Capítulo 2 - My misery and my old friends

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   Mais um dia no inferno, em que tenho que lidar com gente burra, valentões, preconceituosos e o pior de tudo: a solidão.

   Sabe, existiu uma época em que eu era "feliz". Agora que tento me lembrar, a memória parece distante, mas é de mais ou menos dois anos atrás. Eu tinha amigos, dois idiotas que sempre vão estar em meu coração mesmo que eles talvez não quisessem estar se vissem o que me tornei. Eu fui de retardado "feliz", para sarcástico depressivo e tudo gira entorno do maior valentão da escola:

   Felipe.

   Mas eu não tive muito tempo para pensar, já que o sinal bateu indicando o começo das aulas e minha sala é a de percurso mais longo. Entre empurradas e pisadas em tênis alheios, consegui chegar a tempo de arrumar uma cadeira no fundo onde o professor já desistiu a muito tempo de vigiar. Ninguém dessa sala respeita os professores mais, e por isso eles nem ligam mais se botaram fogo nas coisas contanto que continuem vindo para as provas e passem de ano.

   Isso já demonstra o nível dos alunos que sou obrigado a compartilhar ar com, e pode ter certeza que eu odeio fazer isso. Eu odeio ter que vir tão cedo pra escola. Odeio ser ignorado. Odeio não ter ninguém. Odeio que todos aqui só se importem com a porra do próprio umbigo.

   Sentado no meu canto da inexistência, pude pegar o material e coloca-lo no devido lugar para depois me recostar na cadeira e voltar a pensar nos motivos de tudo ir de mal a pior.

   Meus amigos, eles eram diferentes. Mikhael e Tarik eram apaixonados um pelo outro, e eu via isso. Torcia por eles, e sorria ao ver os pequenos momentos fofos que tinham entre si. Quando me contaram sobre o namoro, fiquei eufórico e proclamei que eram o melhor casal de todos. Aquele fim de semana foi cheio de diversão, momentos casal e eu de vela, mas eu estava feliz.

   Pra mim, eles ficarem juntos era como acrescentar uma esperança pra mim. Esperança de que, o menino que eu tinha uma paixão pudesse talvez retribuir um dia. Eu era a merda de um inocente, e me arrependo disso.

   Porque quando a vida se tornou uma total merda, eu afundei nela duas vezes mais rápido.

   Tarik e Mikhael eram corajosos, e naquela segunda eles foram de mãos dadas para a pocilga que chamo de escola, trocando carinhos enquanto eu revirava meus olhos em divertimento e os acompanhava alguns passos atrás. Chegamos lá, e eu comecei a estranhar os olhares de descrença que dirigiam para nós. Eu não captava o que estava acontecendo, e como o idiota que sempre fui pensei que tinha algo atrás de mim.

   Olhei para trás e lá estava o filho da puta que eu tanto observava nos recreios, como um idiota apaixonado. Felipe, com seus capangas sem personalidade e sua jaqueta de couro que me trazia arrepios, por que parecia fazê-lo mais bonito ainda. Ele tinha uma expressão de tédio, e olhava para os lados procurando entretenimento, coisa que costumava fazer sempre, sem nunca encontrar algo realmente. Como alguém perdido, procurando alguma dica de como se guiar. Eu parei por alguns segundos, admirando pateticamente como os raios solares da manhã que viam da porta de vidro da frente faziam suas madeixas de cabelo rebelde parecerem mais sedosas, e que o leve bico de tédio era completamente beijável a um ponto que fixei meu olhar nele. Mas, ele percebeu que estava sendo observado e olhou pra mim com a sobrancelha grossa levantada, como se perguntasse o que havia na sua cara que me fez olha-lo fixamente.

   E tudo o que meu maldito corpo foi capaz de fazer foi enrubescer as bochechas antes de eu sair do lugar e ir até a sala, onde os pombinhos já me esperavam com caretas de reprovação. 

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Esse aqui é importante, podemos começar a entender que o personagem nem sempre foi assim. Seu passado é a chave para entender o que ele se tornou, e assim é também conosco.

Nossas escolhas, ações, palavras, e tudo o que nos acontece pode provocar uma mudança nos caminhos que trilhamos, nos pensamentos que rondam nossa cabeça, nas companhias que nos seguem. E nem sempre temos o resultado que desejamos quando fazemos certas escolhas.

Por que vocês sabem, a vida é uma cadela.

E Rafael sabe disso, mas você ainda vai precisar de muitos outros capítulos para saber como ele tomou conhecimento do significado dessa frase infame, que todos pensamos ao nos deparar com experiências desastrosas.

Então fique atento, ainda tem muito mais a ser lido.

All the love xoxo,

Nico.

Unhealthy - CellpsOnde histórias criam vida. Descubra agora