31| Anjo.

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[Liam]

Aquela voz dos infernos não para de ecoar nos meus pensamentos "A culpa é tua!", vezes sem conta. Jamais lhe deveria ter escondido o que aconteceu e jamais deveria tê-la deixado sair de casa.

Victoria parecia tão pálida e vulnerável, deitada inconsciente, rodeada de algumas máquinas e monitores. O meu coração está como se tivesse parado. Não sinto nada além de uma imensa dor e culpa. Eu sei que ela vai ficar bem, ainda assim o meu coração dói ao vê-la imóvel e frágil.

Acariciei a sua mão e paralisei quando ouvi um gemido vindo dela.

- Victoria? - Aproximei-me mais dela. – Estás a ouvir-me?

Ela pestaneja e os seus cílios abrem-se, então olha-me por um segundo e volta a fechar os olhos no instante seguinte.

Não se mexe, no entanto, volta a gemer.

- Onde estou? – pergunta-me ela. Um arrepio de alívio percorre o meu corpo por ela estar a falar novamente.

- No hospital.

Os seus olhos estavam arregalados e sem foco, então ela volta a fechá-los. Preciso de ver as suas piscinas azuis mais do que meramente segundos.

- Querida? Abre os olhos. – imploro, acariciando a sua mão, tendo cuidado com o cateter.

- Vai demorar algum tempo até ela recuperar totalmente os sentidos. – uma enfermeira diz mal entra no quarto.

- Ela abriu os olhos ainda há minutos. – comento, observando as ações da enfermeira.

A senhora de estatura baixa troca uma pequena embalagem no suporte do soro e afofa as almofadas do meu anjo de cabelos loiros, antes de me dar um afável sorriso.

- Ela vai acordar. Podia ter sido muito pior.

- Eu sei... - murmuro.

- Devia ir para casa descansar e voltar amanhã de manhã. – a enfermeira aconselha-me.

- Eu prefiro ficar.

- O senhor é que sabe. – ela afasta-se. – Boa noite, senhor Hunter.

- Boa noite. – respondo e então ficamos com metade da iluminação.

***

Os pais da Victoria seguiram o meu conselho e foram para casa durante a noite, mas voltaram de manhã. Estou encostado à máquina de café a ingerir o meu café, com um ligeiro sabor a queimado quando os pais dela aparecem.

Gilian abraça-me assim que se aproxima de mim sem eu estar à espera. Fico atrapalhado, mas rapidamente retribuo o abraço, afagando levemente as suas com uma das mãos, enquanto a outra segura o copo descartável com a bebida quente.

- Como é que a nossa menina passou a noite? – ela pergunta após depositar um beijo na minha bochecha e se afastar para se juntar ao marido, que me cumprimenta com um aperto de mão.

Termino de beber o café e atiro o copo para o caixote do lixo mesmo ao lado da máquina.

- A Victoria abriu os olhos mas a enfermeira disse que ela ia levar tempo a recuperar todos os sentidos.

- O importante é que está fora de perigo. – Morrison diz.

- Eu sinto muito por aquilo que aconteceu. – lamento mais uma vez. Já o fiz milhentas vezes, ainda assim sinto necessidade de o fazer novamente.

O médico que está a acompanhar a Victoria passa pela sala de espera do piso e acena-nos. É desagradável quando penso noutro homem a tocar-lhe, mesmo que seja apenas para examiná-la. Afasto esse pensamento da minha mente (ou não totalmente) e abandono a sala de espera, pedindo licença aos meus sogros, para voltar para o quarto do meu anjo.

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