O céu estava nublado, as poucas gotas que caiam, anunciava a tempestade que não tardaria a chegar. Tobias acabara de falar com o corretor de imóveis, tinha achado o apartamento que julgava ser perfeito. O imóvel ficava perto da faculdade que em breve cursaria, na verdade, já era a segunda que ele faria. Estava no segundo ano da faculdade, quando percebeu que a medicina não era exatamente o que ele queria, e sim ensinar, necessariamente história.
Sentindo que as gotas estavam vindo com mais força, apressou os passos. Ele havia deixado o carro no estacionamento do restaurante, que estava antes de se encontrar com o corretor de imóveis. Ele já podia ver o restaurante, mas algo chamou sua atenção.
Em um beco, um cachorro latia alto e varias vezes. Era um latido após o outro, sem pausa. Ele parou e ficou olhando fixamente para o cachorro, que não parava de latir. Decidiu ir ver o porquê de ele latir tanto, ignorando a chuva que começava a cair.
Quando ele viu o motivo pela qual o cachorro latia, ele se desesperou. Era uma moça. Ela estava nua, jogada no meio dos sacos de lixos, os sinais de que havia sido violentada era evidente. Tobias se ajoelhou e viu seu pulso, ela ainda estava viva. Não pensou duas vezes antes de tirar seu casaco para cobrir sua nudez, logo em seguida, a pegou no colo e a levou para o carro.
Enquanto dirigia pelas ruas de Detroit, ele pensava no que faria com ela. O certo seria leva-la ao hospital, mas, ele não sabia quem era ela e, olhando o local onde ela foi jogada, ele já poderia imaginar que tipo de vida ela levava. Não, ele não estava julgando ela. Ele não era ninguém para julga-la, mas, se ele tivesse certo, ele sabia o que aconteceria se o cafetão a encontrasse. Não queria que nada de mais acontecesse com ela, não novamente.
Ser abusada já era algo terrível. Era desumano. Ele gostaria de saber o que acontecera, se ela seguisse essa vida, o que tivera acontecido para ela acabar nesse estado. Ela só poderia ter negado, é claro. Mas por quê?
Suspirou, ele a levaria para casa, seus pais jamais negariam ajuda. Ainda mais para alguém no caso dela. Talvez o que ele aprendera nos seus dois anos de faculdade ajudasse. Sim ajudaria. Mas, sua mãe era médica formada, com certeza ela saberia o que fazer nessas situações. Pediu a Deus que sua mãe já tivesse em casa.
Depois que estacionou o carro na garagem, ele correu para abrir a porta, depois de deixa-la aberta, ele voltou para o carro e abriu a porta traseira, já que ela estava deitada no banco de trás e a levou para dentro de casa.
Quando a pôs deitada no sofá, ele não sabia bem o que fazer. Talvez ele estivesse constrangido de troca-la. O casaco estava molhado, não poderia deixa-la assim, mas a qualquer momento ela poderia acordar e achar que ele era o agressor. Quando ele ia pegar seu celular para poder ligar pra sua mãe, ela adentrou no cômodo.
- Filho, como foi com o... - ela se calou quando viu uma garota, coberta apenas por um casaco, em seu sofá. - Quem é ela, Tobias?
- Mãe... Eu a encontrei em um beco, ela foi violentada, nós precisamos ajudá-la.
- Oh, por que não me disse isso antes? - ela perguntou, indo para perto da garota, e se ajoelhando, para que pudesse vê-la melhor - Precisamos leva-la ao hospital agora mesmo!
- Não acho que seja uma boa ideia... - ele disse, coçando a cabeça.
- E por que não? - ela o questionou, erguendo uma sobrancelha e cruzando os braços.
- Eu prometo que vou explicar, mas agora não, olhe o estado dela. - ele disse, enquanto ia em direção ao quarto. - Cuide dela, por favor, eu vou tirar essa roupa molhada e pegar algo de Ruth para que ela possa vestir! - completou, antes de entrar em seu quarto.
Ruth era irmã de Tobias, que viajou para cursar faculdade fora do país.
Margareth suspirou, olhou para a moça que estava desfalecida em seu sofá. Foi até o banheiro, pegou a enorme caixa de primeiro socorros e voltou para sala.
Separou tudo que fosse usar, voltou ao banheiro, procurou por uma toalhinha e a molhou. Retornando novamente a sala, retirou o casaco que cobria a moça, seu estado era pior do que ela imaginava. Mesmo que sua pele fosse negra, os hematomas estavam bastante visíveis em todo o seu corpo, seu olho direito estava roxo e inchado, seus lábios estavam machucados, principalmente o lábio inferior, assim como o supercílio, ela suspeitava que precisasse levar ponto.
Ela respirou fundo, não saberia como reagiria se sua filha aparece nesse estado. Como mãe, ela se sentiu totalmente responsável por aquela garota, onde estaria a mãe dela? Não a desampararia naquele momento tão delicado, se caso não encontrasse a mãe. Pois afinal, qual seria o motivo pelo qual não poderiam levá-la ao hospital. E como uma mulher, se sentiu revoltada com aquela situação, ninguém, sem exceções, deveria ser estuprada.
Margareth pegou a toalhinha molhada, e começou a limpa-la. Depois que terminou, pegou uma pomada de inchaço e passou perto do olho. Ela pegou um remédio, liquido, para desinfetar os machucados, logo depois, pegou uma pomada de cicatrização, pôs em uma gaze e a prendeu com esparadrapo. Repetiu esse processo em todos os outros machucados que ela encontrara. Após de analisar melhor o corte no lábio inferior e a no supercílio, resolveu que precisaria de ponto.
Quando se levantou, para que pudesse pegar o material necessário - já que ela tinha tudo que precisava desde que se formara em medicina - ela deu de cara com Tobias, a olhando, nervoso.
- Tobias, você está bem?
- Hm... Sim, eu estou. É só que... Você não se sente nervosa não? Sabe, com os machucados.
- O que? Claro que não, né Tobias? - ela respondeu, revirando os olhos. - A medicina está bem melhor sem você nela.
- Eu sei disso. - ele a respondeu. - Aqui mãe, as roupas. Eu peguei apenas uma blusa e uma calça moletom, mas não achei nenhuma calcinha. - ele falou, para logo em seguida corar. Margareth riu com o jeito do filho.
- Tudo bem, darei um jeito nisso - ela disse, pegando as roupas do filho.
- Já acabou?
- Não, ela precisará levar ponto. Agora, deixe-me pegar as coisas que serão necessárias. - o respondeu, Tobias assentiu e voltou para o seu quarto.
Depois que Margareth fez todo o necessário, chamou o seu filho, para que levasse a garota para o quarto de Ruth, depois que pôs na cama, os dois tiveram uma conversa em relação a garota, quando o pai de Tobias, Adrian, chegou, eles jantaram e Tobias tivera que explicar tudo novamente para ele, como o esperado, Adrian não negou abrigo.
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Reviver
RomanceSe havia uma coisa que Dorothy podia afirmar era que sua infância fora desprovida de amor. Por muitas vezes havia sido violentada e, depois de um tempo, largada por seu padrasto. Mas não dessa vez. Dessa vez, Dorothy havia encontrado um refúgio, um...