Capitulo 6 - O pequeno mandão

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O pequeno gostava de liderar a brincadeira entre a molecada e mandava em todos eles. Era meio que um lider do pedaço.Dava ordens para que a molecada trouxesse tijolos e pedaços de pau para que construissem uma cabana em um canto do quintal. Quando um menino não trazia nada nas mãos, o pequeno berrava ---Seu burro, não te mandei trazer tijolo ou pau para construir a caverna? você é surdo?
Um dia o pai presenciou um destes acessos ditatoriais do moleque e lhe deu uma boa sova para que aprendesse a ser mais humilde. Ele tinha 4 anos mas ja aprendia a apanhar e a desgostar das atitudes do pai. Começava a conhecer os extremos de amor e raiva em um pai que seria ausente quase que constantemente em seu crescimento. Quando o pai ameaçava de bater, ele corria par a mãe, mas nem sempre ela conseguia livrá-lo da sova.
Sovas à parte, mesmo porque foram tantas que o menino até se acostumou, a vida seguia em frente.
Moravam ali, na vila Dalva num bartaco da favela adjascente ao rio. Quando chovia, as águas do rio tomavam conta de tudo. As enchentes, por várias vezes, acabaram com o pouco de utensilios domésticos que a famílias tinha. O menino explorava tudo o que podia a volta da casa. As vezes saia numa incursão  de reconhecimento de territorio na beira do rio. Uma criança de 4 anos que saia sem supervisao dos pais na beira de um rio hoje parece um tanto quanto impensavel. Mas naquela época era normal. Ele saia andando pela beirafa do rio, passava embaixo da ponte do socego admirando as enormes teias de aranha que lhe causavam as vezes medo e as vezes curiosidade. As vezes brincava nas areias do rio, ainda nao muito poluido, com insetos que ele chamava de foquinhas, pois eles eram rapidos nadadores e furavam a areia com extrema rapidez. Nepoca ele nem sabia o que era uma foca, so tinha ouvido a palavra em algum lugar e gostou. Sabia que as focas nadavam, entao para ele grilos eram foquinhas. Ele brincava muito com eles quando estava a beira do rio e calhava de encontrar um grilo desafortunado.










vem ai....
Capitulo 7
Radinei- A primeira missão
Casa da Vó

Capitulo 8

Pão com ovo, mistura esplosiva.

Capitulo 9

Favela

Capitulo 10

Brasil Japão, entra burro e sai ladrão...

