes. Não que a escola fosse mais difícil, ela só tinha diretrizes educacionais voltadas à outra área de conhecimento.
Um porre.
Desde que meu pai morreu as coisas ficaram difíceis para mim. Minha mãe tentou me tirar daquela dor, dizia que não foi minha culpa, que foi o estresse, que era apenas uma fatalidade. Minha tia Helena disse que mudar de cidade, faria com que as coisas se tornassem mais fáceis. Era difícil andar pelas ruas e receber os olhares maldosos dos vizinhos e conhecidos. E o bom de ter vindo pra cá, é que ficava mais perto da capital e ninguém me conhecia.
Morar com minha tia e minha mãe era bom, eu me sentia bem. Não tinha mais motivos pra ficar trancado dentro de casa. Era como o velho ditado, casa nova, vida nova. Eu estava disposto a viver essa nova fase, e não erraria outra vez, não cometeria novamente os mesmos erros. Eu tinha a esplendorosa liberdade de ser quem eu realmente era. Dormir era mais fácil na casa nova, ir à escola, ainda que penoso, era sensacional. Os alunos me evitavam, e ser invisível para eles era maravilhoso.
Quero dizer, quase invisível.
Fechei os olhos por um instante. O cheiro do jantar vinha da cozinha, minha mãe sem dúvida estava fazendo torta de pêssego. A minha favorita! Depois de alguns anos, eu tinha entendido que minha mãe cozinhava para aliviar o estresse. Ela variava de pratos simples de uma dona de casa, para pratos magníficos de um cozinheiro Francês. Meu estômago roncou. Não tinha comido no intervalo, passei todo o tempo escondido debaixo da arquibancada do colégio ouvindo música. Deixaria de ser radical e começaria a levar comida para o colégio, coisa que eu não faço desde o maternal.
- Nem ouvi você chegando - minha mãe disse um pouco distante, e eu escutei seus passos, vindo em minha direção. Só abri meus olhos quando senti seu rosto.
Minha mãe era sensacional. Lembro o que meu pai disse assim que a viu pela primeira vez: "Aquela moça vai ser a minha esposa". E foi. E eu era imensamente grato por aquilo. Seus olhos eram negros, assim como seus cabelos cor de ébano. Era delicada, com traços sutis e marcantes ao mesmo tempo, e lembrava uma princesa contemporânea. Suas mãos eram macias, capaz de me fazer pegar no sono em segundos só com seu toque suave.
Seu guarda roupa era repleto de vestidos floridos, amava flores mais do que qualquer coisa. Quando sorria, seus olhos sorriam também. E não havia nada que a deixasse tão brava quanto o desmatamento no ocidente. Ela que me inspirou, me acalmava e me amou, independente do que fizesse, fosse ou sentisse. Intelectualmente falando, sua formação era em história da arte e trabalhava restaurando peças danificadas em guerras, e foi assim que conheceu meu pai.
Meu pai, Alexander, era 1° Tenente, e foi encarregado de levar obras de artes francesas danificadas que estavam em posse de terroristas no Iraque. Minha mãe estava na faculdade, e foi convidada pelo seu professor para fazer parte do projeto. Dois anos depois desse dia ele a pediu em casamento. Eu me lembrava que eu gostava de olhar o álbum de casamento, e narrar a minha própria versão dos fatos. Um príncipe e uma princesa. Meu pai vestindo uma farda oficial do exército e minha mãe um vestido de baile branco, com uma renda suave e um véu longo e bordado. Era até doloroso me lembrar disso. Meu pai a amava incondicionalmente, e encarregou a mim a missão de cuidar dela quando estava fora. E é o que eu tenho feito até hoje, mesmo depois de sua morte.
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As Flores no Inverno [ROMANCE GAY]
Novela JuvenilPLÁGIO É CRIME COM FORÇA DE LEI NUMERO 9.610/98. "- Hey, não precisar ter medo - eu disse enquanto me aproximava com calma, com as mãos perto do rosto, mostrando que eu não queria feri-lo. Ele cedeu, procurou por minha voz, e caminhou com passos la...