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Sidney Accioly

Triccito, ano 267

Casa de prazer da Joana, 23:07

Sabrina e Paula iam subindo as escadas em direção aos seus respectivos quartos comentando sobre a peculiaridade dos clientes que atenderam durante o dia quando notaram os barulhos vindos de um dos quartos. Era o quarto de Paola e através da porta conseguiam ouvir claramente o barulho dos gemidos de Paola e de algum homem fazendo vigorosamente o seu serviço.

- Nossa! A coisa está pegando fogo aí dentro! – disse Paula sorrindo maliciosamente.

- É melhor nos apresarmos, se Joana a nos pegar aqui vai nos dar outra comida de rabo. Disse Sabrina que embora em tom de censura compartilhava do mesmo sorriso.

Do lado de dentro, o homem começava a reduzir o ritmo até parar enquanto esperava seus músculos relaxarem após a tensão do orgasmo. Era Sid.

Percebendo que seu corpo estava pesando em cima da mulher, mudou de posição apoiando suas costas e cabeça na parede olhando para o breu do teto esperando sua respiração voltar ao ritmo regular. Ao seu lado a moça de cabelos púrpura continuava languidamente deitada enquanto suavemente falava.

- Não consigo me acostumar... - A moça esboçava um sorriso satisfeito no rosto - Você acaba comigo...

Sid soltou um suspiro satisfeito, aquilo definitivamente massageava seu ego. Ela continuou.

- Sabe, apesar de ser um cliente regular você não é muito de falar, não é mesmo? Depois de tantos, digamos, "encontros" já era para eu saber mais de você do que você mesmo... - Dizia enquanto sorria preguiçosamente em meio à baixa luz do cômodo - Sou uma mulher que gosta de saber com quem anda, porque não me conta sua historia? Você não me parece do tipo que tem uma historia tediosa...

Sid olhou para ela por alguns instantes, ainda se recompondo do que acabara de acontecer.

- Ninguém nunca lhe disse que a curiosidade andou matando por aí...? - disse Sid quase esboçando um sorriso - E ao invés de tediosa está mais pra deprimente. Vai por mim, você não vai querer ouvir a minha história - finalizou em tom ameno.

- Não acha que sou um pouco grandinha pra escolher as coisas? - respondeu faceira - E além do mais, não temos nada para fazer enquanto você recupera seu fôlego... - completou juntamente com um leve um beliscão no membro frouxo de Sid.

Ele ficou pensativo por um tempo e então falou.

- A última pessoa à quem contei minha historia, apesar de agora fazer parte dela, não teve muita sorte... De lá pra cá não contei pra mais ninguém, e acho que não voltarei a contar...

Sid encarou Paola, que fez a sua melhor cara de platéia atenta procurando uma posição confortável para ouvir. Isso fez com que ele não conseguisse manter a tensão que pretendia usar para se negar a contar a historia. Segundos após um suspiro profundo numa nova tentativa se recompor, ele começou.

- Não sei te dizer o quanto do meu passado é uma coisa interessante de se ouvir, então vou começar da primeira coisa que lembro. - Paola o fitou e então ele continuou – Fui criado, na verdade acho que o mais certo é "sobrevivi" a infância inteira num orfanato em Centiro, um tempo antes da fusão, naquele tempo tinha uma grande favela com o nome de fossa e não pense que o nome era exagerado, porque não era. Aquilo lá só não era uma verdadeira zona de guerra por causa da influência da maior gangue local, liderado por Rey, conhecido por lá como Rei da fossa.

- Rei da fossa? Pensei que isso era men...- disse a mulher fechando a expressão surpresa quando Sid continuou sem cerimônias.

- Como eu dizia, o lugar onde sobrevivi se chamava Orfanato Arcanjo. Uma velha chamada Vera mandava em tudo por lá. Certa vez me disseram que ela me salvou de morrer a míngua numa sarjeta qualquer depois que minha mãe morreu, não tive tempo nem de ser desmamado... O cara que transava com ela e que supostamente deveria ser meu pai, não esperou nem o corpo dela esfriar pra me abandonar à minha própria sorte. Aquele seria meu fim, mas como eu disse, fui "salvo" pela Vera. Algumas pessoas dizem que eu devia ser grato por isso... Bando de idiotas...

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