Capitulo 11

A familia do seu João

Capitulo 12

Morte do irmão

Capitulo 13

Ultima fuga do Jaime
O menino, como é sabido, já há algum tempo carregava o peso de sustentar sua família nas costas. Estava iniciando em sua vida de adolescente e isto lhe traria muitos problemas. Era só começar a pensar com a cabeça de adolescente, que normalmente não é a do adolescente, mas sim do meio que o cerca, que se revoltaria contra o pai que abandonara sua família dando a ele a obrigação de continuar a remar para que o barco não ficasse a deriva. Sua mãe fazia o que podia para manter a economia da casa em dia.Costurava para fora para ajudar nas despesas. Não deviam para quase ninguém, a não ser para a Joal, uma loja de roupas que havia no Rio Pequeno e que vendia as roupas para a família a prestação.Que ironia, uma costureira comprar roupas a prestação. Mas com o passar do tempo, quando a industria da confecção começou a produzir mais do que conseguia vender, o preço das roupas feitas ficaram mais baratos do que o pano para faze-las. Era por isto que Odete já não conseguia ganhar quase nada com suas costuras. O que sobrava para ela fazer era pregar um zíper aqui, fazer uma barra de calças ali e assim ia tocando devagarinho o barco. O menino trabalhava já registrado e ganhava seu salário mínimo, o que magicamente ele fazia se transformar não so no pagamento das dispesas da casa, mas no seu sonho de ter um terreno. É isto mesmo. Com 14 anos ele tinha um terreno comprado e quase pago no Jardim Arco Íris, na cidade de Cotia, que serviria, pensava ele, para morar no dia em que se casasse. As vezes, em seus momentos de folga ele subia no galho do abacateiro do quintal, que ele mesmo plantara e ficava a tarde toda bem lá em cima sonhando com seu futuro. Seria ele um veterinário? Um aviador? Um biólogo? Ficava ali no frescor da brisa noturna a fazer conjecturas sobre que destino lhe podia aguardar. O barqueiro do inferno, isto é que ele era. Há, o leitor não conhece a historia antiguíssima dos três fios de cabelo de ouro do diabo?
Quando nosso rapazinho tinha 6 anos, aprendeu a ler e escrever com os avós. Livros infantis naquela época não eram muito acessíveis como hoje o são. Mas sempre recordava uma vez ter lido uma historinha num livro de capa azul de quem não se lembrava a autoria, mas cujo resumo segue:
Era uma vez um rei muito ambicioso que para sustentar o luxo em que vivia, sempre aumentava os impostos. E o povo tinha que trabalhar cada vez mais para que o rei fizesse cada vez mais dividas com outro paises, comprando carruagens folheadas a ouro, roupas de seda importada e muitas coisas fúteis. Nasceu no reino um menino que era bom de coração e que teve sobre si uma predição de um mago que dizia o seguinte: Tu serás muito poderoso, mais do que o é nosso rei. E governará nossa terra em teus dias de força de moço.
O rei que não era bobo nem nada, foi ouvir falar do menino, logo mandou mata-lo a fio de espada. Mas seus pais que souberam da intenção do rei o despacharam numa cesta calafetada dentro do riacho que desceu riacho afora até chegar numa aldeia onde morava um moleiro muito bom de coração e sua esposa, que não podia ter filhos. O rei procura o menino pelo reino todo, e depois de muitos anos o encontra já adolescente, quando estava passando pela aldeia onde o moleiro morava. Tenta mata-lo novamente, despachando o menino com uma carta para a rainha que dizia: quando receber esta carta, minha rainha, mate imediatamente o portador. O menino que era muito bom obedeceu o rei e levou a carta para a rainha. Porém no caminho, precisou dormir numa estalagem e os bandidos que la residiam roubaram a carta que ele trazia porcausa do selo do rei que viram por fora abriram. Ao lerem, ficaram com pena do rapaz e falsificaram a carta da melhor forma que puderam desta vez com os seguintes dizeres: Minha rainha, trata muito bem deste rapaz que de agora em diante passa a ser meu protegido. Bom, a historia segue com muito mais detalhes, mas ao fim, quando o rei já tinha perseguido muito o rapaz, porém este sempre, mesmo que ingenuamente escapava das ciladas, o rei, para dar cabo da vida do pobre, diz o seguinte a ele:
Vá até o inferno, onde vive o diabo e me traga de lá três fios de cabelo de ouro do tinhoso. Se me cumprir este desafio, te darei minha filha em casamento e meu reino será teu reino.
