Capítulo Um

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TRIIIIIIIIIM

Era o telefone, mas não estava com tempo de atender. Precisava me arrumar havia acordado atrasada para ir para a empresa.

TRIIIIIIIIIM

Parei de correr de um lado para o outro, havia alguma coisa estranha naquele telefonema, o toque estava diferente. Sorri, e bati na minha testa. Tudo pra mim ficou estranho depois de ter ido embora, então isso era meio normal.

Fiquei parada por um tempo ouvindo o telefone tocar. Depois resolvi ir atender, não sabia quem era, mas estava com medo, alguma coisa estava errada.

- Oi irmãzinha, sentiu minha falta?

Arregalei os olhos.

- Sarah?

Minha voz era tremula, estava tremendo da cabeça aos pés, sua voz era de arrepiar.

- Você achou mesmo que ia se esconder pra sempre?

- Na... Nã...

- Eu só quero que saiba de uma coisa. O Nicholas é meu e sempre será, até depois da minha morte, está escutando?

- Sarah, eu...

Ela ficou furiosa do outro lado do telefone.

- ELE É MEU! MEU!

Desliguei o telefone. Como ela conseguiu meu número? Sempre tomei muito cuidado para ficar longe do que possa me denunciar. Parece que dei um passo em falso.

Estava assustada. Não esperava uma ligação dela. Olhei para o relógio, ele marcava 7 horas.

Peguei o telefone, o mesmo que havia recebido a ligação, disquei o número da mesa da minha secretaria...

- Bom dia, Editora Entreinment, no que posso ajudar?

- Oi Cássia.

Minha secretária sempre foi muito eficiente, e também minha melhor amiga.

- Lili tá tudo bem?

- Bem, não, mas não queria falar por telefone. Só liguei para falar que não vou trabalhar hoje.

- Ok.

- Tchau.

- Tchau, se cuida Lili.

Desliguei o telefone e tirei a roupa de ir trabalhar, coloquei a roupa mais simples que eu tinha. Estava tonta e confusa e não era pra menos.

Deixei tudo para trás, queria fugir de tudo aquilo que me rondava, mas mesmo assim, tudo voltou quando ouvi a voz de Sarah. Aquela voz de deboche, de posse e de arrepiar. Com a lembrança dela, veio junto à de Nicholas, e era exatamente de quem eu mais queria esquecer, parecia absurdo, mas não aguentava ouvir o nome dele, tinha raiva, mas acima de tudo amor. Eu ainda o amava, e não aguentaria vê-lo sem me lembrar de tudo, e era desse tudo que eu queria esquecer, apagar da minha mente se fosse possível.

- Droga!

Lagrimas escorriam do meu rosto, lembrei-me da mamãe e do Papai, eles haviam pagado por algo que não tinham nada haver. Ficava imaginando como eles estariam, como se sentiriam se eu voltasse, acho que no todo, eles foram o que mais sofreram com minha ida, o que mais sentiram minha falta.

Decidi ligar a televisão, para me distrair, assisti a uma novela, alguns clipes de músicas e depois coloquei no noticiário.

"Após acidente de carro, integrante da família Johnson morre".

-QUE?

"Após acidente de carro que aconteceu ontem, Sarah Johnson, 22 anos, morreu, devido aos ferimentos."

- Ai meus Deus!

Como ela poderia ter me ligado, se ela estava morta? Como? Ai meu deus isso não é possível.

Deitei-me na cama. Estava pior do que antes. Estava ficando enjoada e parecia que ia ficar doente.

Não estava acreditando. Não poderia ser possível, ela me ligou!

Já ouvi dizer do telefonema dos mortos, mas será que sua obsessão era tão grande assim?

"Seu marido Nicholas Thomas não estava no carro, e não quer se pronunciar sobre o assunto."

Marido. Sarah sempre falou que nunca ia se casar cedo, mas pelo visto por Nicholas ela faz tudo. Ele era sua obsessão, sempre havia sido.

Levantei-me, eram mais de 11 horas da manhã, e eu ainda não havia comido nada, acho que nem conseguiria, mas tinha que comer para não passar mal.

Ouvi um barulho, estava sozinha em casa. Havia dado folga para as empregadas, e pelo jeito fiz mal. Caminhei até a cozinha, ouvia tintilares de algo batendo.

Fui seguindo o som até encontrá-lo, ele me levou até a cozinha.

Colheres estavam batendo sozinhas e a gaveta abria e fechava. Arregalei os olhos e procurei por quem estava fazendo isso, não tinha ninguém na cozinha, e nem na casa.

As colheres caíram todas de uma vez no chão. Fiquei parada por um tempo, depois recolhi as colheres, uma a uma, e as guardei na mesma gaveta, que abria e fechava.

Sentei em uma das cadeiras da bancada. Será que isso tem a ver com a...

Não, nada a ver, já estou imaginado coisas.

Levantei-me e peguei um copo no armário, nunca havia tomado café tão tarde e estava com fome. Da geladeira peguei uma jarra de suco, e um pedaço de bolo.

O telefone do escritório tocou, caminhei até lá e o atendi.

- Alô?

- Você já deve ter ouvido no noticiário o que aconteceu.

- Desculpe, mas quem é?

- Não está mais conhecendo a minha voz Lili?

- Não...

Não ouvi retorno.

- Alô?

-- Você achou legal?

- Achei legal... O que?

- Ir embora daquela maneira e não avisar nem falar para onde ia?

- Quem está falando?

- Você achou mesmo que se esconderia para sempre?

- Quem está falando?!

- A essa altura você ainda não sabe quem está falando?

- ISSO É UMA BRINCADEIRA DE MUITO MAL GOSTO, SEJA QUEM FOR QUE ESTEJA AI DO OUTRO LADO!

Bati o telefone. Não sabia quem era, mas não queria mais receber ligações dele, e nem de ninguém, estava cansada, arrasada, Sarah havia morrido, e nem tinha visto ela uma última vez.

TRIIIIIIIIIM

Era o telefone, não queria atender, mas por um impulso o fiz.

- Alô?

- Desculpa, eu...

- Eu vou desligar!

- Não Lili, por favor, não desliga é o Nicholas, Nicholas Thomas.


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