Domingos, em sua maioria, eram dias bem entediantes pra mim, mas aquele domingo, em especial, foi bem diferente, eu tinha muita coisa pra pensar. Logo que acordei por volta das 9 da manha não encontrei Ana em casa, a certeza de que ela estava fugindo de mim pelo que aconteceu na noite anterior estava me corroendo. E além disso, tinham aquelas mensagens fora de contexto. Estou até agora me perguntando o que deu no meu chefe pra ele me mandar aquelas mensagens. Não faz o estilo dele!
Eu procurei manter os pensamentos longe do meu chefe, das mensagens, longe de tudo, mas parecia veneno, todas as vezes que eu fechava meus olhos era o rosto dele que me vinha a cabeça. Eu já estava a ponto de surtar. Foi quando eu tive a ideia de ligar pro Bruno e chama-lo pra irmos à um parque que gosto do outro lado da cidade. Meu amigo não se fez de rogado e topou na mesma hora. Pelo menos alguém não estava fugindo de mim.
Em menos de meia hora o carro do Bruno estava estacionado na frente do meu prédio e eu pulo dentro do automóvel tão rápido que até Barry Allen sentiria inveja de mim.
- Pra quê tanta pressa, gatinha? - Cumprimenta-me Bruno com um beijo no rosto.
- Bru, só estou feliz em te ver - Faço minha melhor cara de "estou mentindo, mas finja que acredita", mas infelizmente ele não cai nessa.
- Bia, não vem com essa. - Ele me encara e continua - O que está acontecendo? Você não iria sentir minha falta assim tão rápido, nós nos vimos não tem nem 24 horas. - Diz enquanto sai com o carro.
- Ah, Bruno, é impossível esconder algo de você. - Digo derrotada. - Ontem depois que você deixou o apartamento eu recebi duas mensagens do meu chefe e isso está mexendo comigo. Não sei mais o que pensar. Por isso quis sair de casa, já que a Ana tomou chá de sumiço hoje. - Vejo o seu semblante mudar quando toco no nome da minha amiga, mas ele logo volta a prestar atenção no transito e eu não faço perguntas quanto a isso.
- E o que tinha nessas mensagens que te deixou tão perturbada?
- Antes de eu dormir eu peguei meu celular e tinha uma mensagem dele me agradecendo pelo trabalho e logo depois chegou outra dele me desejando boa noite e falando pra eu dormir bem. Mas isso vindo de uma pessoa quem nem bom dia me dá é de se estranhar.
Após alguns meninos de silêncio, Bruno resolveu falar, porém eu não esperava pela resposta.
- Pequena, você já pensou muito no seu chefe hoje, agora nós vamos nos divertir.
Ele ligou o som do carro que começou tocar uma música que eu não conhecia, mas era tão animada que começamos a dançar e cantar mesmo sem saber a letra.
Carlos
Eu não sabia o que estava pensando ao escrever e clicar no botão de enviar aquela mensagem, mas no momento pareceu tão certo. Eu simplesmente não parava de pensar naquela garota de cabelos revoltos e olhos expressivos, na sua petulância. Em outros tempos ela já não estaria mais trabalhando pra mim, só que não sei o que acontece comigo quando ela está por perto. Eu sinto uma vontade de vê-la irritada, de vê-la puta comigo. Parece que voltei à minha adolescência. Essa menina desperta o pior em mim, mas, por incrível que pareça, o melhor também. Eu sinto vontade de cuidar, de abraçar, de tocar, de proteger. Porém, sei onde é o meu lugar e eu não estou nem um pouco afim de tomar um processo por assédio no trabalho. Preso muito minha carreira pra que isso aconteça.
O domingo passou arrastado, eu tinha que ler alguns contratos de trabalho e fiz isso durante a manhã. A tarde eu tinha combinado de sair com o Gabriel, ele queria me encontrar em um barzinho que fica perto do Parque Municipal. O Parque é um lugar bonito e atrai muitas famílias e casais nos fins de semana. Não fui capaz de evitar o pensamento que surgiu nesse momento, eu e a minha menina andando de mãos dadas pelo parque, nos abraçando, nos beijando.
Me esforço pra afastar esse pensamento. Ela não é minha menina e isso nunca vai mudar, infelizmente.
Antes de sair de casa o meu telefone toca, olho no visor e vejo que Gabriel, a impaciência em pessoa, está me ligando. Se Biel não fosse meu melhor amigo e primo, acho que já teria o atirado da ponte mais próxima. Antes que a Chamada vá pra caixa de mensagem eu atendo.
- Já estou saindo. - Falo sem dizer nem "alô"
- Que bom! Pelo menos, dessa vez é você quem vai me esperar, mas não esquenta que chego rapidinho.
- Okay! - Digo mais pra mim mesmo, já que o Biel já tinha finalizado a ligação.
Como meu primo iria demorar um pouco eu caminho até o parque, que fica há uns três quarteirões da minha casa, a fim de pensar um pouco.
Ao chegar no meu destino resolvo sentar embaixo de uma árvore e observar o movimento. Embora eu morasse tão próximo daquele lugar eu quase nunca vinha aqui. Chamei a Amanda, minha ex namorada, algumas vezes para vir comigo, mas ela não quis, sempre fugia de programas "naturebas" como o diabo foge de cruz. E eu sempre deixava pra lá.
Mas agora aqui, sentado nessa sombra, eu sinto uma paz inacreditável. É gostoso sentir o vento soprar no meu rosto. Fecho os olhos para aproveitar cada sensação que aquele momento me proporciona e é o resto dela que vejo, aquele sorriso atrevido... Balanço a cabeça pra afastar o pensamento e quando olho para minha frente eu tenho a impressão de tê-la visto correndo em minha direção.
Fecho os olhos novamente e os esfrego. Eu só poderia estar sonhando.
Não era sonho. Era pesadelo. Quando abro meus olhos novamente eu a vejo correndo para os braços de outro. Ele a abraça e rodopia com ela. Ela está as gargalhadas quando os dois caem no chão. Meu corpo tensiona com o pensamento dela ter se machucado, mas logo a gargalhada dela aumenta, mas em vez de relaxado eu fico mais tenso. Eu não sabia que ela tinha um namorado. É melhor assim, isso me obriga a esquecê-la.
Antes que eles notem a minha presença eu me levanto e caminho em direção ao bar. Ao sair de casa eu não imaginaria que aquele convite para um Chope iria ser tão útil como seria agora.
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A assistente
ChickLitSempre atrapalhada, Beatriz não leva desaforo pra casa, nem mesmo quando começa a trabalhar para o grande Carlos Aguiar. Uma antipatia mútua que surge quase que imediatamente entre eles irá se desenvolver em algo muito maior. Porém, coisas do passad...