Que alhada, como é que o jovem conseguiria os três fios de cabelo de ouro? Bom, continuando o resumo, a mãe do diabo se compadece do rapaz e lhe dá além dos três fios de cabelos a solução para três charadas que o rapaz tem que resolver no caminho de volta. Uma das charadas é a que o barqueiro do inferno lhe havia perguntado. Como posso eu largar do remo e sair do barco, pois a milênios vivo aqui atravessando gente sem nunca poder me livrar de tal encargo. Depois que o rapaz pula do barco, dá a solução ao barqueiro: -----O próximo que entrar em teu barco, joga-lhe o remo nas mãos e pula do barco que ele ficará no teu lugar. Com a resposta das outras duas charadas o rapaz fica riquíssimo, mais poderoso do que o próprio rei. Quando então chega a presença do rei e entrega os três fios de cabelo de ouro, o leitor já pode imaginar o fim da historia. O rei é ambicioso e pergunta ao rapaz onde fica o inferno de onde veio, pois se lá há tantas riquezas, ele também quer ir e conquista-las. O rapaz, após relutar, indica o caminho avisando que o rei tome cuidado e não atravesse o lago do inferno. O rei, teimoso vai e pula dentro do barco onde fica preso para sempre sendo o barqueiro do inferno e atravessando pessoas para sempre como está até hoje.
Bem, esta historia toda para dizer que o garoto sentia-se como o barqueiro da historinha. O pai era o diabo que lançou-lhe aquele feitiço que não o deixava nunca sair do barco. Incitava-o á responsabilidade para com a mãe paraplégica, a irmã que tinha síndrome de Down e até o irmão do meio, que já havia partido, mas era vivo quando o pai se foi. A casa onde morava o garoto era um verdadeiro mausoléo e nunca lhe sobrava dinheiro para concertar os reboques que caiam da parede, ou as rachaduras da lage que se tornavam em verdadeiras cachoeiras quando chovia forte. Então maldizia o pai. Amava-o mas, maldizia-o como quem fala de um cão sarnento. Uma vez, mesmo sem se aperceber que era por causa da historia que houvera lido quando em criança até sonhara que na beira de um grande rio havia uma enorme caravana de gentes e bichos. O cenário era místico pois não se via a cara de ninguém, todos usavam toalhas de rosto na cabeça e essas lhes cobriam as faces. De repente surge um problema. Uma das moças da caravana está muito mal. Só o garoto seria capaz de leva-la numa canoa até o outro lado do rio. ---Mas porque eu? Perguntou no sonho. Porque a você foi dado esta dádiva, dizia o velho que quando deu seu rosto a conhecer ninguém mais era do que seu próprio pai. Leve-a até a outra margem rapaz, entre na canoa com ela, vamos. Lhe dou para ajudante um amigo de sua escolha que o ajudará a fazer a travessia.
---Mas tem muita neblina, como vou saber se estou indo para o lado certo?
---Simplesmente vá rapaz, e a neblina se dicipará com o tempo.
Ele escolheu um amigo que tinha na época, o Paulão que trabalhava na agência da Eletropaulo de Osasco. E lá foram os dois e a menina a navegar pelo rio. Enquanto remava, via a margem e as pessoas sumirem na neblina.
---Mas como saberemos que estamos remando para a outra margem? Perguntou o Paulão. Mal podemos ver um ao outro com esta neblina..... A menina, nada dizia, permanecia ali, com a toalha na cabeça, sentada no meio do barco. Parecia ter muita dor. Mas apesar da dor, nenhum gemido ou fricote.
---bom, disse o garoto, a idéia que tenho é a seguinte. Tenho aqui no bolso muitos metros de uma linha de anzol com a qual pretendia pescar. Amarro uma pedra que também trazia no bolso na esperança de caçar nhanbú e atiro a linhada para a frente do barco. Remamos até que a linha se aprume e fique empezinha na água, assim saberemos que estamos indo sempre para onde atacarmos a linha. E sempre atacaremos a linhada para a frente do barco. E assim ele fez até que viu do outro lado um enorme barranco. Ao pé do barranco a água corria com força de rio e começou a levar o barco bem rápido. Entraram por capins que oscilavam dentro da água e seguiram riosinho afora, já agora num rio bem pequeno, um córrego, que tinha barrancos da altura de suas cabeças enquanto estavam sentados no barco. De repente, quando estavam pelos cálculos do garoto quase chegando á outra margem, apareceram anjos, muitos anjos voando por cima do barco e levaram a moça no colo voando por cima das taboas e moitas de capim que ladeavam o rio. O rapaz se desesperou porque sabia que não podia perder a moça. Era sua obrigação ficar com ela até o fim da lida, até onde lhe pudessem dar soccoro. E quem eram aqueles anjos para roubarem de si sua protegida. Parou o barco imediatamente no próximo píer de madeira que viu.
