Capítulo 3

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  Sofia olhou para a tigela na frente dela. Uma estranha substância fumegava e, apesar da aparência não muito agradável, o cheiro era surpreendentemente bom. 

Observou discretamente as pessoas que, a sua volta, comiam com vontade. Especialmente aquela que havia se apresentado como Alexandra, mas que, pelo que já havia conseguido reparar, era sempre chamada por todos de Álex.


Com a cara quase enfiada na própria tigela, Alexandra engolia rapidamente a comida. Com muita fome ou pressa, Sofia não soube definir.


– Não vai comer, Alícia?


A criança ao lado dela perguntou alto, fazendo com que todas as atenções se voltassem para Sofia.– Está quente demais para mim.


Tentou justificar, esperando sinceramente que a senhora não ficasse ofendida. Felizmente, não. Laila olhou para Sofia e sorriu:


– Não vai precisar esperar muito. Aqui tudo fica frio logo.


Com uma das sobrancelhas levantadas, de um jeito nada amigável, a que se chamava Nívia perguntou:


– Onde essa aí vai dormir?


Tio Dimas respondeu seríssimo:


– Não vai ser no meu quarto com sua tia, nem no seu com seu marido. Então, obviamente...Nívia completou, deixando claro o quanto desaprovava aquilo:


– No quarto de Álex.


Alexandra olhou para a tia, como se pedisse ajuda. Sofia tentou acompanhar a discussão. Em vão. Afinal, o que estava acontecendo? Qual era o grande problema? Foi Talita quem esclareceu:


– Mas lá só tem uma cama...


Nívia aproveitou para completar:


– Pai, isso não está certo. Pense bem no que pode...


Tia Laila a interrompeu dando a solução:


– Já está mais do que na hora da menina sair do quarto de vocês. E o catre dela também. O catre fica para Alícia. Talita pode dormir com Álex na cama.


Nívia não pareceu nem um pouco satisfeita quando o pai concordou. Alexandra largou a colher dentro da tigela vazia, levantou da mesa e caminhou em direção à porta.


– Vai sair de novo, Álex? – a tia perguntou, preocupada.


A resposta foi quase furtiva de tão rápida:


– Tenho umas coisas para resolver.


Um silêncio constrangedor se estabeleceu. Alexandra ficou parada, sem dizer mais nada, com todos os olhares nela. Gustavo também levantou, dizendo:

O suave tom do abismo - Absorção - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora