Prólogo

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Quando um navio está naufragando há dois tipos de pessoas a bordo. As que fazem de tudo para sobreviver, mas acabando morrendo na praia, e as que preferem aproveitar o seu último suspiro. Com o barco afundando e tendo apenas água ao meu redor, eu preferia ser os músicos que fazem do seu último suspiro a mais perfeita nota.

Por que eu, Bianca Yamazaki, estou pensando nisso? Bem, eu sinto que à minha frente virá um enorme iceberg. Ontem, eu vislumbrei a ponta dessa geleira e aqui estou eu, mais uma desempregada no país.

O lado bom da coisa é que eu não precisarei tomar mais aquele café horrível nas reuniões de equipe. Mas, sendo sincera comigo mesma, ser psicóloga e poder ajudar os outros é a grande paixão da minha vida. E da mesma forma que um chef não vive sem uma frigideira eu não vivo sem pacientes para aconselhar.

Pelo menos eu terei a minha melhor amiga maluca para me ajudar, já que a Lilian tem a tendência de se meter em confusões e me chamar para vestir a grande capa vermelha e resgatá-la. E desde que ela fez a loucura de convencer um estranho a fingir ser seu namorado as coisas têm piorado. E só para deixar as coisas melhores, o tal estranho é um dos meus paciente, um em uma situação delicada. Mas, sendo sincera, até eu aproveitaria a chance de agarrar o Nic, nunca vi homem tão delícia sentado no meu divã! Pode até parecer errado eu cobiçar um homem enquanto ele fica sentando na minha frente com toda a sua dor exposta, mas helloooo, eu não estou morta enquanto estou ouvindo ele falar.

Enfim, é por isso que eu estou agora, enfiada no meu banheiro tentando não esfaquear os meus olhos com o delineador. Hoje eu iria trocar a capa vermelha por uma toga branca e iria resgatar a coitada da minha melhor amiga.

Todos os anos a família maluca da Lili faz um tipo de encontro geral, e todos os anos eu fujo de acompanhá-la, sei que isso pode parecer a atitude de uma péssima amiga, mas da última e única vez que eu fiz isso, as coisas acabaram ruins. Porém, dessa vez, além de termos o Nic sendo jogado aos lobos, teremos uma festa a fantasia e eu amo fantasias.

Fingir ser outra pessoa tira qualquer inibição que a nossa mente teima em fazer. Usando máscaras nós somos capazes de deixar o nosso lado selvagem sair para passear. Não que eu não faça isso frequentemente, mas com a minha cabeça cheia de problemas do jeito que anda, minhas farras parecem ter ficado no passado. Mas, hoje eu voltaria com tudo!

Olhando o meu reflexo no espelho eu fiquei satisfeita com o meu trabalho. O vestido branco com cinturão colorido estava realçando o meu pequeno corpo. A peruca curta com a tiara em forma de cobra combinava perfeitamente com a maquiagem que eu elaborei, até mesmo os braceletes pareciam estar no lugar certo. Eu só precisava colocar o meu salto básico para "crescer na vida" e tudo estaria perfeito.

Antes de entrar no táxi que me esperava eu decidi que a pessoa com problemas financeiros e preocupações ficaria trancada no meu apartamento e pessoa que iria aproveitar a noite seria uma mulher ardilosa e poderosa.

- Prepare-se mundo, Cleópatra saiu para abalar! - gritei ao vento antes de abaixar a cabeça e entrar no táxi.

*****

Luzes piscando, pessoas se agitando e música pulsando através de mim. Eu poderia estar em uma boate gay, com todas as tias da Lili apontando para mim, mas eu nunca me senti tão livre quanto agora. Tenho certeza de que todo o álcool que eu ingeri teve grande influência nisso, mas felicidade é felicidade, vendido em uma garrafa ou não, o importante é aproveitar a euforia.

Minha amiga que o diga, já que há duas músicas atrás, ela e seu falso namorado agitaram essa multidão com os velhos passos de Ragatanga, coisa que a Lili sã nunca faria. Eu já tinha perdido o casalzinho de vista há um bom tempo e estava rezando para que aqueles dois estivessem tendo um momento juntos, pois é de conhecimento geral que a minha amiga está precisando.

Negócio do Acaso #2 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora