Capítulo 3 - Breaking

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Falar sobre como se sentia nunca foi uma coisa fácil para Lauren, e isso não era de agora. Quando era pequena e tinha algum desentendimento com algum colega de sala, a mãe suava para arrancar dela o que tinha acontecido e geralmente nunca conseguia mais que pouquíssimas palavras. Isso apenas piorou quando ela entrou para o colegial, onde ela sofrera bullying quase todos os dias. Bem, isso até ela começar a criar uma fama de encrenqueira e sua mãe ter de ir a sua escola por outros motivos nada agradáveis.

Mas tudo pelo o que passou apenas serviu para aumentar sua confiança. Claro que foi tudo por água abaixo quando perdera a visão. Ter autoconfiança é meio difícil quando se passa pelo que está acontecendo com ela.

Lauren não entendia como, mas a latina sentada ao seu lado conseguiu fazer o que os terapeutas vinham tentando há cinco meses, que era fazer com que ela falasse como realmente se sentia diante do que tinha acontecido.

— Deve ter uma bela de uma confusão dentro dessa sua cabeça dura. - comentou Camila. - Não imagino como é ficar cega, assim tão de repente. A sensação de não poder ver ... Principalmente assim, da forma como você...

— Vamos ficar falando disso o tempo todo? - Lauren a interrompeu. - Se eu quisesse desabafar falaria com meu psicólogo, e não com uma estranha que acabei de conhecer.

Lauren fez menção de levantar-se, porém, Camila a impediu segurando seu braço, que por sua vez puxou de volta tentando se livrar do toque da latina. Camila achou estranha essa aversão ao simples toque, mas não comentou nada sobre isso.

— Tem razão, sinto muito. É que... Você me parece meio perturbada.

Lauren bufou, impaciente.

— Você também estaria se estivesse na minha situação.

— Sei que não quer falar sobre, mas eu...

— Eu não preciso que demonstrem pena, Camila. - interrompeu-a novamente, levantando-se. - Tenho passado por isso há cinco meses, e a última coisa que preciso é de mais uma pessoa enchendo meu saco com isso!

— Eu não...

— Pode chamar um táxi para mim, por favor?

E voltamos ao começo. - Camila murmurou, pegando o celular e discando o número do serviço de táxi.

Camila já havia percebido que o gênio de Lauren era um tanto quanto forte, só não imaginava que fosse desse jeito. E o pior era que ela não estava fazendo isso de propósito, irritá-la assim dessa maneira. Ela realmente queria saber como Lauren se sentia. Não sabia o porquê, afinal, se conheciam há pouco mais de uma hora, mas sentia que Lauren estava prestes a cair. Camila meio que se sentia na missão de evitar o baque da queda.

Ouviu o interfone chamar e pensou que era o taxista, então apenas disse para subir. Lauren estava parada no meio da sala de estar do apartamento, segurando a sacola com sua calça molhada como se fosse um tesouro. Camila então se viu admirando-a, e ela era muito, muito bonita. Sua pele, branca demais para quem mora em Miami, entrava em contraste com seus longos cabelos negros.

Lauren tinha de beleza o mesmo que tinha de impaciência.

Ao ouvir uma batida na porta, Lauren virou-se em direção ao som. Ela estava mais sensível aos barulhos, sua percepção das coisas começava a se adaptar aos poucos a falta de um dos cinco sentidos básicos.

— Pode me levar até a porta? - pediu, estendendo a mão.

— Espere um pouco, preciso garantir que o taxista não é nenhum psicopata antes de entregar você a ele. Não quero ter o trabalho de salvá-la pela terceira vez em menos de vinte e quatro horas.

Blind LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora