CAPÍTULO 4 - EDWARD
"Tomei uma dose preocupante de autoconfiança e o resultado foi um temido fora"
Eu havia chegado em uma péssima hora.
Estava esperando na sala de estar, enquanto as pessoas conversavam calorosamente na cozinha, e Daniel dormia no quarto. Aquele garoto era sem dúvida um maluco! Eu deveria ter ouvido a minha tia e ter deixado pra falar com Daniel no dia seguinte. Quer dizer. Melhor ainda, poderia ter escutado a minha mãe e não ter me aproximado de Daniel. Era um pouco perturbador, não, era tudo muito perturbador. A forma como ele segurava o braço do xerife e como seus olhos ficaram sobressaltados e o rosto vermelho, da mesma forma como ele reagiu quando eu o tirei do lago.
Era como se eu não reconhecesse o rosto sereno dele. Como de um minuto para outro Daniel se tornasse uma fera e quisesse atacar as pessoas. Mas algo dentro de mim entendia que ele era diferente, que ele não era uma pessoa... Malvada. Os olhos verdes expressivos e os lábios finos. O rosto pálido. As mãos extremamente habilidosas. E em como ele sorria quando percebia que as pessoas o estavam olhando. Era triste como algumas pessoas conseguiam trazer o pior de si em seus melhores dias. Eu só queria que ele se sentisse um pouco mais confortável pra me contar porque se jogou em um lago um dia atrás! Havia tomado uma dose preocupante de autoconfiança e acabei levando um fora.
Sabe quando você tem a sensação de que não deveria ter feito algo ou estar em determinado lugar? Bem, eu estava tendo essa sensação naquele exato momento. Ainda conseguia me lembrar com clareza dos olhos verdes vidrados nos meus e a boca segurando um grito, um murmuro, um mínimo sussurro. Conseguia sentir meus nervos de aço se derreterem aos poucos, queimando as minhas entranhas, me deixando sem rumo e absolutamente confuso. Era como se eu soubesse que poderia sentir o que Daniel estava sentindo, todo aquele desespero, aquela raiva, o medo e finalmente a sonolência. Seu pai segurando seu pescoço em uma chave de braço, e sua mãe injetando um líquido turvo, e depois voltando a sua atenção para mim.
Estava sentado no lado esquerdo do maior sofá da sala. A televisão estava desligada. O silêncio era constrangedor. Enquanto me perdia em meus pensamentos, fiquei passando os olhos pela sala de Daniel. Era tudo meticulosamente ajeitado. O sofá era cinza como um céu tempestuoso, o tapete felpudo e branco como um poodle, as paredes com leves desenhos, como dunas de areia, de um lado uma televisão gigante e do outro uma parede repleta de quadros. Podia jurar que em uma deles deveria ser uma de Daniel ainda mais jovem ou criança, mas não havia nenhuma de bebe. O que era engraçado, porque eu havia ido morar com a mulher do meu pai ainda menino, e hoje a senhora Elizabeth, atualmente minha mãe, colecionava fotos minhas de quando eu era ainda recém nascido.
Ouvi a porta da frente se abrindo e depois se fechando com brutalidade. Deixei que até o último pelo do meu corpo se arrepiarem com aquela batida. E eu ainda achava que a minha família era problemática! Escutei passos atrás de mim e me virei. A mãe de Daniel andou lentamente até onde eu estava. Seus olhos pareciam calmos como o mar durante a noite. Ela parecia flutuar de tão leve que andava. Sua mão era delicada e pequena como uma bailarina em um espetáculo, e quando seus olhos cruzaram com os meus, parecia sorrir com a minha presença.
A mãe de Daniel sentou-se na poltrona e pegou o bordado que estava sobre a mesa. Ela respirava aliviada agora que as outras pessoas se foram, e Jack já estava em seu quarto, e eu só queria entender porque eu ainda estava esperando ali sentado. Ela passava a agulha lentamente e tentava prestar atenção no que estava fazendo. Tinha que dizer o quanto ela era bonita e simpática, como uma flor da noite, aquela flor que mesmo quando está quente não perde a graciosidade exercendo a sua força e resistência. Quando olhou pra mim e sorriu, eu me senti confortável, não como um estranho sentado num sofá de estranhos. A mãe de Daniel colocou o bordado no colo e passou a mão em alguns fios de cabelos soltos, e os ajeitou delicadamente atrás das orelhas.
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As Flores no Inverno [ROMANCE GAY]
Roman pour AdolescentsPLÁGIO É CRIME COM FORÇA DE LEI NUMERO 9.610/98. "- Hey, não precisar ter medo - eu disse enquanto me aproximava com calma, com as mãos perto do rosto, mostrando que eu não queria feri-lo. Ele cedeu, procurou por minha voz, e caminhou com passos la...