Capítulo Dois

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Sentei-me na cadeira giratória, ainda com o telefone na mão, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

- Porque está ligando pra mim?

Minha voz era um sussurro, muito muito baixo.

- Lili.

- Porque está me ligando Nicholas?

- Eu queria perguntar se você vai vim no enterro da sua irmã.

- Como conseguiu meu telefone?

Ele suspirou.

- Meu pai é um dos contribuidores da Editora em que você é presidente, vamos se dizer que foi fácil.

- O que você quer?

- Lili, você vai vir no enterro da sua irmã não vai?

Olhei para o chão ainda com o telefone na mão.

- Não sei.

- Alice, você sabe que não pode faltar.

- Porque meus pais não me ligaram?

- Eu queria fazer uma surpresa pra eles. A perda da Sarah mexeu muito com a sua mãe, mas você sempre foi à favorita deles, então se você viesse seria como um presente pra eles.

- Não sei o que eu faria ai, se você sabe que não sou nada bem vinda.

- Porque você sempre tem essa mania de falar e fazer as coisas sem pensar?

Sua voz era rouca, e grossa. Não queria ouvi-la nunca mais, porque toda vez que ouvia, perdia meu ar.

- Nunca fiz nada sem pensar Nicholas.

- Então você já estava pensando em fugir antes?

Mordi meu lábio, droga, droga, droga.

- Tenho de desligar.

- Devia prever que você ia fugir da resposta, mas deixa, ouço ela, quando ver você no enterro.

- Eu não sei se vou ao enterro.

- Pensa nos seus pais, pensa em mim.

- Da última vez que pensei em você, não deu certo.

- Lili...

- Tchau...

Desliguei e soltei um suspiro. Não queria ir, mas ao mesmo tempo queria, ouvi na televisão que o enterro seria amanhã, então teria de me apressar se eu quisesse ir.

Disquei novamente o número da minha secretaria.

- Cássia?

- Sim Lili?

- Você pode arrumar o jato e um carro? Eu vou pra Nova York.

- Mas Lili...

- Cássia, por favor.

- Tá bom.

Ia sair no outro dia de manhã, estava fazendo isso por causa dos meus pais, não por ele. Sabia que o encontro seria inevitável, e era desse inevitável que eu queria fugir desesperadamente. Seria difícil voltar pra lá depois de alguns anos, ainda mais com a morte de Sarah, Nicholas não parecia estar tão abalado, pela sua voz, e eu sabia o que aconteceria se eu voltasse.

O resto do dia passou como uma lembrança esquecida. Não sabia o que ia fazer, nem o que estava fazendo. Só pensava no próximo dia, e no tempo que eu ia gastar fugindo. Seria difícil.

Deu a hora de dormir, me deitei, mas demorei a pegar no sono. Um desespero crescia dentro de mim, uma sensação ruim, algo estava errado, muito errado.

TRIIIIIIIM

O telefone tocava, o som estava diferente, monótono, me dava enjoo. Não atendi, sabia quem era.

TRIIIIIIIM

Ele não parava de tocar, coloquei o travesseiro em cima do meu ouvido, e fechei os olhos.

-Você não vai atender?

Abri meus olhos e me sentei na cama, e na minha frente parada, com a expressão de puro ódio estava uma garota, igual a mim, mas com os olhos azuis.

- Sarah?

- Sentiu minha falta?

Ela foi se aproximando da cama, me levantei e fui caminhando pra trás, o telefone ainda tocava.

- Você não ouse voltar.

Encontrei a parede e ela me ergueu pelo pescoço.

- Sarah...

- Você não vai poder voltar, se eu matá-la vai?

Ela sorriu e abaixei a cabeça, estava ficando sem ar, meus olhos estavam lentamente se fechando, lutava com todas as minhas forças, mas parecia que eram inúteis.

O telefone parou de tocar. Fui jogada no chão, e ela olhou para ele.

- Agora você vai atender e falar para o Nicholas que você não vai.

Virei-me para o telefone.

- Como você sabe que...?

Ela não estava mais lá. Olhei novamente para o telefone e devagar, caminhei até ele.

- Alô?

Já sabia quem era, tentei deixar minha voz normal, mas foi impossível, ainda estava com falta de ar.

- Lili...

- o que foi?

Ele demorou um pouco para responder

- Tive um pesadelo, com você.

Parei de respirar, sabia quem estava atrás de mim, e sabia o que ela queria.

- É?

Engoli em seco.

- É o que acontecia nesse pesadelo?

- A Sarah... Ela, meio que ia atrás de você, e fazia você caminhar por um precipício.

Fiquei em silencio.

- Nicholas, tenho que desligar, tá tarde.

- Lili, você vai ao enterro?

Suspirei.

- Já te disse que não sei.

Um espelho se quebrou atrás de mim.

- o que foi isso?

Respirei assustada e com olhos arregalados.

- Vamos se dizer.

Dei uma pausa.

- Que parte do seu pesadelo é realidade.

Desliguei o telefone.



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