– Espera, Álex! Não consigo te acompanhar assim!
Reclamou a garota que, com muito esforço, subia pela trilha escura, a dificuldade a mantendo alguns metros atrás. Alexandra se virou sorrindo:
– Ninguém mandou você me seguir...
A garota aproveitou a parada para vencer a distância que havia entre elas. Olhou bem dentro dos olhos de Álex e retrucou, com um sorriso travesso:
– Eu não estou te seguindo.
O sorriso de Alexandra aumentou mais ainda:
– Não?
A resposta foi um aceno negativo de cabeça e o levantar de uma das sobrancelhas.
– Está fazendo o quê, então?
Colocou a lamparina que carregava no chão e, em um gesto rápido, completamente inesperado, pousou as mãos no rosto de Álex e soprou no ouvido dela:
– Tomando conta de você...
Sem resistir, Alexandra se deixou levar pelas milhares de sensações que a atravessaram. O arrepio conhecido percorrendo a espinha, causando um estremecimento tão forte que chegou a deixar uma dorzinha no coração. Vontade de mais, muito mais do que o leve e disfarçado carinho. Sussurrou de volta:
– Precisa?
Com um sorriso mais provocante ainda, Luciana se afastou, sem desviar os olhos dos dela quando pegou a lamparina no chão. Depois, deu as costas e caminhou com passos largos, como se uma urgência repentina a possuísse.
Alexandra seguiu atrás, sem tentar alcançá-la nem dizer uma só palavra. Procurando compreender o que se tornava... Cada vez mais necessário. Quase um vício.
Questionou por um breve instante se sempre havia sentido aquilo.
Muito mais do que deveria pela melhor amiga. Mas então... Entregou-se aos sentidos. Os olhos percorrendo, avaliando, tocando a silhueta de Luciana, desenhada na contraluz da lamparina. Os ouvidos gravando o ritmo das passadas, da respiração alterada pelo esforço físico. O olfato provando o aroma que vinha dela cada vez que soprava a brisa. Detalhes que pareciam envolver Alexandra numa atração maior ainda.
– Enfim!
A exclamação a fez voltar à realidade, materializada sob a forma de Luciana parada com a lamparina na altura do rosto, indicando uma entrada no vão de pedra, tão pequena que praticamente não se via.
De mãos dadas, venceram o túnel apertado quase correndo, a pressa as conduzindo. Quando finalmente chegaram ao interior da caverna, nem se lembraram de acender os archotes fixados nas paredes de pedra. Unidas num beijo quase desesperado, entre carícias e sussurros, despiram-se.
Alexandra a puxou ou foi de Luciana a iniciativa de entrar no lago subterrâneo misteriosamente aquecido? Nenhuma das duas saberia precisar, imersas numa troca profunda, muito mais do que física.
– Eu amo você... Minha linda... Minha Lu...
Alexandra mais uma vez repetiu, comprimindo o corpo contra o dela, arranhando as costas de Luciana na margem cheia de pedrinhas. Um tom de prazer que era quase dor nos gemidos que se seguiram.
O ritmo acelerando, tornando-se fugidio. Impossível conter a explosão, a perda de tudo que não fosse pele, bocas, olhos, mãos...
Luciana segurando os cabelos de Alexandra com força e sussurrando no ouvido dela, as palavras penetrando no resto do corpo inteiro:
– Eu te amo, Álex... Haja o que houver. Nunca se esqueça disso...
Fazendo com que o último resquício de controle que Álex pudesse saiu de cima de Luciana.
Vestiram-se rapidamente. Uma sombra indefinível se instaurando nos olhos das duas quando Luciana confessou:
– Estou preocupada com o jantar de hoje.
Apesar de também estar, Alexandra a acalmou:
– Não tem motivo.
Mas não conseguiu. Luciana manteve a mesma expressão contraída:
– Você não conhece o Samuel. Ele não vai aceitar um não.
Álex respirou fundo. Com tantas moças disponíveis na vila, o irmão de Luciana tinha que tê-la escolhido para esposa? No jantar faria oficialmente o pedido. Claro que Tio Dimas jamais forçaria Alexandra a se casar contra a vontade, porém... Estava apreensiva. Como se algo lhe soprasse no ouvido. Avisasse de algum perigo.
Afastou os falsos presságios, até porque não acreditava naquilo. Nada de sobrenatural em temer Samuel. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso o faria. O jovem reverendo recém-ordenado era ambicioso, obstinado e extremamente orgulhoso. Recusá-lo significava fazer o pior dos inimigos.
– Álex... Você não vai...
No rosto de Luciana, as lágrimas escorriam. Álex a abraçou com força, beijou os lábios dela repetidamente, antes de dizer:
– Sou toda e só sua. Nunca vou ser de mais ninguém.
Conseguiu arrancar um sorriso. Radiante, apaixonado, maravilhosamente pleno e lindo. Sorriu também. Os lábios, bocas e línguas já se unindo num beijo intenso.
Por dentro, bem lá no fundinho, Alexandra ainda tinha um forte e grande receio. Mas preferiu esquecer, ignorar, substituir pelo prazer de ter Luciana nos braços mais uma vez naquele momento.
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O suave tom do abismo - Absorção - Livro Um
Ficción GeneralNa trilogia "O suave tom do abismo", Diedra Roiz nos conduz através do frio e da escuridão de um futuro distópico. Um mundo em que a ausência de luz é cotidiana e o sol não é nada além de descrições em livros proibidos, onde enxergar além do que a p...