Capitulo Quatro

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Distanciei da janela e sai do quarto.

-Lili volta aqui.

Não dei atenção e continuei andando pelo corredor.

-quem fez isso?

Me fez olhar nos olhos dele e depois passou os braços em volta da minha cintura, algo pior aconteceria ao mesmo tempo em que meu coração disparava. Esse contato, os olhos dele os cabelos me faziam querer beija-lo.

-Não vai me responder?

Respirei fundo, "foco Alice, foco, ele não é mais seu". Virei o rosto e olhei para um quadro na parede onde estava Sarah e Nicholas os dois no dia do casamento, ela sorridente e ele com um sorriso triste no rosto. Cheguei mais e notei que algo estava errado, Sarah estava radiante e ele estava com algo, não estava à vontade e seu olhar estava perdido, como se procurasse alguém no meio da multidão, então pela primeira vez me questionei se ele me amava quando escolheu Sarah, ou melhor, se fez isso pra me proteger de algo.

- Nicholas me diga uma coisa?

Virei novamente para ele. Olhei fundo nos seus olhos e respirei, um equivoco estava acontecendo, e pelo brilho que havia em seus olhos sabia que estava certa.

-Porque se casou com Sarah?

Ele desviou o olhar.

-eu tenho medo dessa pergunta.

-Nicholas... Está na hora de me contar não acha?

Ele piscou.

-Eu só queria os olhos negros enquanto eu só tinha os azuis.

Ele andou até a foto e passou os dedos pelo vidro.

-Esse foi o pior dia da minha vida. Sabe como é procurar a garota certa e não acha-la porque concordou com algo para poupa-la? Eu só tinha que te achar. Eu tinha de me explicar Alice e você não deixou, foi embora antes. Se você tivesse naquele casamento pode ter a certeza que eu teria fugido junto com você naquele dia.

Pisquei diversas vezes.

-Do que está falando Nicholas?

-Estou falando que eu nunca, nunca gostei da Sarah, ou senti um pingo de respeito. Sim eu era seu marido, mas não me via na obrigação de falar com ela, nem de vê-la durante o dia. Eu ficava até tarde no trabalho só para quando eu chegar ela estivesse dormindo, e antes dela acordar eu saia de novo.

Ele tirou uma foto desbotada do bolso. Reconheci meu laço azul, e reconheci cada traço de quando eu tinha 17 anos, meu sorriso contente mostrava felicidade, a felicidade que fui poupada durante anos.

-Que foto é essa?

Ele a encarou.

-tirei essa foto durante nosso ultimo encontro no parque. Era esse sorriso que queria lembrar quando eu escolhesse Sarah naquele dia, o mesmo sorriso que nunca mais vi, e a culpa disso era de Sarah.

Suspirei. Porque esse ódio todo de Sarah? Porque culpada? Num impulso arregalei os olhos, ele a matou? Seu ódio parecia enorme e sem medidas, e se... Ele tivesse provocado o acidente como forma de escape?

-O que foi Alice?

Dei um passo pra trás.

-Nicholas você não matou Sarah, matou?

Ele olhou a foto que estava na mão e depois para o quadro.

-Claro que não Alice! Eu não mataria Sarah.

-Você tem um pódio enorme pelo que pude ver.

-Porque ela me privou de você!

Respirava com dificuldade. Fechei os olhos, e senti o cansaço invadir meu corpo, eu queria que isso acabasse como tudo começou. Do nada.

-Eu estou tão cansada disso!

Dei as costas.

-Porque até depois de morta você me atormenta!

Falava pra paredes. Ou não. Eu sabia que ela podia me escutar.

- Estou cansada de todos os seus jogos Sarah! Porque não vai de uma vez e deixa-me direcionar minha vida para algo benéfico? Por quê? O que você quer? Ver-me louca?

Desabei. O ar fugia dos meus pulmões. Cansada, confusa e quase louca, sim ela estava conseguindo me deixar louca.

-Lili...

Nicholas passou os braços em volta de mim, e pude sentir seu perfume.

-Calma...

-Nicholas eu não posso ter calma! Sarah consegue controlar tudo até quando está morta, é estou casada disso, de cada jogo, de cada peça que ela move e manipula. Estou farta Nicholas! Farta!

Segui pelo corredor e desci as escadas, precisava sair. Eu precisava pensar. Nicholas gritava atrás de mim, mas precisava de um tempo sozinha para não enlouquecer e deixar Sarah me dominar. Não seria assim.

Caminhei calmante depois que deixei Nicholas para trás. O cheiro das margaridas me fazia sorrir, e me sentir bem por dentro, estava tudo voltando ao normal, ou pelo menos quase. A presença de Sarah era eterna, e não poderia contestar, mas deveria achar uma maneira de sair disso e dos jogos de Sarah.

Passei pela praça que eu brincava quando era criança. Fechei os olhos e deixei tudo o que era de ruim sair, enquanto me deixava levar pelo vento que bagunçava meu cabelo. Algo me dizia que isso tudo passaria, mas será mesmo?

Observei as crianças brincarem por um tempo.

-Mamãe mamãe me empurra no balanço?

Meus olhos brilhavam. Mamãe sorridente se levantou e me levou até ele.

-Você não enjoa desse balanço não?

Balancei a cabeça e sentei.

-Nunca mamãe!

Sarah estava sentada no banco. Observava tudo com certa ironia e encarava como se fosse fazer algo engraçado.

-Sarah porque não balança no outro e pede para o papai te empurrar?

-ótima ideia – disse mamãe me dando um beijo na bochecha – Vou chama-lo.

Mamãe saiu e me deixou sozinha com Sarah. O balanço estava parado e estava esperando ela voltar para me balançar, olhava para a nuvem distraída, quando num impulso fui empurrada para frente, sendo lançada no chão. Meus sete anos me permitiam chorar, então minhas lagrimas se misturavam com a terra do chão em que eu havia caído de cara. Rindo atrás de mim, como se tivesse se divertido, estava Sarah.

Levantei-me instintivamente e de repente caminhando em direção a minha casa. Não estava controlando mais meu corpo, algo estava errado, tentava, mas não conseguia parar. Então como em um lapso, notei o que estava acontecendo. Sarah, ela estava me controlando. Entrei em casa e senti algo mais forte no meu peito, subi as escadas e ignorei Nicholas quando falou comigo e perguntou o que eu estava fazendo, segui em frente. Com os olhos vidrados. Cheguei ao quarto e abri o guarda roupas, minha mão passava entre meus vestidos de 17 anos, e parou em um azul claro simples. O vestido que Nicholas me deu. Por dentro me debatia, gritava, mas não saia nem mexia nada. Vesti o vestido. Fui à penteadeira e encontrei meu laço azul que combina com o vestido, e da mesma cor do vestido não estava somente o laço, mas sim a cor dos olhos, azuis e furiosos como nunca vistos.


Perfeita ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora