Capítulo 7

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Geralmente eu sou uma pessoa paciente, sei esperar o momento certo para agir, como uma pantera sorrateira e letal. Porém, sendo obrigada a suportar a mistura de uma sirene e dos gemidos de uma péssima cantora, eu estava no limite.

Se os meus convidados especiais não chegassem logo, eu seria capaz de destruir a casa toda, apenas para acabar com essa tortura auditiva. Mas, é claro que toda essa revolta interna, era somente isso, no interior da minha mente, por isso, quando os seguranças chegaram, eles me encontram como uma perfeita dama, sentada comportadamente na cozinha beliscando uma maçã verde.

Aposto que essa cena era o completo oposto do que eles esperavam encontrar.

– Aleluia! Achei que vocês só viriam no próximo milênio!

Os dois homens uniformizados de preto ficaram estáticos por alguns segundos. Pensei até que estariam me reconhecendo ou coisa do tipo, mas logo o mais baixo deles se dirigiu até o equipamento de segurança e desativou o som irritante do alarme.

– Recebemos o aviso da central e viemos o mais rápido senhora.

– Senhora? Só se for a que está no céu. – agarrei o controle do sistema de som e o silêncio novamente se instalou na casa.

O outro segurança ainda continuava a me encarar, o problema era que eu nunca tinha vista o sujeito mais magro na minha vida, e a situação estava começando a ficar estranha.

– Err... vocês vão precisar que eu assine alguma coisa? – tentei fazer com que o homem voltasse à vida real.

– Eu não acreditei que ele falasse a verdade! – o homem que não tirava os olhos de mim tinha uma voz meio fina, como o de um adolescente.

– Ele quem? Carlos, o patrão já falou para você não beber no serviço.

Eu fiquei paradinha ali, apenas assistindo o desenrolar desse episódio estranho.

– Mas é dele mesmo que eu estou falando! Olha para a moça aqui. – o tal Carlos apontou para mim e eu comecei a ficar nervosa com isso, já que agora eram os dois que me analisavam da cabeça aos pés.

Eu havia feito aulas de autodefesa por anos, mas no segundo em que eu me senti encurralada pelos dois homens, eu fiz a coisa que toda mocinha em filme de terror faz quando chega à cozinha, eu corri para alcançar uma das facas. Mas, ao abrir a gaveta da ilha eu só encontrei um batedor de ovos, o que não era muito bem uma arma, porém, ainda era de metal e os dois homens, bom, eles tinham ovos que poderiam ser batidos.

– Olha só, não quero nem saber qual é o problema de vocês. Mas fiquem longe de mim, eu estou avisando!

Eu vi surpresa estampar a cara dos dois seguranças, mas logo, eles começaram a rir da minha encenação de heroína corajosa.

– Bem que o chefe disse! Ela é uma figura! – o homem que ficou me encarando primeiro, Carlos, pegou seu telefone e começou a digitar freneticamente na tela. – Prontinho, daqui a pouco o homem chega aqui para ter essa surpresa.

– Só espero que você não arrisque o meu emprego! – o mais sensato dos dois, aparentemente lembrou que eu estava na frente deles. – Moça, eu vou precisar registrar a ocorrência. Vou pegar a papelada no carro. Mas só para confirmar, a senhora é moradora do local, certo?

O profissionalismo do rapaz era admirável, mas o raciocínio era um pouco lento. Me segurei para não ser ríspida e falar alguma coisa espertinha, me segurei mesmo, pois eu não sabia ao certo o que os dois indivíduos fariam.

– Sim, sou a herdeira. Eu acho que ainda estou no testamento, mas enfim, sou da família.

– Filha do meio? ­– o Carlos perguntou.

– Mais velha e menos reconhecida. – respondi com um pouco menos de medo no meu sistema sanguíneo.

– Quem disse que granfino também não tem barraco de família? Vai lá Souza que eu fico com a moça até o chefe chegar.

O homem mais normal, o Souza, saiu da casa me deixando com o observador esquisito Carlos, não que parecesse ser uma ameaça, já que na aventura maluca da Lili com o Nic eu enfrentei bandidos armados e saí viva, mas era desconfortável estar sendo analisada por um estranho.

– Hum, então, quem é o seu chefe mesmo?

– Ah isso eu vou deixar a senhorita mesma descobrir, até porque esse homem é louco por uma moça igualzinha a você. Ele diz que é o amor da vida dele, coisa de alma gêmea sabe.

– E como é que você sabe que sou eu? Você pode ter se confundido!

Essa história estava ficando muito esquisita. Acho que quando eu entrei na cidade, eu acabei atravessando um portal para uma realidade alternativa, os físicos vivem afirmando que isso é possível. Justo hoje e agora essa maluquice tinha que estar acontecendo? Eu só queria deitar na minha cama com um pote de sorvete e ser feliz.

– Desde que eu conheço esse homem ele fala de uma japonesa miudinha e com um gênio forte. Igualzinha à moça. Mas aguarde senhora, ele já deve estar chegando.

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Preencher formulários deve ser a coisa mais chata do universo. Cheio de regrinhas idiotas, não pode letra assim, não pode rasura assada. Credo de coisa mais irritante.

Eu demorei cerca de quinze minutos para terminar a primeira página de quinze, e tudo isso apenas para explicar o alarme falso que a minha inesperada chegada causou. E pelo o que eu havia lido nas páginas que me aguardavam eu ainda teria que relatar detalhadamente o jeito em que eu adentrei no imóvel.

Como eu iria explicar que invadi a propriedade sem parecer que foi uma invasão ou sem parecer que eu sou uma doida varrida por ficar pulando janelas por aí?

– Isso só pode ser um pesadelo! Eu dormi no sofá, num coma alimentar e isso tudo é mentira!

Por sorte os rapazes da segurança confirmaram o meu direito de propriedade e me entregaram uma chave reserva da casa. E o tal Souza ainda relatou que a casa havia sido assaltada há um mês atrás e uma empregada feita de refém, desde então, nem a governanta fica aqui durante a noite. A segurança foi reforçada, mas só o meu pai vivia aqui.

– Onde ela está?

Uma voz masculina invadiu a casa. Uma voz que despertou memórias engavetadas no meu cérebro, mas que ainda continuavam meio turvas por todo esse tempo longe. Será que eu estou pensando certo?

Meu pulso começou a acelerar igual aos carros em um racha e minhas mãos viraram as Cataratas do Niágara. Eu estava apavorada sem nem mesmo ter certeza de que essa voz pertencia a quem eu achava.

– Ai Meu Deus! Não acredito que finalmente te encontrei!

Quando o corpo alto e muito diferente do que eu me lembrava, vestido num terno de corte impecável, entrou na cozinha e me olhou do mesmo jeito que eu me lembrava, eu dei razão ao meu nervosismo, pois o meu corpo e instintos estavam certos.

– Pois é! Você me encontrou!

Eu só não sabia que isso seria bom ou ruim depois de tudo o que aconteceu.

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Bia sendo Bia! Quem será esse inesperado visitante?

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Negócio do Acaso #2 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora