Unhealthy - Cellps

Pt.1 of 10 - First We'll Live

   Felipe se tornou mais carinhoso do que jamais foi, e por mais que eu desconfiasse de cada passo seu... Era bom demais pra negar. Ele beijou todo o meu rosto, levando seus lábios pela minha pálida pele sem qualquer comentário que pudesse parar o momento, ele me abraçou com a ternura que eu sonho há muito ter dele, seus braços fortes apertando meu corpo contra o seu me permitindo sentir com as palmas da mão o bater do seu coração. Ele fez os mais delicados e suaves carinhos em meus cabelos, fazendo apenas um pequeno elogio quanto ao comprimento longo. Ele agiu completamente diferente do que já fez desde que nos conhecemos, e me perguntei dentro de mim se esta era a face mais sensível e carente dele. Se, como todo mundo, ele tem um ponto fraco dentro dele que o faz necessitar de contato.

   Mas apenas o absurdo deste pensamento já me fez rir baixinho, o que me concedeu uma mordida leve na pele da base de meu pescoço. Ugh, impossível não gemer com a pequena dor que isto me causou.

   Ficamos ali, perdendo aula, nos acariciando por tanto tempo que eu mal sabia que horas eram. Eu também não me importava, porque eu sentia que tudo isto vindo de Felipe era um sinal de que algo aconteceria e eu não acho que estou preparado para o que virá.

- x -

   Infelizmente minha alegria sempre dura pouco, então aparentemente estávamos no horário de saída agora. Mesmo que eu quisesse, não poderia ficar na escola porque ela fecha depois das aulas da tarde. Aliás, não há qualquer graça em ficar preso dentro dessa espelunca.

   Felipe, que havia ficado silencioso depois de um tempo, me mandou um olhar significativo que eu interpretei como sendo um 'é hora de irmos'. Não sei por que, mas ele disse que quer me acompanhar até em casa e eu é que não vou discordar. Não fiz nada além de sair de seu colo, o tempo bom e carinhoso parecia ter se esvaído de acordo com suas feições e seu jeito frio de agir. Ele parecia pensar intensamente, e pensei que seria melhor eu pergunta-lo sobre isso enquanto andávamos até minha casa... Não que eu ache que vou receber uma resposta, mas tentar nunca custou nada. Na verdade sempre custa, mas eu estou disposto a pagar o preço.

- Rafael... – Sua voz me assustou ao ponto de me fazer parar os movimentos, porque cortou o silêncio de forma surpreendente. Seu tom era coberto com certo receio, não sei o que deu nele neste dia, mas não posso dizer que não gostei. Virei-me para ele, percebendo de imediato um erro meu que ele fez questão de apontar. – Não saia na minha frente, pensei que já tivesse aprendido isso quando o puni no passado.

   Estremeci, lembrando-me muito bem do episódio de raiva que lhe acarretou. Foi quando ele tinha me dito para acompanha-lo, mas eu o odiava muito para obedecer. Tolo. Foi tão rápido que eu não pude nada fazer, sua mão direita chegou aos meus cabelos e agarrou as raízes, me jogando com força contra os armários de ferro que fizeram tal estrondo ensurdecedor. Eu recordo com medo da dor que minha face conheceu quando se conectou ao metal frio, o impacto da minha pele e músculos... Arranhões foram o resultado de tal experiência, e eu tive que ficar quieto enquanto Felipe se posicionava atrás de mim, sussurrando ameaçadoramente sobre o quanto ele odeia ser deixado para trás... Figura e literalmente.

E aqui. – Ele andou até mim, não se importando nem um pouco com meu pequeno encolher quando deixei claro o quanto eu me lembrava do acontecimento. Ele abriu seu casaco de moletom pelo feixe, retirando-o com toda a calma do mundo para coloca-lo em meus ombros. – Não finja firmeza, conheço suas fraquezas como ninguém e sei que está morrendo de frio. Pelo que eu saiba, meu amor, o seu tremer contínuo não tem nada a ver comigo.

   Acenei com a cabeça em entendimento e coloquei o casaco corretamente enquanto mordia o lábio inferior com animação, sentindo meu interior esquentar-se por razões que ultrapassavam o tecido grosso que agora eu vestia.