My Jeep began to rock

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O jipe azul balançava com violência na estrada esburacada e desnivelada, fazendo o condutor se contorcer no banco e bater diversas vezes a cabeça no teto. O homem checou mais uma vez o mapa que jazia ao lado, duvidando de seu senso de direção. Aquele não podia ser o caminho certo.

Era três de dezembro de 2015, um dia antes do aniversário de 85 anos de sua amada avó. Nada poderia dar errado já que os doces e o bolo estavam sendo transportados por ele no fundo do automóvel. Bang Yongguk rezava para que não derretessem ou se espalhassem pelas caixas com os movimentos.

Como se entendesse e lesse seus pensamentos, um buraco enorme fez-se presente no asfalto e chacoalhou o jipe, fazendo o homem morder o lábio inferior sem querer. Sentindo o gosto metalizado de sangue e canalizando a raiva dentro de si, apertou os fios escuros do cabelo com força. A mãe, com certeza, o mataria.

Nunca havia visto aquela estrada antes. Tomara a decisão de buscar um atalho de última hora; quase como um sexto sentido o alertando de algo, a mente o obrigou a buscar um percurso alternativo antes que enlouquecesse com a sensação que sentia. Enquanto o rádio ainda funcionava, pôde ficar aliviado quando o locutor narrou um engarrafamento na rodovia que sempre usava para chegar até a casa de sua avó. Sua sensibilidade não estava tão ruim assim; poderia se considerar um médium.

Rira com a própria idiotice, mas logo se silenciara com os olhos atentos na pista.

A mente, de minuto em minuto, o fazia imaginar a mãe chorando desesperada e preocupada enquanto as irmãs tentavam consolá-la. Por onde seu filho estaria? Já fazia quase 24 horas que não tinha notícia nenhuma dele.

Yongguk balançou a cabeça e cantarolou uma música qualquer. Ele poderia estar perdido, todavia acharia a casa de sua avó, e sua mãe nem saberia da "loucura" que havia feito. Ninguém jamais precisaria saber.

Mesmo tentando manter a mente limpa de quaisquer pensamentos, outra coisa o perturbava: sua família.

O único – e talvez o mais incômodo – problema era ter que suportar seus primos, tios e tias quando chegasse lá. Todos sabiam muito bem que Yongguk não estava nada satisfeito em ter que passar horas a fio escutando as mesmas histórias e respondendo questionários sobre a profissão que escolhera. Os familiares não se esforçavam para serem simpáticos, entretanto eram incrivelmente habilidosos para serem inconvenientes. Era o homem chegar para as perguntas começarem: "quantos repetiram esse ano?", "muitas provas para corrigir?", "não acha muita responsabilidade ter que cuidar da educação das crianças?" e "qual é o estado da educação no país?". Extremamente irritantes.

Ele amava ser professor de música na escola em que trabalhava e levava cada aluno no coração, no entanto sua família não conseguia entender tal amor; os parentes só pensavam na riqueza, nos investimentos e nas ações. Yongguk era a ovelha negra que escolhera ser livre ao invés de ficar preso em um cubículo assinando papéis. Ele prezava o interior das pessoas e não o dinheiro delas.

As horas voavam enquanto discutia consigo mesmo, perdido no local bucólico e solitário. O sol, que antes o impedia de enxergar o horizonte, já havia sumido de vista fazia tempo e a lua ia tomando o lugar aos poucos. Os contornos das árvores majestosas preenchiam os vidros laterais e no dianteiro a estrada longa e quase infinita cansava-lhe os olhos. O próprio corpo não sentia mais os trancos ao passar por buracos e desnivelamentos.

Estava cansado.

Yongguk penteou o cabelo com os dedos, piscando duro sem perceber. Os ombros tensos, encostados no banco de couro, pareciam colados no lugar; as pernas compridas apertavam o pedal do acelerador e do freio por reflexo, acostumadas com o movimento; a boca machucada ainda latejava e, ao passar a língua, o homem constatou que o machucado era pequenino.

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