Sofia olhou para a tigela na frente dela. Uma estranha substância fumegava e, apesar da aparência não muito agradável, o cheiro era surpreendentemente bom.
Observou discretamente as pessoas que, a sua volta, comiam com vontade. Especialmente aquela que havia se apresentado como Alexandra, mas que, pelo que já havia conseguido reparar, era sempre chamada por todos de Álex.
Com a cara quase enfiada na própria tigela, Alexandra engolia rapidamente a comida. Com muita fome ou pressa, Sofia não soube definir.
– Não vai comer, Alícia?
A criança ao lado dela perguntou alto, fazendo com que todas as atenções se voltassem para Sofia.– Está quente demais para mim.
Tentou justificar, esperando sinceramente que a senhora não ficasse ofendida. Felizmente, não. Laila olhou para Sofia e sorriu:
– Não vai precisar esperar muito. Aqui tudo fica frio logo.
Com uma das sobrancelhas levantadas, de um jeito nada amigável, a que se chamava Nívia perguntou:
– Onde essa aí vai dormir?
Tio Dimas respondeu seríssimo:
– Não vai ser no meu quarto com sua tia, nem no seu com seu marido. Então, obviamente...Nívia completou, deixando claro o quanto desaprovava aquilo:
– No quarto de Álex.
Alexandra olhou para a tia, como se pedisse ajuda. Sofia tentou acompanhar a discussão. Em vão. Afinal, o que estava acontecendo? Qual era o grande problema? Foi Talita quem esclareceu:
– Mas lá só tem uma cama...
Nívia aproveitou para completar:
– Pai, isso não está certo. Pense bem no que pode...
Tia Laila a interrompeu dando a solução:
– Já está mais do que na hora da menina sair do quarto de vocês. E o catre dela também. O catre fica para Alícia. Talita pode dormir com Álex na cama.
Nívia não pareceu nem um pouco satisfeita quando o pai concordou. Alexandra largou a colher dentro da tigela vazia, levantou da mesa e caminhou em direção à porta.
– Vai sair de novo, Álex? – a tia perguntou, preocupada.
A resposta foi quase furtiva de tão rápida:
– Tenho umas coisas para resolver.
Um silêncio constrangedor se estabeleceu. Alexandra ficou parada, sem dizer mais nada, com todos os olhares nela. Gustavo também levantou, dizendo:
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O suave tom do abismo - Absorção - Livro Um
Ficción GeneralNa trilogia "O suave tom do abismo", Diedra Roiz nos conduz através do frio e da escuridão de um futuro distópico. Um mundo em que a ausência de luz é cotidiana e o sol não é nada além de descrições em livros proibidos, onde enxergar além do que a p...