01| Dizem que são bons na cama.

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Combinei com Paige no Buffalo. Enquanto espero por ela, peço um bottomless filter coffee. Vejo alguns moços bem jeitosos que quando passam para o balcão deixam a fragância dos seus perfumes, alguns ainda me olham e sorriem. Simpatias. Estou a pousar o meu copo descartável em cima da mesa após dar um gole quando avisto Paige a entrar pelas portas transparentes. Esta mulher nunca consegue chegar a horas a lado nenhum.

- Muito atrasada? - ela pergunta assim que se afunda na poltrona à minha frente.

Digo que não com a cabeça.

- Que bom. - ela suspira.

- Para ti chegar atrasada é chegar a horas. - levo o meu copo aos lábios e dou um gole da minha bebida.

Ela franze as sobrancelhas e depois surge um sorriso no canto da sua boca. Ela levanta a mão para chamar um empregado e faz o seu pedido que rapidamente lhe é servido.

- Tinhas mesmo que estar a beber isso? - ela pergunta com cara de nojo.

Desde que a conheço, eu bebo sempre café e ela chocolate ou outra coisa qualquer que não café. Sempre embirrou comigo por eu gostar de café, agora só implica por questão de hábito.

- Claro! - dou um sorriso. - Sabes como é.

Ela leva a sua bebida à boca, dá um gole e depois pousa o copo.

- Então com quem dormiste a noite passada?

- Paige! - repreendo-a.

- O que foi? Quando foi a última vez que tiveste sexo? - pergunta a minha melhor amiga.

Dou um longo suspiro de frustração. Mas por que é que temos que falar sempre em sexo?

- O Barry foi ontem lá a casa. - comento aborrecida.

- O que queria o desgraçado? - ela abana a cabeça.

- Sinceramente?

- Oh Vicky, tu não lhe dês mais oportunidades. Sais sempre magoada. Ele é um filho da mãe que não valoriza nada. Tu não és uma qualquer. Tens que ter amor - próprio.

Ela tem razão.

- Foram muitos anos juntos.

- Muitos anos de controlo, queres tu dizer, e tu feita parva deixaste-o fazer tudo o queria de ti. Havia de ser comigo! - ela ingere mais da sua bebida com violência. - O que queria ele ontem?

- Conversar.

- Vocês já estão separados há meses, por que raio ele não te deixa em paz de uma vez?

- Ele deve achar que ainda vamos voltar, sei lá. - enrolo uma madeixa de cabelo com os dedos.

- Idiota! - ela bufa.

Ficamos em silêncio uns instantes. Ela pede um bolo de mirtilo que lhe é servido pelo empregado mais "sexy" do café - palavras dela mesma.

- Então onde deixaste o William? - pergunto roubando-lhe um pedaço do bolo.

- Ginásio. - responde de boca cheia o que me faz gargalhar.

- Vou para Tóquio no final desta semana. - digo-lhe assim que consigo parar de rir.

- Isso é ótimo. Tem cuidado lá com os chineses. Não tenho preconceito mas não quero sobrinhos com os olhos assim - ela faz os olhos rasgados com os dedos.

É que nem vou comentar a questão dos sobrinhos.

- Não são chineses, Paige, são japoneses.

- Tanto faz, tanto os chineses como os japoneses têm os olhos assim - ela faz novamente os olhos rasgados com os dedos.

Gargalho. Ela é uma idiota.

- Não estou a fim de ter alguma coisa com chineses ou japoneses.

- Olha que dizem que são bons na cama.

Rio e tapo a boca com a mão.

- Paige, por favor.

- Parei. - ela levanta as mãos.

- Vou com o Thomas a Tóquio.

Ela abre um sorriso que mostra os seus dentes brancos e perfeitamente direitos.

- Tudo bem por ti?

Ela faz uma cara de confusão.

- Por que não haveria de estar? Eu não estou mais com o Thomas.

- Eu sei, mas não quero gerar problemas entre nós. Tu e o Thomas namoraram durante tanto tempo...

- O Thomas é passado. Somos amigos e ponto. A minha vida continuou e a dele também.

Fazemos uma pausa em silêncio durante uns instantes. Observo um pedaço de homem de camisa branca e calças e sapatos pretos a entrar pelas portas transparentes. O quanto me excita ver um homem de camisa, principalmente branca. Desvio o olhar de novo para Paige.

- Passei a noite com o Thomas.

- Passaste como assim? Vocês envolveram-se?

- Não, encomendámos uma pizza e ficamos a ver um filme com um bom copo de vinho. Mais nada. Não me sinto preparada para ter sexo por enquanto e muito menos com o Thomas.

- Porquê? - questiona de sobrancelha erguida.

- Em primeiro lugar - faço o gesto com o dedo de primeiro - tu e ele já foram namorados e segundo, - faço o gesto com o dedo de segundo - somos amigos desde que éramos adolescentes, iria ficar muito estranho se tivéssemos alguma coisa um com o outro. - tento imaginar na minha cabeça como seria e acabo por fazer uma careta.

- Na base de qualquer relação deve estar uma boa amizade.

Oh não, lá vem ela com as suas filosofias. Ela repara que não gosto lá muito da ideia e decide mudar de assunto.

- Prometes arranjar um chinês jeitoso lá em Tóquio?

Dou uma gargalhada capaz de ser ouvida na rua. Cada vez que olho para a cara dela, rio ainda mais.

Após uns dez minutos a rir e de me doer a barriga de o fazer, respondo-lhe:

- Não, Paige. Não prometo. - tento fazer um ar sério. - E são japoneses, não chineses, sua tola.

Quem ri agora é ela. Pede-me com a mão para não dizer nada.

- Vou inscrever-te num site de encontros, Vicky!

- Oh meu deus! Não estou bem sozinha? - a minha melhor amiga é doida.

- Quando tu e o Barry terminaram sim, fez-te bem esse tempo sozinha, mas agora já não. Ninguém está bem sozinho, Victoria.

- Já te disse que devias ter seguido psicologia? - brinco com ela.

- Inúmeras vezes. - ela sorri. - Estou a sério.

- Está bem, está bem. - rio.

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