O encontro debaixo do visco.

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   Os primeiros raios solares começavam a invadir o quarto, aos poucos Peter acordava e lentamente seus olhos começavam a se acostumar com a luz do dia. Peter ainda sentia uma leve sensação de incomodo nos seus olhos, e seus pensamentos estavam muito embaralhados, não sabia dizer se o que havia acontecido com ele foi um sonho ou se foi algo real. Se sentia como se faltasse algo nas suas lembranças, mas não sabia ao certo. Quando tentou se levantar, percebeu que estava cambaleando, não conseguia dar dois passos sem tombar para algum lado, colocou sua mão na parede e foi se apoiando até o banheiro.

   Não conseguia acreditar no que estava vendo, a cor de seu olho estava diferente, estava muito mais escuro do que deveria ser, como se tivessem trocado os olhos dele, mas a sensação de que aqueles olhos lhe pertenciam desde sua nascença o incomodava. Voltou ao seu quarto confuso com o que havia visto, pegou seu celular em cima da cabeceira e viu que estava a dois dias atrás do que acreditava estar, não conseguia entender o que estava acontecendo, se perguntava se o que aconteceu havia sido real, se aquela garota que havia salvado realmente existia, então inconscientemente acabou se deitando novamente e tornando a dormir

   Enquanto dormia, as cenas dele salvando a garota misteriosa passaram em sua cabeça várias e várias vezes, como se o seu cérebro estivesse obrigando-o a analisar cada detalhe daquela cena. Peter já havia entrado em estado de sonho lúcido, mas mesmo assim não conseguia controlar seus atos dentro daquele mini-filme. Farto daquela repetição, acordou e viu que não estava mais tonto e conseguia andar normalmente, colocou uma camisa e foi para a cozinha e procurou algo para comer, preparou um sanduíche e antes que pudesse dar a primeira mordida, percebeu que estava com realmente faminto, quanto tempo fazia que não comia? Algumas horas? Dias? Não sabia responder essa simples questão, prosseguiu com sua rotina de não dialogar com nenhum de seus parentes.

   No inicio da tarde, logo após almoçar, saiu para o mesmo parque que sua mãe sempre o levava, e as duvidas tornaram a aparecer, começou a se perguntar se tinha mesmo ido no parque no dia anterior, mas o calendário indicava que ele teria ido no próximo dia. Se obrigou a manter aquelas perguntas abafadas, e chegando no parque, olhou para um pequeno lago que havia lá, e seu reflexo o fez lembrar de algo que não sabia bem o porquê não tinha se questionado sobre antes, e novamente sentiu a mesma sensação ao ver o próprio olho, que mesmo mais escuro que o normal, era seu olho de sempre.

   Após pensar um pouco, ergueu a cabeça e viu de longe do lado de uma árvore a mesma garota que havia salvado no dia anterior, mas não tinha certeza ainda se tinha sido um sonho ou algo real. Sem hesitar, correu em direção ao local, mas antes que pudesse chegar, a garota caminhou para atrás da árvore onde sem deixar rastro algum, desapareceu. Para a surpresa de Peter, uma bela garota ruiva estava sentada recostada na árvore, que se assustou ao ver o garoto em sua chegada triunfal igual um touro raivoso, e após um contato visual entre os dois, a garota soltou o livro e se ajoelhou para Peter.

- Por favor, não faça nada comigo! - implorou a garota quase chorando com a cabeça encostada no chão.

- Ei, do que você está falando? - falou Peter sem entender a situação.

   Quando olhou pro chão, viu que a pagina estava falando sobre a linhagem de Plutão, e recolhendo o livro em suas mãos, e em um breve olhada, viu que o livro indicava os mesmos como pessoas extremamente maldosas e impiedosas.

- Eu não farei nada, por favor se acalme. - Falou Peter tentando esclarecer o mal entendido.

   Lentamente a garota ergueu sua cabeça totalmente confusa, dessa vez Peter pôde ver claramente seu olho e ver que era uma garota com belos olhos cor-de-mel, o que explicava tamanha beleza. Então sendo o mais simpático possível, devolveu o livro pra garota e a ajudou a se levantar, se perguntando se deveria ou não contar para ela sobre seu defeito de nascença.

- Você não é alguém da linhagem de Plutão?

- É vergonhoso falar isso, mas eu nasci sem linhagens - por algum motivo, não sentiu necessidade de contar sobre a mudança de cor nos seus olhos.

- O que? Então você não consegue usar nenhuma habilidade? - disse a garota surpresa.

- Não...

- Coitadinho, deve ser bem ruim ter que ver seus amigos usando algum poder. - disse a garota com pena

- Isso não é problema, já que não tenho amigos. Alias, não vai rir da minha cara ou algo do tipo?

- Ué, por que eu faria isso? - disse a garota em um tom meigo

- Porque não tem lugar pra mim na sociedade... - disse o garoto desviando o olhar em um tom depressivo

- Isso não faz sentido, você continua sendo alguém, com ou sem linhagem.

   Aquelas palavras mexeram com Peter, por um pequeno instante ele se lembrou de sua falecida mãe, que mesmo sendo diferente, o apoiava profundamente. A vontade de ser amigo com aquela garota era quase que iminente, começou a pensar nela como uma anja que veio mostra-lo que não se pode desistir ainda.

- Poderia me dizer seu nome? - disse Peter com um pequeno sorriso bobo.

- Claro! - disse a garota novamente com um tom meigo - Eu sou Alice, da linhagem de Vênus, e você?

- Sou o Peter, um idiota sem linhagem... - falou com um tom distante.

- Ei, não diga isso! você é alguém legal, isso que importa! - falou Alice tentando animar Peter, que aparentemente surtiu efeito

   Peter estava extremamente feliz por encontrar alguém que o via como sua mãe, estava tão alegre pela situação que não tinha percebido que ainda não havia respondido a garota, seu cérebro tentava assimilar as coisas e tentar descobrir se não era outro sonho, Alice  com sua voz meiga que pareciam doces notas musicais em harmonia, tentavam chamar a atenção de Peter.

- An? Será que pessoas sem linhagem travam as vezes? - disse Alice - Ooooi! Olá? Peeeter!

- Alice! Você gostaria de ser minha amiga? - falou Peter com os olhos brilhando.

- Claro! - respondeu Alice com um grande sorriso.

   Tudo parecia perfeito para Peter, ele conhecer uma garota que não tinha preconceito com ele, alguém simpática, bonita. Por um momento ele tinha esquecido de todos os problemas que passava com sua família, das coisas que haviam acontecido com ele no começo do dia e no misterioso dia anterior. Mas repentinamente alguma coisa atingiu ambos em cheio, arremessando-os para longe.

"Mas oque... aconteceu?" - pensou Peter enquanto estava no meio do ar, podendo ver Alice pouco a frente, também no ar.

God eyes: Num piscar de olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora