Capítulo 1

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Nunca pensei chegar a esta etapa da minha vida. Universidade. Os anos passaram tão rápido, e agora dou por mim no meu dormitório. Ouvia risos dos estudantes no parque, talvez fosse a única alma aqui que não tivesse amigos. Essa é uma das consequências de ter escolhido uma universidade do outro lado do meu país. Tivera de o fazer, ou ia ter consequências más significativas para a minha vida. Felizmente aqui não iria ter ninguém que soubesse o meu nome, que soubesse o que me tinha acontecido e o que eu planeara fazer.

Apesar de todas aquelas gargalhadas me ecoarem na cabeça, estava no meu quarto deitada. O problema de ser uma das portadoras de ansiedade social era querer estar sempre sozinha mas ao mesmo tempo ansiava ter uma vida com imensos amigos que me pudessem ajudar, mas não fazia por isso. Ao invés observava cada canto do meu quarto. Não havia nada de pormenorizado, não havia vida aqui. Tudo se refletia numa cor morta, bege. Nunca percebera se o bege era um tipo de branco, se era um tipo de castanho, mas não interessava porque só de olhar para aquela cor me causava náuseas.

Mas o horrível daquele quarto era a cama vazia que estava uns três metros ao lado da minha. Queria dizer que alguém iria ocupar aquele lugar, queria dizer que iria ter de partilhar o meu quarto com alguém.

Saltei da cama e fui em direção à biblioteca, senão ia morrer confinada nos meus aposentos, e isso é um bom destino para uma princesa, não para mim, estava longe de ser princesa.

Aquele sítio estava coberto de livros, uma divisão que eu desejava ter em casa. Os livros ao longo dos anos tinham-se tornado nos meus melhores amigos, por isso fazia sentido aquela divisão enorme, com estantes até o teto, com alguns livros cheios de pó, ser um sonho para mim. A iluminação era má para uma biblioteca, o que me fazia admirar mais aquele sítio, pois não era feito para agradar a ninguém, não que conheça muitas pessoas que gostem de bibliotecas.

Apenas lá estava uma empregada sentada atrás de um balcão minúsculo e uns cinco estudantes nas mesas perto da saída. Caminhei até um dos cantos da divisão, um canto que ninguém me conseguia avistar por tão longe ficar da entrada, e também por ter estantes suficientes para que a minha figura ficasse indiferente aos olhares dos outros.

Comecei a ler os títulos de alguns dos livros, uma coisa que fazia nas livrarias habitualmente. Não sabia qual escolher para ler, eu precisava urgentemente de ler, para espairecer, para viver outra vida, antes que caísse nos meus pensamentos sombrios. Vi um que se intitulava de "Dancing on my own", tirei-o da estante, a capa era enfadonha, as ilustrações pareciam ser feitas por um miúdo da creche, voltei a pousa-lo.

- Vejo que já andam novatos a visitar a biblioteca. - Ouço uma voz masculina atrás de mim, mas nem me dou ao interesse de olhar para ele, tinha tomado a decisão de não me envolver com nenhum rapaz, não no primeiro ano da universidade.

-Sim, diz que sim. - Digo de um suspiro, e acabo por me virar para onde essa voz se projetava. Era um rapaz alto, notava-se que ele era mais velho que eu. Alto, cabelo curto escuro, olhos azuis penetrantes que faziam qualquer rapariga se derreter. Mas eu não podia ser qualquer rapariga, precisava de ser outra rapariga, indiferente a qualquer rapaz, nem que fosse o rapaz mais giro do mundo.

-Vou-te dar um desconto caloira, só porque gostas de Led Zeppelin. - Diz apontando por instantes para a minha t-shirt, a que tinha vestido antes de sair da casa dos meus pais.

-Sabia que esta t-shirt me ia dar sorte. A minha mãe quando me via com ela vestida perguntava sempre se eu não tinha algo mais decente para vestir. - Ele soltou uma gargalhada pura, que me fez render e também acabei por rir, o que já não fazia há séculos.

-O que é mais decente do que Led Zeppelin? - Encolho os ombros.

-No ponto da vista da minha mãe acho que era quase tudo. Ela pensava que eu era um rebento do diabo. - Curvo um canto da boca e começo a caminhar para fora da biblioteca.

-Onde vais caloira? - Diz enquanto me acompanha.

-Não vi nenhum livro que me interessasse até agora por isso vou voltar para o meu quarto.

-Posso te mostrar a escola. - Nego com a cabeça. - Então pelo menos deixa-me apresentar-te a minha namorada, assim tens alguma amiga. - Segurou-me pela mão e começou a correr, mas logo fomos interrompidos quando apareceu um funcionário, um pouco velho, parecia ter por volta dos sessenta anos, tinha pouco cabelo e era magro como um pau de uma vassoura.

-Não podem correr aqui! - Assinto com a cabeça. - O que vais fazer Alexander?

-Vou mostrar a escola a esta nova aluna, pois claro.

-Tu a fazer algum bem? - Acabo por soltar uma gargalhada. - Tenha cuidado menina, ele é do tipo de rapaz que os teus pais querem ver-te longe!

-Não se preocupe, a causa de vir para aqui foi por causa de um rapaz queriam ver perto de mim. - O Alex riu. Ele era lindo, tenho de admitir.

-Eu avisei-a, depois não se lamente. - O rapaz magnifico da biblioteca encolheu os ombros e começou a correr outra vez, podemos ouvir "Não corram!!" do funcionário, mas continuamos.

-Tens algum problema que te impeça de caminhar?

-Não se pode desperdiçar tempo. - Eu sorrio, e ele bateu à porta, na porta 34.

-Já estou a ir! - Ouviu-se uma voz de lá de dentro.

-Devias saber que eu fui feita para não ter amigos, por isso ela não vai gostar de mim.

-Tu és adorável, e por mim beijava-te agora, neste instante, se eu não tivesse namorada. - Senti as minhas bochechas a escaldar devia estar mais vermelha que paprika. - E assim ficas ainda mais adorável!

Uma rapariga linda abriu a porta e os dois beijaram-se. Eu desejava ser como ela, tinha um corpo perfeito, tinha umas roupas de invejar, um sorriso perfeito, e parecia uma boneca, uma barbie. Cabelo castanho quase loiro, olhos azuis, alta, magra, com um corpo que todos os rapazes gostavam de possuir. E tinha um namorado lindo. Eu não era nada disso, nada como ela. Eles olharam para mim. - É uma caloira, que encontrei.

-Hmm, sou a Katherine. - Fez um sorriso amarelo, ela não gostava que eu andasse com o Alex, percebi logo isso. Assenti com a cabeça. Ela lembrava-me da Ashley.

-Vou para o meu quarto preciso de preparar as minhas coisas.

-Acho que fazes muito bem! - Ela deu uma risada sarcástica, e fui-me embora.



Dancing on my ownWhere stories live. Discover now