*Ottoke: Palavra coreana que significa "O que fazer?".
Edu nunca foi o maior fã de carnaval, mas esse ano ele teria se arrependido se não tivesse cedido ao convite de Felipe para ir passar o feriado em Maricá. Certamente ser arrastado pelos amigos para os blocos, praias e festas na cidade era muito melhor do que ficar em casa fazendo vários nadas - até mesmo porque Helô tinha uma viagem marcada para Ouro Preto com os amigos dela e os dois não poderiam ficar juntos.
Ele achava até bom, na verdade. Porque o carnaval era aquela época constrangedora do ano em que os casais que estão em um relacionamento não-sério precisam ter "A Conversa". Ou se separavam e cada um ia curtir o feriado do jeito que bem entendesse, em comum acordo. Ou ficavam juntos durante a semana inteira e isso era praticamente a mesma coisa de tirar o "não" do "não-sério". Provavelmente havia uma terceira opção, mas Eduardo não fazia ideia de qual era.
De modo que ficou muito satisfeito por não precisar ter "A Conversa" com Helô e seguir o rumo da sua vida naturalmente. Não que ele fosse o tipo que saísse pegando meio mundo só porque era carnaval, Edu não era do tipo que saía pegando meio mundo nem em épocas de paz.
Mas era carnaval. E não fazia mal algum traçar umas gatas por aí.
Essas foram palavras de Felipe, não dele. Mas Edu achou que faziam muito sentido.
Então, por mais que ele gostasse do tempo que passava com Helô, foi muito melhor ambos seguirem sem rumo sem complicações durante essa semana atípica na rotina. Depois que ela passasse, quem sabe, eles não voltassem a sair juntos de novo e aí, talvez, quem sabe... Bem. Não. Ele não queria um relacionamento sério, mas não havia nada que o impedisse se isso acontece sem pretensões.
E essas foram as palavras exatas de João Augusto, não dele. Mas Edu deixou-as penetrar em seu cérebro bastante perspicaz e reconheceu que, mais uma vez, seu irmão mais novo tinha certa razão.
O que restava para ele era continuar vivendo, um dia de cada vez. Se afastando das coisas que o prendiam no passado ou o impediam de romper barreiras, pelo motivo que fosse. Eduardo sabia que ele era uma pessoa complicada consigo mesmo, embora fosse adorável com os outros. Mas chega um ponto na vida de todo mundo que parece que não existe outra saída além de encarar o que está errado.
E, no caso dele, se permitir.
Por isso ele ficou com Helô. Por isso ele foi passar o carnaval em Maricá com os amigos malucos.
E por isso ele estava sentado no sofá com Bartolomeu - seu buldogue francês preto - deitado no seu colo. Os dois encaravam a tela do notebook em cima da mesinha de centro em uma mistura de choque e surpresa, lendo e relendo o e-mail aberto uma centena de vezes. Bartolomeu até mesmo levantou as orelhas e entortou a cabeça, o que, para Edu, foi uma metáfora perfeita do modo como ele mesmo se sentia por dentro.
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Sobre(O)postos
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