Apenas no final das aulas, pude entender o quanto fodido eu estava.
Eu e meus amigos fomos pelos fundos da escola até o pátio de educação física, onde planejávamos conversar sobre o que faríamos no fim de semana. Oh, eu sinto falta de escolher as atividades que faria no fim de semana.
Hoje em dia, eu só posso escolher entre estudar ou chorar.
E eu odeio estudar. Então fica fácil escolher.
Eu havia acabado de sugerir uma maratona de filmes quando vi alguns estudantes entrando no pátio. Até aí tudo normal, mas começaram a chegar grupos inteiros de pessoas que pareciam esperar algo. Mikhael já franzia o cenho, e Tarik tinha uma expressão confusa enquanto segurava no braço do namorado. Ficamos totalmente alheios a tudo ali até que chegou a estrela do show: Felipe.
Enquanto tínhamos caras de total confusão, ele sorria largamente enquanto todos o acompanhavam com o olhar. Eu vi seus capangas chegando, e Tarik sussurrou que devíamos sair dali porque o popular vinha em nossa direção.
E teríamos ido, se Felipe não tivesse chamado meu nome.
- Rafael!
Arregalei os olhos em espanto, pensando ter escutado errado. Ele chamou-me de novo, e eu sentia meus lábios tremendo e as bochechas esquentando enquanto ele me olhava de uma maneira que não pude decifrar. Ele chegou perto de mim, e com palavras suaves me perguntou se eu costumava olha-lo como havia feito naquela manhã.
E eu me arrependo muito, amargamente, de ter revelado no menor dos tons de voz que eu sempre o observei de longe, desde que havia chegado. O sorriso dele aumentou de tamanho, e eu fiquei maravilhado, pensando que ele correspondia meus sentimentos.
Mas um soco no estômago foi tudo o que eu precisei para eliminar essa perspectiva. Ele ainda sorria, enquanto me chutava no chão e dizia que ninguém nunca ficaria com alguém tão patético e feio como eu. E doía, doía mais as palavras odiosas do que os chutes de tênis nas minhas frágeis costelas, doía mais saber que minha primeira paixão ria de mim junto com a multidão de filhos da puta que observavam famintos por humilhação pública, por dor de inocentes.
Meus olhos derramavam lágrimas de dor, mas me privei de soluços por puro orgulho. Que se quebrou e foi jogado ao chão rapidamente por um grito desesperado de Tarik. Abri os olhos, para ver uma cena que me atormenta pelo que parecem milênios.
Os capangas de Felipe estavam segurando Tarik, que já chorava, com o braço para trás das costas, impedindo que meu amigo pudesse fazer algo pelo namorado que também era espancado. Rezende, o segundo maior valentão da escola, ria eufórico enquanto socava Mike em todos os lugares e mal era acertado porque havia quebrado os óculos de Linnyker.
Solucei, me entregando a dor de ver minhas pessoas mais queridas sofrendo na minha frente, a dor da impotência, a dor de sentir minhas costelas serem fraturadas, a dor de ser humilhado e de ser exposto assim pra pessoas tão desalmadas como meus colegas, a dor da desilusão amorosa.
Mas o pior foram as palavras divertidas do meu agressor: "Sabe, eu não me importo uma merda se você é gay ou seu amigos. Pode escutar Rezende? Ele sim quer reprimir sua vontade de dar a bunda. Eu só faço isso, xingar e te bater com o pretexto de homofobia, porque é o que te machuca. Seus amigos são o ponto fraco, sua paixão pateticamente visível por mim é um ponto fraco. E eu vou explorá-lo."
Eu apenas lançava um olhar de ódio, junto com um fraco "Porque?" que foi logo respondido. Mas eu preferia que não tivesse sido.
Lá estava eu, no chão com as mãos na barriga e todo enrolado em uma bola, o rosto molhado de lágrimas e o cabelo despenteado, a respiração em ritmo acelerado e o rosto pálido. Eu estava completamente acabado e ele apenas olhou pra mim, de um jeito tão normal que foi como se não tivesse me agredido há poucos segundos atrás e me falou em um tom tão animado que nunca esqueci as malditas palavras.
"Porque agora eu sei que é divertido, e eu preciso de algo para acabar com meu tédio."
_
Podem odiar o Felipe, eu deixo. Espero que tenha prestado atenção aos pequenos detalhes, porque caso contrário você terá muitas surpresas. A relação dos dois é estranha, mas o jeito que vieram ao mundo os fizeram lidar com as coisas de maneiras diferentes.
A pergunta aqui não é 'O que vai acontecer?' e sim 'O que aconteceu?'.
Fiquem atentos, tudo tem uma explicação.
All the love,
Nico.
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Unhealthy - Cellps
FanfictionQuando tudo parece não importar, e eu me sinto perdido nos seus olhos, assustado com meus sentimentos e sem forças para negar-lhe qualquer coisa. _ Quando tudo me parece nada valer, mas sua presença é indispensável. Tenho a certeza de que és meu, só...