Capítulo 4

5K 606 382
                                    

— Brad... — sua voz saiu como um sussurro fraco. Seus olhos ainda pareciam não acreditar no que viam e ela não piscava.

— Vocês... Se conhecem, Liza? — o homem olhou para mim e depois para ela.

— Sim... Esse é o... — gaguejou, piscando diversas vezes e passando as mãos nos cabelos.

Brad. — Lindsay respondeu sorrindo.

— Oh... Então você é o famoso Brad. — sorriu para mim — Lindsay contou a história incrível de vocês. De como você as salvou... Realmente impressionante. — percebi que seu sotaque era italiano.

— Era o mínimo que eu podia fazer. — respondi com o semblante sério sem tirar os olhos de Elizabeth que permanecia em choque.

As mãos presas na alça do carrinho pareciam tremer; a boca levemente aberta e olhos espantados. Será que me tornei um fantasma em sua vida? Uma lembrança ruim que ela não gosta e nem quer lembrar?

— Ah, que modos os meus... — voltei à realidade com a aproximação repentina do homem — Sou Carlo, noivo da Liza. — estendeu a mão.

Noivo? Como assim, noivo?

Olhei para trás vendo o olhar espantado de Lory que começava a entender algumas coisas.

— Essa é sua namorada? — Lindsay perguntou.

— O que? Não... — gargalhei — Essa é minha amiga, Lory. — trouxe-a mais para frente — Lory, essa é a Lindsay e aquela, Elizabeth.

— Muito prazer. — acenou discretamente.

— Bom, Brad, foi um prazer, mas nós precisamos terminar nossas compras. — o homem sorriu — Visite-nos qualquer dia desses. Será uma honra receber o homem que salvou minha noiva. — segurou a cintura de Elisabeth, que continuava petrificada.

O toque dele nela fez com que eu tencionasse o maxilar de raiva. Quem esse italiano pensa que é para tocar nela? Na mesma hora fui respondido com o noivo dela. Voltei à realidade com a aproximação do homem que estendeu sua mão para mim, fingindo que aquilo não me afetava de forma alguma e respondi:

— Digo o mesmo. — forcei meu melhor sorriso, apertando sua mão.

— Foi um prazer. — Lory sorriu, também apertando a mão dele.

Lory e eu caminhamos juntos até o final do corredor, pagamos nossas compras e fomos para o carro sem pronunciar uma palavra. Era óbvio que ela tinha um milhão de perguntas e mais um milhão de comentários, impressões e teorias, mas naquele momento ela sabia que eu não poderia responder nem pensar em mais nada além do choque de que tudo aquilo tinha realmente acontecido. Que, em uma simples e comum segunda-feira, depois de anos, eu reencontrei a garota com quem sonhei por meses — e me envolvi em um esquema criminoso e arrisquei minha vida —, completamente do nada, em um corredor de molhos do supermercado.

▪️ ▪️ ▪️

— Brad, fala alguma coisa, pelo amor de Deus! — Lory implorou assim que paramos no primeiro sinal vermelho.

— Acho que não há nada a ser dito. — continuei olhando para frente.

— Eu sei o que acabamos de ver, mas...

— Não tem "mas", Lory. Ela está noiva. Tem noção? Ela vai casar. Com aquele italiano maluco! — alterei a voz em completa indignação.

— Bem, você não sabe se ele é maluco. E acho que cinco anos foram o suficiente para ela superar. Vocês eram novos, Brad...

— Eu sei... Mas mesmo assim. Ela era diferente. Ela tinha uma coisa diferente. — olhei para minha amiga pela primeira vez desde que entramos no carro — Ela não mandou uma mensagem. Não fez uma ligação. Eu fiquei completamente no escuro sem saber se elas estavam vivas, se estavam bem. Eu fiquei sozinho com um monte de hipóteses e uma droga de carta!

Ouvi algumas buzinas atrás de mim. Olhei para cima e o sinal já estava verde. Avancei e continuamos nosso caminho até a casa de Fred. Não tinha mais clima para churrasco, confraternização entre amigos e nem para qualquer outra coisa. Eu só queria ir para casa, me jogar no sofá e beber umas trinta e cinco cervejas ou apenas o suficiente para apagar completamente e acordar sem a lembrança de ter reencontrado Elizabeth.

Podia sentir o olhar triste de Lory em mim e até pensei em dizer que tudo ficaria bem. Que eu ficaria bem. Mas nós dois sabíamos que essa era uma certeza que nenhum de nós tinha.

Não queria mais pensar em nada, não queria mais dizer nada. Queria apenas esquecer o que aconteceu e até, talvez, esquecer que um dia tivemos algo, que um dia nossos caminhos se cruzaram e que esse dia tinha sido apenas uma alucinação criada pela quantidade de álcool que eu ingeri ontem na festa.

Chegamos na casa de Fred e, para minha surpresa, Garry estava lá. E o mais inusitado, o cão guia parasita, também conhecido como Rebecca, não estava.

Tentei aproveitar o dia, deixando Elizabeth e qualquer lembrança dela, longe de meus pensamentos.

Lory e eu fingíamos que nada havia acontecido, até porque não queríamos trazer esse assunto a público. Mas eu tinha total noção de que esse não seria o fim da confusão em minha cabeça. Me esforçava ao máximo para esquecer qualquer lembrança nossa, já sabendo que elas me atormentariam mais tarde, assim como os possíveis futuros problemas, já que tínhamos um impasse impossível de ser ignorado.

Elizabeth me devia muitas coisas: explicações, atualizações, verdades. Mas ao mesmo tempo eu não podia lhe cobrar nada. Mas isso não significava que não doía e que eu não me sentia traído, descartado e desprezado. Eu jamais a trataria da forma como ela me tratou e jamais a faria se sentir como eu me sinto agora.

Porém, é inegável que, bem no fundo, eu estou feliz. Feliz por saber que elas estão bem, por saber que elas permanecem unidas e que eu, finalmente, pude vê-la outra vez. Mesmo que tenha sido um reencontro totalmente estranho, por poucos minutos bem embaraçosos, em um corredor de mercado.

Por que eu continuo sendo abalado por você, Elizabeth?

Depois de um SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora