Capítulo VIII

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- E aí, Lia, beleza? - Ariela gritou lá de cima, sarcástica.

Lyanna continuava em choque. Era um daqueles raros momentos que ela não sabia o que fazer. Sentia-se tonta e impotente. Seus amigos e seu namorado estavam amontoados em uma jaula velha presa há, pelo menos, 15 metros do chão.

Ela estava dentro de um caixão imundo, num vestido de noiva ridículo, olhando para a cara de paspalho de Alfred e o sorriso assustador de Vlad. Ela queria destruir aquele sorriso com um chute em sua boca. Vlad gargalhou.

- Creio que isso não seja possível, meu amor. - Lyanna olhou-o confusa e, sem tirar o sorriso do rosto, o vampiro respondeu - Oh, sim, eu posso ler mentes.

Droga. Não podia ter paz nem mesmo dentro de sua cabeça.

- Creio que não.

- Pare com isso, seu doente. - Lia tentou cuspir em seu rosto, ainda que estivesse longe demais para isso, e, obviamente, não deu certo. Um pouco de baba ficou pendurada em seu lábio superior. Vlad fez careta.

- Tire a gente daqui! - Juliet gritou e, em resposta, Vlad rosnou, mostrando os dentes, seu rosto assumindo a feição de uma gárgula. Juliet encolheu os ombros e abraçou Zayn.

- Crianças ridículas, não calam a boca.

- Você é louco. - Lia tentou passar confiança em sua voz, mas era difícil vendo o rosto dele daquele jeito, vendo seus amigos correndo perigo (vendo a si mesma usando o vestido de um defunto).

- Você ainda não entendeu, não é? - Vlad disse com deboche - Seus amigos não vão sair daqui. Nunca. Suas carcaças - Lyanna fez careta ao ouvir termo tão nojento - apodrecerão aqui pra sempre. E você - ele apontou seu dedo branco e comprido em sua direção - será minha esposa.

- Filho da mãe! Me tire daqui! - Louis sacudiu as barras da jaula furioso, balançando os amigos junto.

Vlad sorria, tudo aquilo parecia estar divertindo ele. Alfred continuava quieto em seu canto, observando tudo com atenção.

- Mas, por que eu? O que eu tenho a ver com isso? - Lia perguntou, o desespero lentamente tomando conta.

- Achei que você fosse mais espertinha, querida Lyanna. - Vlad caminhou lentamente até seu lado esquerdo. Ela quis fugir, mas, assim que Vlad posicionou-se ao lado do caixão, o tempo pareceu parar. Algo a prendia na exata posição em que estava, não conseguia se mexer.

- Veja bem - ele começou - tudo me leva a crer que você é a reencarnação de minha querida esposa mortal Iliana. Acho que você e seus amigos puderam notar a semelhança - apontou para os quadros em volta do caixão - portanto, essa noite, eu trarei ela de volta.

Lyanna engoliu em seco. Sua voz saiu como um sussurro:

- Como pretende fazer isso?

Vlad foi aproximando-se até chegar ao pé de sua orelha.

- Eu vou trazê-la dos mortos.

Então, Lyanna desmaiou. De novo. Vlad revirou os olhos.

- Ela precisa desmaiar sempre? Que coisa. Alfred, me ajude aqui.

Alfred aproximou-se do caixão e, juntamente com Vlad, carregou a menina até uma pedra comprida. Acima dela somente a cortina da noite enfeitada com suas estrelas e uma lua cheia, enorme e amarela, pendurada bem no centro.

- O que eles vão fazer? - Alissa choramingou.

- Eu não faço ideia. - Liam respondeu, triste.

- Precisamos tirar a Lia de lá! - Kayla estava em pânico.

- Ela não está desmaiada - Louis disse. Estava calmo até demais.

- Como assim? - Niall perguntou.

- Ela está fingindo. - Ele respondeu - Está tramando alguma coisa. Eu sei disso.

Lyanna fez o possível para não se mexer. Tentava manter a respiração compassada enquanto ouvia Vlad e Alfred conversando. As chances daquele plano estúpido dar certo eram mínimas, mas ela precisava tentar. Quando Vlad virou de costas, Lyanna agarrou a primeira coisa que viu e socou em sua cabeça. Os segundos passaram devagar.
Ela esperava que Vlad caísse, sangrasse, chorasse, qualquer coisa - não entendia muito de vampiros de qualquer forma. Ele apenas ficou parado por alguns segundos. Girou seu corpo devagar e seus olhos assumiram o típico tom escuro sempre que ele ficava com raiva. As unhas das mãos, afiadas, prontas para rasgar e matar.

Lia deu um passo pra trás, tropeçando e caindo sobre a pedra. Bateu seu cotovelo com força, sentindo todo seu braço gelar. Apertou os olhos e soltou um gemido de dor. Vlad avançava lentamente, como um predador. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Alfred o chamou:

- Pare com isso, seu rapaz estúpido. - Puxou o cabelo louro de Vlad, trazendo-o para trás - concentre-se no plano. Não pode matar a garota.

Vlad tentou se recompor. Sua feição voltando lentamente "ao normal".

- Tem razão, Alfred. Me desculpe. O que seria de mim sem você, meu nobre amigo? - Vlad puxou Alfred para um abraço, este revirou os olhos.

- Isso, certo. Vamos começar logo o ritual.

- Não!

Vlad puxou sem qualquer delicadeza o corpo de Lyanna até estendê-la sobre a pedra novamente. Ela choramingou um pouquinho, seu braço direito completamente paralisado pelo impacto.

Lá em cima, os amigos continuavam tentando arranjar uma forma de escapar.
- Precisamos sair daqui! - Zayn disse.

- Me diga como, Super-Homem. - Ariela retrucou - Se saltarmos dessa altura, não vai sobrar ninguém pra contar a história.

- Alfred, me dê o livro. - O velhaco pegou um enorme livro de capa dura e entregou nas mãos de seu senhor.

- Vlad, espere! - Lyanna tentou falar.

- Tarde demais, garotinha. Precisamos continuar com isso.

- Não pode fazer isso, Vlad. Não pode trazê-la de volta.

- E por que não?

- Você não entende, não é? - Ela repetiu a frase que ele havia dito há alguns minutos atrás - é o ciclo natural da vida. Ela não tem culpa de que você é esse... - segurou-se muito para não dizer "monstro" - moço. Diferente.

Vlad revirou os olhos.

- Não queira tentar me enganar, você vai morrer e pronto. Seus amigos também.

- Ela morreu porque tinha que morrer, e você continuou porque foi amaldiçoado. - Lyanna tentou outra vez. E então Vlad parou. Os caninos aparecendo novamente.

- Não dê ouvidos a ela, Vladimir. Continue com isso já! - Pela primeira vez, a voz de Alfred alterou-se. As veias roxas de seu pescoço cor de mármore saltando.

- Vladimir. - Vlad repetiu. - Meu pai costumava me chamar assim. Você se lembra, Alfred? Antes de você me transformar nessa coisa.

- O QUÊ?!? - Todos gritaram em uníssono.

Alfred assumiu sua cara feia de sempre, as unhas ficando mais compridas e os dentes, mais afiados. Ele também era um vampiro.

Road to Transylvania (One Direction)Onde histórias criam vida. Descubra agora