Morto e Passado

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A movimentação no beco havia começado há mais ou menos meia hora, e a mídia já estava lá, "esse bando de babacas não podem ouvir de um corpo morto e já estão encima dele pra disseca-lo", pensou Amélia chateada. A sua relação com jornalistas nunca havia sido uma das melhores, eles estavam sempre lá para atrapalha-la na resolução de seus casos, cobrando impacientemente pelas respostas como se a própria detetive não estivesse nem tentando resolver as paradas.

Como se não bastasse a cara de poucos amigos da detetive, um repórter correu rapidamente ao seu encontro, e assim que abriu a boca um enxame de perguntas saíram.

- Qual o nome da vítima? E a sua idade? Qual foi a causa da morte? Quem o matou? Quais o seus palpites? E da sua equipe?... - o rapazinho continuou a fazer perguntas, mas a detetive já não dava mais ouvidos. Amélia procurou o policial mais próximo, que no caso era o oficial Roger, e sinalizou que estava sendo incomodada.

- Deixe me trabalhar, por gentileza - falou séria e calma.

- Rapaz, por favor, saia dessa área imediatamente - falou Roger empurrando o repórter para longe e abrindo caminho para a detetive, que foi até a faixa amarela de não ultrapasse que demarcava o local onde o corpo estava. Ao passa por baixo da faixa que fechava o beco, o seu novo parceiro de trabalho, detetive Tyler Brandon chegou rapidamente.

- Desculpe o atraso - disse Amélia meio sem jeito - o trânsito estava um verdadeiro caos.

Tyler encarou a detetive com seus grandes olhos azuis como se não tivesse engolido aquela desculpinha.

- Aham tá... - murmurou baixinho - Você é sempre assim?

- Quê? Não, de maneira alguma - disse surpresa com a pergunta. Só fazia dois dias que eles se conheceram e esse seria o primeiro caso juntos como parceiros - Eu não sou de me atrasar, normalmente. Enfim, cadê o meu cadáver?

Tyler a acompanhou puxando seu bloquinho de anotações do blazer e abrindo a caneta com um estalo. Amélia já havia notado que ele tinha uma certa tara por aquele bloquinho. Ao chegar perto do corpo estirado no chão Tyler começou a falar.

- De acordo com a carteira do cara, ele se chama Edgar Mosby, tem alguns dados pessoais também, números e bláh bláh bláh - disse empolgado, tirando um saquinho com alguns pertences do morto do bolso e entregando a detetive - Enfim, você pode não saber já que é nova na cidade, mas, não se trata de uma pessoa qualquer, e sim de alguém muito famoso pelos arredores.

- O que você quer dizer é que o sujeito era um rodado? - Amélia retirou um par de luvas do bolso e abriu o saquinho plástico para examina-lo.

- Pode se dizer que sim - Tyler anotou algumas coisas no bloquinho - O cara era um advogado barra e estava sempre envolvido em escândalos. E o bixo era bom.

- Identificação, Edgar Amadeus Mosby, carteira... Hmm... Recheada, relógio... Rolex, e um celular - olhou para Tyler e mostrando o celular - vamos dar um olhada nisso aqui com muito carinho, okay?

- Sim, senhora.

A detetive devolveu o saco para seu parceiro e abaixou-se perto do corpo. Tratava-se de um homem por volta de 40 seus anos, cabelos grisalhos, terno e sapatos de marca, muito elegante e bonito. Não era a toa que o cara era rodado. Seu rosto estava em um coloração suave de azul e roxo. Amélia já podia dizer como ele havia morrido.

- E quem foi que descobriu o nosso amigo aqui? - perguntou olhando para Tyler, que virou algumas páginas de seu bloco de notas rapidamente.
- Senhora Shirley Bitencú, dona do cabaré ao lado.
- E onde ela está? Vou querer dar uma palavrinha com ela.
- Lá dentro, se recuperando do susto. Alguns de nossos policiais estão a acompanhando.
- Aham...
A detetive se levantou e colocou as mão na cintura, botando a mente para trabalhar.
- Olá - disse uma voz rouca no pé do ouvido da detetive, que não reagiu muito bem a surpresa.
- AAAAIIIIIIIAAA - aplicando um antigo golpe de autodefesa que consistia simplesmente em chutar as bolas do cara.
Um homem que aparentava ter trinta e pouco se contorcia no chão gemendo de dor.
- Quem é você?
Tyler começou a gargalhar alto e não muito tempo depois já estava sem conseguir respirar direito. O homem estava pálido e com os olhos marejados. A detetive ficou de braços cruzados esperando o cara se recuperar.
Ainda com cara de sofrimento, o homem se levantou ajeitando o terno cinza que vestia. Ele era alto, de cabelos castanhos, musculoso e muito elegante.
- Sou o Doutor Kauânus Carlos - se apresentou estendendo a mão - o legista escolhido para examinar o defunto.
- Bom saber - ela apertou a mão do médico, que fez um sorrisinho malandro - Sou a detetive Amélia Parker, responsável por esse caso. E devo lhe dizer que sou muito rígida em relação ao trabalho, então precisarei dos resultados dos exames o mais rápido possível.
- Mas é claro, com certeza, pode contar comigo - falou rapidamente - E se você quiser, quando eu tiver a autopsia do corpo, eu posso passar na sua casa à noite - disse calmamente, dando uma piscadela - Sabe, para você não ter trabalho de ir buscar os papéis.
Parker ficou sem resposta por um momento, espantada com tamanha audácia. Afinal, eles tinha acabado de se conhecer.
- Hmm, Kauânus, certo? - ela disse se aproximando - Escute bem, a relação aqui é somente profissional. Então não venha com esses joguinhos para cima de mim, porque não rola.
O doutor ficou sem jeito com a resposta tão direta e começou a abrir e fechar a pulseira do relógio e mecher a boca de maneira esquisita como fazia quando estava nervoso. Ele não era acostumado com o tão doloroso não, normalmente seu charme fisgava as mulheres com certa eficiência, no mínimo uma ceninha básica de "Sou difícil" seguida de olhares intensos e se é que vocês entendem, alguns minutos depois, gemidos de prazer.
- Sendo assim - ele endireitou a postura - Irei ver o meu querido morto.
Ao se aproximar do corpo um misto de estranhas expressões passou pela face de Kauânus Carlos. A detetive podia jurar que uma deles era de surpresa e tensão. Se ele fosse alguém sem experiência na área, Parker não teria suspeitado, mas aquilo não era típico de um legista que sempre meche com corpos, e de acordo com o Tyler, que possui anos de prática ramo.
- Você o conhecia? - perguntou a detetive.
O doutor pareceu estranhar a pergunta, mas Amélia, que sempre fora muito observadora e com orgulho, percebeu os poucos segundos de hesitação que foram seguidos da resposta.
- Não, não, não. Eu não conheço esse homem. Mas sei quem ele é. Advogado famosíssimo. Um verdadeiro tubarão.
Dr. Kauânus Carlos o examinou de forma rápida.
- Pela coloração de seu rosto e as veias saltando eu diria que ele pode ter morrido de asfixia, mas sem marcas de estrangulamento visíveis.
- Talvez algum gás?
- Palpite considerável. Eu acredito que sim. Mas terei que fazer alguns testes no laboratório para saber com precisão.
- Certo.

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