Capítulo 1

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O meu irmão já costumava ser muito protetor comigo, mas ultimamente ele abusava e, como sempre, eu já sabia que se tinha passado alguma coisa de mal. Era sempre o mesmo, ele e os "amigos" dele arranjavam confusão com um grupo qualquer da cidade e pronto... daí vinham muitos problemas. Eu sei que não parece nada de especial, mas isso é porque as pessoas não sabem o que realmente se passa, eles eram perigosos, tanto os "nossos" como os outros e eu é que levava com as consequências, porque eu que ficava fechada em casa enquanto eles lá se resolviam.

Depois dos nossos pais morrerem fomos viver com o nosso tio, eu tinha apenas sete anos e o meu irmão já tinha catorze. Agradeço muito ao meu tio por nos ter acolhido e claro que o adoro muito, se não fosse ele eu e o Cade estávamos em famílias separadas ou em orfanatos. O mau de viver com o meu tio era que ele não tinha uma reputação lá muito boa e, na verdade, ele é exatamente tudo o que dizem dele. Geralmente toda a gente gosta do meu tio, não por terem medo ou se sentirem ameaçados perto dele, mas porque ele tenta sempre proteger toda a gente da nossa zona e nunca deixa que os seus negócios, e sabe-se lá que tipo de negócios ele tem, interfiram no bom funcionamento e na segurança da cidade. Então, quando o Cade fez vinte e um anos, o tio deixou-lhe o cargo lá nos negócios dele e acho que o Cade até se adaptou bem à situação, mas ele sempre foi muito mulherengo e acabou por se envolver com a namorada do filho do rival do nosso tio. Parece confuso e uma coisa muito de filme, não parece? Mas na verdade é muito simples. O nosso tio dirigia um negócio que penso que é relacionado com drogas ou armas ou qualquer coisa assim, e a cidade está dividida a meio, na outra metade da cidade há outro homem que se encarrega dessas coisas. Agora que o tio se reformou deixou a liderança ao Cade, que tem vindo a ser treinado para aquilo desde que viemos para cá e o rapaz foi logo meter-se com os do outro lado da cidade. Para já ambos os lados da cidade parecem-me em paz, limitam-se a picar e a ameaçarem-se mutuamente e, enquanto assim for, melhor para todos, nem quero imaginar o que aconteceria se eles decidissem começar uma guerra de gangues, de vez em quando há uma disputa de território, mas nada de especial.

Neste momento o meu irmão já tem vinte e cinco anos, já se passaram quatro anos desde que ele assumiu a liderança disto tudo e continua tudo igual. Quanto a mim, só quero uma vida normal de uma rapariga de dezoito anos, poder ir às compras e ao cinema com as minhas amigas, sem preocupações, sem pensar em gangues, disputas de território e essas coisas. Não me encaixo lá muito bem no meio deles, o meu tio tentou criar-me afastada desses problemas e complicações, então eu não sei nada de importante. Não ligo para o que se diz deles, das coisas más que eles fazem, que nunca ninguém sabe se são verdadeiras ou não, eu não quero saber se são, não me importa nada disso, sei que eles são a minha família e que foi com essas pessoas, supostamente perigosas que eu cresci, sou a "princesinha do gangue".

- Ariana! - Ouvi o Cade a chamar-me.

- Diz! - Gritei-lhe do meu quarto.

- A Clio está aqui! - Ele gritou-me também.

- Estou no quarto. - Anunciei para que ela viesse ter comigo.

A Clio é a minha melhor amiga praticamente desde que comecei a morar com o meu tio. Quando me mudei para cá não conhecia ninguém porque nós morávamos com os meus pais noutra cidade, eles queriam manter-se afastados desta vida. O pai da Clio é amigo de infância do meu tio e da minha mãe, então o meu tio tratou de nos apresentar.

A Clio entrou no meu quarto de repente e atirou-se para cima da minha cama, ficando deitada à minha beira.

- Então Ari, o que vamos fazer hoje? Apetece-me ir passear.

- Não posso. Estou trancada cá hoje.

- O teu irmão ainda não te deixa sair de casa?

- Não. E não sei se vai deixar sair tão cedo.

Mais Perto Do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora