Capítulo 2

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UNDERCOVER

[Niall's POV]

Era impossível comparar Londres a Irlanda, especialmente a um sítio particularmente pequeno como Mullingar. As ruas eram largas, enormes, as casas eram grandes, com vasos de flores nas varandas, as pessoas atarefadas andavam com o passo acelerado por entre as ruas, olhando para os relógios com pastas nas mãos. A temperatura estava amena, nem muito frio nem muito calor, apesar de estarem bastantes nuvens a tapar o Sol. Estava quase a chegar á Universidade, e o meu corpo estremeceu quando viu o placar "Universidade de Oxford - Sejam bem-vindos". Os estudantes encontravam-se todos á porta, a conversar com os seus colegas e a fazer novos amigos. Saí do carro e despedi-me dos meus pais, que não evitaram em dar-me uma lição de moral antes de ter virado costas e encarado aquilo que me esperava. Decidi entrar, com a cabeça baixa, para aquele edíficio enorme e depressa me deparei com uma pessoa atrapalhada, com uma data de livros nas mãos, quase a caírem, e um olhar assustado no rosto.

"-Precisas de ajuda?" – Perguntei, deixando ficar a minha mala de viagem no chão e aproximando-me do indíviduo que se encontrava de costas viradas para mim. Agarrei em dois dos seus livros e coloquei-os debaixo do meu braço.

"-Uh, ah, obrigado." – Acabou por responder, baixando a cabeça. Esse alguém vestia uma camisola com capuz, e um boné quase a tapar-lhe o rosto inteiro, o que me impedia de encarar a pessoa.

"-Sou o Niall." – Disse, sorrindo, enquanto estendia o meu braço. O que eu suspeitava ser um rapaz moveu-se desajeitadamente, como se não soubesse o que fazer, porém, quando olhou para mim e para o meu braço estendido, apressou-se a apertar-me a mão, como um gesto de saudação. Os seus olhos eram estranhamente escuros, quase como carvão. Não existia qualquer brilho neles, nem sequer um reflexo.

"-Tens uns olhos bonitos." – Disse ele, com a voz mais fina do que o habitual para um rapaz. Sorri como agradecimento, porém ele não me olhava. O rapaz evitava encarar-me, e apenas me apercebi disso quando afastou a cara e puxou o boné para a frente.

"-És algum vendedor de droga ou algo do género?" – Pude reparar nos seus lábios grossos, num tom rosado, quando ele se virou para mim e afastou uma madeixa de cabelo do rosto. Ele curvou uma sobrancelha e franziu a testa, num acto de confusão.

"-Desculpa?" – Perguntou, confuso.

"-Estás tão escondido, parece que estás a fugir de alguém." – Esclareci, reparando nos pequenos pormenores do seu rosto, embora isso fosse bastante díficil uma vez que o rapaz não parava de virar a cara. Havia qualquer coisa de estranho, como se ele não quisesse que eu o reconhecesse.

"-Desculpa, eu apenas não sou muito boa a fazer novas amizades." – Respondeu, e depressa algo desepertou na minha mente.

"-O que queres dizer com isso?" – Questionei, á espera de uma resposta que justificasse o facto de o suposto rapaz ter dito "boa" no feminino e não no masculino.

"-Significa que sou tímida, sabes, não curto muito de andar por aí a falar com toda a gente." – Voltou a repetir o mesmo erro e a encarar o teto, provavelmente a desejar que eu me fosse embora.

"-Podes-me dizer o teu nome, por favor?" – Não evitei um sorriso torto tornar-se evidente nos meus lábios e reparar no gesto de desconforto do rapaz.

"-Pronto, descobriste-me. Sou a Karol." – Nesse momento pude reparar no seu cabelo longo e ondulado, quando retirou o capuz, castanho como chocolate. Tirou o boné e apercebi-me das suas feições quase perfeitas, o seu queixo com uma pequena covinha, as suas pestanas longas e escuras, os seus lábios vermelhos e carnudos, bem como os seus olhos castanhos, quase pretos. Era extremamente bonita, da maneira mais improvável de sempre.

"-Sim, agora o teu verdadeiro nome." – Era fácil saber que estava a mentir. Apenas tinha falado com ela durante alguns minutos, no entanto havia reparado na forma em como ela pestanejava freneticamente quando não falava a verdade.

"-Como é que consegu-" – Ela não acabou a frase, pois reparou no meu sorriso trocista e soltou um longo suspiro. "-Caramba, falamos durante dois minutos e já me conheces melhor do que eu me conheço a mim própria." – Comentou, abanando a cabeça. "-O meu nome é Sarah, e estou completamente assustada com isto tudo."

Parecia que já tinhamos algo em comum. Reparei nos seus olhos. Em todo o seu corpo, era o que me chamava mais a atenção. Então eu baixei a cabeça, e esbocei um sorriso malicioso. Talvez a Universidade não fosse tão má como eu pensava.



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