Lavínia só queria terminar de assistir o seu anime em paz, mas desde que voltara de viagem, sua mãe estava insuportável. Ela já havia pedido à garota para fazer um milhão de coisas (arrume seu quarto, tire a roupa lavada da máquina, estenda a roupa no varal, faça um suco de laranja) como se trabalhos domésticos fossem o que Lavínia mais quisesse fazer no último final de semana antes das aulas voltarem.
Ela havia viajado na sexta passada e só voltara nesse sábado à noite. Era a primeira vez que viajava sem os seus pais e, talvez, sua mãe estivesse apenas querendo usufruir da sua presença novamente em casa depois de oito dias longe. A mãe de Lavínia não era exatamente uma pessoa sensível, mas as duas tinham um ótimo relacionamento. E, como toda mãe, ela sentia saudades da filha quando passava tanto tempo fora.
O pai da garota era um pouco mais sentimental porque "para ele, ela seria sempre o seu bebê". O que era uma coisa muito brega de se dizer, mas também um tanto fofo. Melhor assim do que se seus pais não dessem a mínima para ela, não é mesmo?
Ela estava terminando de espremer as últimas laranjas quando sua mãe adentrou a cozinha. O espremedor elétrico fazia um barulho alto e Lavínia ainda sentia muito calor por causa da pele queimada de sol. Estava com o rosto todo esbranquiçado graças ao creme hidratante que a mãe passara pra aliviar a ardência e deveria estar parecendo uma múmia - mas pelo menos o cheiro de canela era gostoso.
Teresa parou no batente da porta e cruzou os braços, fitando a filha com olhos maternos amorosos e observadores. Daqueles que, quando você os percebe, franze a testa e pergunta:
― O que foi? - Lavínia disse, logo voltando para suas laranjas.
― Você está muito magra. Tem certeza de que comeu direito durante essa viagem?
A garota revirou os olhos.
― Mãe! Nós já falamos sobre isso umas três vezes desde ontem, eu já disse que sim. A mãe da Anaju fazia a gente comer o tempo todo.
― Hum - Teresa resmungou, ainda sem acreditar totalmente. - Vou pedir uma pizza, você vai querer?
― Claro. Não se diz não a pizza.
Teresa assentiu, sorrindo, e se aproximou da filha. Fez um carinho em seu ombro e beijou a cabeça ternamente. Ela era uma mulher muito prática e inteligente. Trabalhava - muito - como paisagista, mas, como era característico das mulheres do século XXI, administrava casa, emprego e filhos como se tivesse 30 horas no dia, ao invés de 24. Estava sempre fazendo alguma coisa, odiava ficar parada. Ao contrário do seu marido, que era muito pacato e achava que um domingo perfeito era aquele em que passava assistindo a algum jogo de futebol na TV com sua cerveja do lado. Lidava com a vida e seus pacientes no consultório dentista com muito bom humor.
Nenhum dos dois pensava em ter filhos e, por isso, fecharam a fábrica depois da surpresa que foi Lavínia. Filhos únicos sofriam o estigma de serem mimados e autocentrados, mas isso nunca aconteceu na casa dos Lemes. Por mais que ambos, pai e mãe, fossem muito apegados à sua filhinha.
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Sobre(O)postos
Teen FictionDESGUSTAÇÃO! PARA COMPRAR O LIVRO ACESSE AQUI: http://duplosentidoeditorial.com/loja Lavínia Lemes até tentou, mas não consegue evitar a atração que sente pelo seu vizinho de baixo. E daí se ela só tem dezesseis anos e ele já está terminando a facu...