Capitulo 3 - Lagoa das taboas

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Naquele dia de mudança, o pequeno mal cabia na casa. Era tanto movimento de móveis passando para la e para ca que ele sempre se sentia atrapalhando aos tios, tias e avós que ajudavam a carregar as tranqueiradas da família. Movimento, trançagem de gente, lufa lufa, burburinho.
O pequeno gostava muito de dias em que a família se reunia toda. Lembrava ocasioes em que todos os tios vinham para o Pinheirão para fazer a visita mensal.Que alegria sentia ao ser jogado para cima num vôo pássaro promovido pelo tio Heitor, o magrão. Os carinhos da tia Sonia e da vó eram tudo para o Jaime e o pequeno e também para o Silvio, o irmão do meio. O Silvio era um menino muito bonzinho de quem não falamos até este ponto porque o pequeno mal o notava. Como ele era obediente aos pais, nunca ou raríssimas vezes apanhava. Tinha um defeito físico, uma perna mais curta que a outra. Era franzino e cabeçudo e tinha um queixo enorme. O pequeno o chamava de queixada, coisa que ele abominava. Mas voltando a visita dos parentes, quando ocorriam, eram muito bem vindas para todos os meninos. Balinhas e docinhos garantidos, trazidos pelo Avô Nestor. Pão doce delicioso trazido pela tia Ica. Os pequenos só pensavam nas guloseimas que uma visita daquelas poderia trazer. Para Nem, a mãe, aquilo era muito mais do que apenas a comida boa que traziam por saberem que a família do pequeno estava numa situação difícil. Era a oportunidade de matar as saudades da mãe e do pai, de rever as irmãs e irmãos, que sempre foram muito unidos.
' O sábado em que eles vinham era um alegrão só. Brincar com as primas e os primos até cansar. Menos o Jaime que vira e meche era chamado para fazer isto e aquilo e quando não ia, já sabe, cinta nele. Depois vinha o domingo. Enquanto o sol estava bem amarelo o pequeno pensava em como era bom saber que teria ainda por um pouco o sorriso e as brincadeiras do tio Heitor Magrão, o cangote do tio Gesse para andar de cavalinho e o bonecos de papelão que se mexiam que o avô Nestor tirava dos bolso inadvertidamente e começavam a falar e pular em suas mãos. Tinham a voz do avô, mas eram eles quem falavam e pulavam pendurados num trapézio de cordão. Há, que boas lembranças. Agora estavam mudando do rancho porque o Natalino, o caseiro do sitio, roubava as galinhas a comia.Quando o Tio Heitor Gordão dava por falta das galinhas, o Natalino dizia que o pai foi quem pegou para comer .Logo o pai que detestava aquela situação de morar ali de favor e evitava a todo custo dar motivo para desentendimentos. O tio Heitor gordão, o dono do sitio ficou por fim muito furioso e mandou o baiano desocupar a casa. Como aquele lugar não tinha emprego mesmo e o pai vendera um sitio que tinha perto dali por não conseguir cultivar plantação e sustentar a família, o casal resolveu que mudar de volta para São Paulo não seria uma má idéia. O pai tentara se empregar na cidade mais próxima, mas não conseguira nada. As crianças estavam mal nutridas. O menor, de quatro anos era muito doentinho e vivia dando correria para o hospital em São Paulo onde ficava dias no balão de oxigênio. Realmente era hora de mudar de São João Novo. Então, tudo dentro do caminhão agora, era só passar no seu Zé Paulo e se despedir de todos e depois seguir rumo a São Paulo. Mas impregnada na memória do pequeno como um quadro na parede ficou a imagem do Sitio do Expedicionario e a lagoa das Taboas onde o seu herói, o Jaime tinha dormido duas noites na canoa sem medo de onça ou lobisomem nem nada. Nunca mais poderia arriscar-se a noite, como tanto quisera, e ver a lua refletindo na lagoa .Devia ser linda a lua refletida na lagoa.O moradores da lagoa, sapos rans, grilos, vagalumes e pagalumes todos cantando para embalar o sono do Jaime na canoa. Não andaria mais de canoa com a avó cantando a musica "a canoa virou" e colhendo taboas vermelhinhas para destrinchar e fazer travesseiro macio macio.A lagoa das Taboas ficaria no vale da lembrança apenas. Serviria como comparação para quando pela primeira vez o pequeno visse o mar .



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