Fica ai Paulão, olha o barco enquanto eu procuro a moca. Aqueles anjos mequetrefes não devem te-la levado longe. Vou acha-la. Saiu correndo pelo trilha que saia do píer. Entre flores, muitas flores. Chegou a uma estrada asfaltada, olhou em volta, não viu nada. Continuou andando seguindo uns cachorros que iam pela estrada. Os cachorros iam bem depressa e ele corria atrás também pensando: Eles devem me levar até ela. Andou bastante quando encontrou um portão. Viu uns guardas na portaria. Sabia que eles não o deixariam entrar no hospital para ver se a mulher estava lá. Tirou a pedra com a linhada que trazia no bolso e atirou uma vez para a frente, tentando fazer com que os cães fossem naquela direção e distraíssem os guardas. Era hora de almoço, e os guardas estavam comendo a comida da marmita que trouxeram de casa. Nm deram bola para os cachorros. Ele puxou a linhada e jogou de novo. Desta vez todos os cachorros começaram a latir e correram na direção da pedra pensando que era um pedaço de carne. Os guardas deixaram seus postos e foram ver no que os cães estavam latindo, foi quando ele conseguiu entrar no hospital. Ao entrar, algo lhe dizia que ele procurava por sua mãe. Ela que a principio lhe parecia ser sua irmã agora em sua mente se transformara na imagem de sua mãe. Andou pelos corredores procurando. Só via macas vazias com lençóis muito brancos estendidos por cima. Aquele lugar não tinha cheiro de hospital não, parecia mais uma colônia de férias. Foi quando encontrou com sua mãe num dos corredores. Ela parecia muito feliz. Estava tomando água e comendo frutas.
----Eles estão te tratando bem aqui mãe?
' ----Claro que sim filho. Por que te preocupas?
----Preciso leva-la de volta. Pode me acompanhar?
----Claro que sim. Embora eu seja paralítica, também sei correr muito bem quando é preciso, até voar se quiser.
----eles não vão deixar a gente sair daqui vão?
----claro que vão filho. Podemos sair em paz. Não sei porque você achou que não te deixariam mever.
----Sei lá, depois que aqueles anjos a roubaram de mim, suspeitei que os guardas eram maus.
---Pegue umas frutas para levar para o Paulão e vamos embora filho.
O garoto lançou mão de algumas frutas que comeu e de outras que levou para seu amigo que o esperava no barco. Ao sair, não viram guarda algum na portaria do lugar. Quando deram uns passos para fora do portão, viram os anjos que vinham que vinham voando atrás deles. Ele jurou que desta vez não ia perder a mãe pros chatos dos anjos. Agarrou firmemente a mão dela e correu muito veloz. Admirou como sua mãe, mesmo paraplégica conseguia correr tão rápido. Voltaram pela estrada até a trilha de flores que levava de volta ao barco. Quando finalmente chegaram ao barco parecia que os anjos tinham ficado para traz, mas podiam alcança-los a qualquer momento.O Paulão estava roncando, dando uma bela duma cochilada no barco. O garoto deu-lhe uma sabão.
---Então eu me mato para conseguir traze-la de volta e você fica ai dormindo seu polha......
----Desculpe ai garoto. Eu tava mesmo com sono ta. E ai, vamos embora?

Neste momento a multidão de anjos aparece ao longe o que obriga o garoto e a mãe a pular no barco para tentar escapar. Mas o sonho acaba.....
Barqueiro do inferno sim. Não pela mãe, aquela criatura maravilhosa que tinha asas na mente. Contava sonhos maravilhosos que tinha durante a noite. Cantava sempre. Tinha uma bela voz, já agora um pouco desafinada pelo tempo, mas ainda conseguia entoar uns hinos da igreja adventista, religião em que fora criada.
O menino agora em seus 14 anos já deixara de ter o Jaime como herói.
----Na verdade o Jaime era um louco, pensava. Depois de tudo que a mãe fez por ele, ele não podia ter feito isto, não podia. Maldito Jaime, eu o amei como irmão legitimo e veja só o que ele nos fez. Bem que diz a vovó, filho 'alheio, brasa no seio'.
De vez em quando vinha algum amigo do Jaime perguntar por ele, e a resposta sempre era dada assim;
Graças a Deus não temos noticias do Jaime, ele sumiu e nunca mais voltou.    

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⏰ Última atualização: Jun 02, 2018 ⏰

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