III

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Emma

Nos últimos dois dias tenho passado a maior parte do tempo no hospital em conversações com a equipa que me quer operar. O Liam tem estado a meu lado e ambos queremos ponderar todas as vantagens e desvantagens deste projeto. Não é fácil não ter o apoio da minha família, mas tendo pessoas que gostam de mim como o meu melhor amigo eu sei que consigo qualquer coisa.
Hoje a Dr.ª Catherine falou-me de algo importante. A microcápsula que querem incorporar na minha vista pode romper e aí estaria tudo perdido. Se isso acontecer terei de recorrer a outra cirurgia. Esta situação assusta-me um pouco, mas eu dou tudo para ver o mundo nem que seja por alguns minutos.
Agora encontro-me em casa deitada na minha cama a escutar os sons à minha volta. Sei que o Hatchi está a meu lado pois consigo sentir a sua respiração. Oiço a porta de casa abrir e duas vozes se ouvem, mas uma terceira se sobrepõe e automaticamente um sorriso em mim desperta. Levanto-me e o Hatchi ajuda-me a chegar à sala.

- Emma. Boa tarde. – A Anna vem abraçar-me.
- Boa tarde Anna. Então que fazes por aqui?
- Trouxe uma pessoa que queria que conhecesses.

Sinto uma presença atrás de mim e umas mãozinhas delicadas que envolvem num abraço.

- Emma... G-gosto tanto de ti. – O pequeno Luke continua a abraçar-me.
- Já conheces o Luke? – O Liam pergunta.
- Sim. Este pequeno anda lá no colégio. – Abraço o Luke aconchegando-o nos meus braços
- E eu a pensar que te ia apresentar o meu sobrinho e afinal vocês já se conhecem.
- Anna o teu sobrinho é tão meigo. – Falo enquanto afago os cabelos da criança no meu colo.
- Pena que tens uns pais que quase não se importam com ele. – Noto a sua voz triste.
- P-posso ir brincar com o Hatchi? – Pergunta o Luke.
- Claro que sim pequeno. – Sinto-o sair do meu colo.
- Amor, o teu irmão adora o filho pelo que dizes. – Liam diz enquanto o oiço pegar em algo. Deduzo que o telemóvel por sinal.
- Mas a minha cunhada tem andado tão distante dos dois.
- Porque não dizes ao teu irmão para vir aqui buscar o Luke. Assim sempre posso falar um bocadinho com ele.
- E lá está a minha pequena armada em psicóloga.
- Nada disso Liam. Apenas gostava de entender a ligação do Luke com o Louis.
- Muito bem eu vou ligar ao meu irmão e dar-lhe a morada.
- Só espero que ele não me queira estrangular.
- Liam, ainda não entendi esse teu medo do teu futuro cunhado.
- Nem queiras entender... Bom e que fazemos para jantar?
- Talvez a tua lasanha. Assim sempre conquistas o cunhado pelo estomago. – Rio quando sinto uma almofada sobre a minha cara.
- O meu irmão diz que dentro de meia hora está por aqui.

Óbvio que não contei nem ao Liam nem à Anna que já tinha conhecido o Louis. Não por esquecimento, mas porque não queria que eles fizessem perguntas. Além disso foi apenas uma conversa de circunstância. Mas é claro e confesso que a voz suave dele não me sai da cabeça.
Sinto alguém chegar perto de mim e sinto o Luke puxar-me para brincar com ele. É bom estar ao lado dele. Até parece que ele me dá a esperança que eu preciso. Transmite-me segurança e quando estamos juntos, sinto que nos ajudamos uma ao outro. O Luke é uma criança inteligente e se for devidamente acompanhado vai ultrapassar o problema de fala dele, assim como eu espero vir a ultrapassar a cegueira com a operação.
Não sei quanto tempo passou, apenas sou desperta da brincadeira quando a campainha toca e o Hatchi dá sinal de que é alguém seguro para mim.

- Posso juntar-me à brincadeira? – A voz do Louis soa bem perto de mim e do Luke.
- P-pai vieste?
- Claro que sim campeão. – Oiço o abraço deles e o beijo que suponho que o Louis tenha dado ao filho. – Olá Emma. Não sabia que te iria encontrar por aqui. – A sua voz sai com tom de espanto.
- É. Eu moro aqui. O Liam é o meu melhor amigo e dividimos a casa a alguns anos.
- Bom saber. E então que estavam vocês a fazer? – Pergunta e posso sentir que se senta a meu lado e bem perto.
- Estávamos a treinar umas palavras pequenas e rápidas de dizer. Certo Luke?
- Sim... A E-Emma estava falar e disse que eu ia aprender depressa.
- Então e que palavras já sabes dizer?
- A-algumas... Pai a mãe não vem jantar com a Emma?
- A mãe está a trabalhar. Depois vamos ter com ela. – Reparo na frieza da sua voz.
- Luke porque não vais ver o que o tio Liam e a tia Anna estão a aprontar na cozinha?
- Ok... - Oiço a correria pela casa. – Louis, posso perguntar-te uma coisa?
- Claro.
- A mãe do Luke não é muito presente pois não?
- Digamos que a Catherine ultimamente só vê trabalho à frente e mal tem tempo para a família.
- Sabes, o Luke precisa de toda a ajuda possível e nota-se que apenas tu o queres ajudar.
- Nada disso. Os progressos do meu filho devem-se a ti.
- A mim? – Falo meio atrapalhada.
- Sim. Eu desde que te vi com ele, sei que podes ser a ajuda que ele precisa. Quando está contigo ele é apenas uma criança feliz. Mas que tenta melhorar a maneira de falar. Ainda ontem depois de o ir buscar ele não parava de falar em ti. E em como gosta de ti. Obrigado Emma.
- Não tens de agradecer. Eu faria qualquer coisa pelo Luke e para vê-lo feliz.

Nobody Sees [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora