Aonde está o meu lar

Capítulo 1

Nem me lembro a última vez em que comemorei o natal, para mim é simplesmente mais uma data na qual as pessoas usam para gastar dinheiro com presentes e comidas especiais. O verdadeiro significado do natal foi perdido por muitos.

Na minha casa essa data é muito dramática. Eu tinha apenas 10 anos no meu último natal com meu irmão. Marco tinha 19 anos e fazia faculdade, por isso não morava mais com a gente, entretanto ia para casa todo final de semana. Em nosso último natal juntos ele jogou videogame comigo, assistiu filme e me deu uma correntinha de presente, que uso até hoje. Meu irmão saiu lá de casa por volta das 22 horas para ir encontrar com a namorada e os amigos da faculdade, minha mãe não gostou muito dele ter que atravessar a ponte naquela hora. Uma hora depois minha mãe tentou entrar em contato com ele, mas quem atendeu foi uma enfermeira informando do acidente do meu irmão, ele estava atravessando um cruzamento quando um outro carro avançou o sinal e bateu no carro dele. Pela manhã foi registrada a morte cerebral.

Foi uma época muito difícil, minha mãe não saia do quarto que antes era dele, meu pai escondeu suas emoções e eu me escondia no meu quarto, pegava a foto dele e ficava chorando. Depois de um tempo tudo voltou a rotina, mas sempre com aquela magoa.

Mesmo passado 10 anos, 25 de dezembro se tornou uma data de luto. A maioria dos meus amigos sabem dessa história, porque eles me conhecem desde a infância, e respeitam minha aversão a esse feriado.

Nesse exato momento Camille, minha colega de quarto e uma grande amiga que conheci aqui na faculdade, insiste para que eu viaje com ela para Angra dos Reis, uma semana em uma pousada de frente para o mar. Ela ainda não sabe de toda essa história, não que eu não confie nela, nos demos bem logo de cara, não fazemos o mesmo curso de graduação, mas acabamos rachando um pequeno apartamento perto da faculdade. Ela é muito insistente e não está aceitando meu não como resposta, já disse que não comemoro o natal.

- Ah Helena, vamos comigo por favor! Eu não quero passar o feriado sozinha, esse ano nem estou no clima de festa, quero aproveitar o feriado.

Para minha amiga essa é uma data de renovar as esperanças e ver que um menino nasceu lá em Belém para que hoje eu estivesse aqui. Eu acredito no que ela disse, mesmo me afastando da minha religião e ainda não ter encontrado a resposta do por quê meu irmão ter morrido. Camille é bem religiosa e tenta me levar com ela para as reuniões de jovens, mas ainda falta alguma coisa em mim que não consegue ser preenchida.

O fato da minha amiga ter brigado com os pais por motivos que desconheço, a fez aceitar o convite de um amigo para passar o feriado na pousada da família dele. Uma pousada em Angra, cidade paradisíaca situada na região sul do estado do Rio de Janeiro. Não conheço esse amigo dela pessoalmente, sei que o nome dele é Carlos, é bonito, já vi algumas fotos dele, eles se conhecem desde pequenos, mas aí ele foi morar lá e ela veio para Niterói. E agora, ela está a mais de uma hora tentando me convencer a ir com ela.

- Você ganhou! Vou com você, mas com algumas condições. – afirmei em um tom sério, para ela ver que eu não estava brincando – Sem presente, sem " Feliz Natal!" e sem nada que lembre o espírito natalino.

- Ok amiga. – Ela pulou e depois me deu um abraço tão apertado que quase fiquei sem ar. – Você é incrível, muito obrigada por não me fazer ficar sozinha.

- Como se você fosse ficar sozinha com o Carlos lá. E além do mais, não vai ser sacrifício nenhum passar 6 dias em uma pousada de frente para a praia.

- Claro que não vai ser sacrifício! O ônibus sai dia 21 pela manhã.

- Está ótimo.

Foi bom fazer a vontade da minha amiga. Ter conhecido ela aqui foi muito bom, ela faz farmácia e morava longe e para mim era cansativo atravessar a ponte todo dia. Então, passamos a dividir apartamento. Minha mãe não ficou contente em eu vir estudar aqui, mas nem liguei. Estou no 2º período de jornalismo, quero focar em jornalismo esportivo, assim me sinto mais perto do meu irmão, amávamos esporte e a UFF se tornou minha casa, talvez porque um dia foi o lar do Marco também.