Vegas Can Hurt

8 0 0
                                    

   Se havia algo que eu gostava de fazer era de apreciá-lo dormir naquelas ocasiões. As pessoas dizem que, enquanto vivos, o sono é a coisa mais próxima da morte que temos, mas naquele momento, para mim, era quase como se fosse a coisa mais próxima da vida. Era maravilhoso saber que ele descansava por conta própria e que se eu o chamasse, ele acordaria facilmente. Havia toda uma proximidade com a vida em seu sono. Era totalmente diferente de quando entrava em seus apagões motivados pela quantidade de droga que consumia.

   Divertia-me tentando sincronizar minha respiração com a dele e observando seus atos involuntários. Deixava-me rir em algumas dessas situações e isso acabava por acordá-lo, como o que acontecera no momento que narro. Ele abriu ligeiramente os olhos e ergueu uma das sobrancelhas como se perguntasse o que eu estava fazendo, ainda que ele soubesse.

- Acordou há muito tempo? – ele perguntou.

- Há uns dez minutos. – sorri.

   Ele se espreguiçou, colocou suas roupas e bagunçou meus cabelos com suas mãos grandes e rudes:

- Se arrume e pegue suas coisas. Hoje vamos para Las Vegas.

- Como quiser. – sorri e comecei a me trocar enquanto Jason observava.

   A cidade do pecado. Apesar de eu ter certa curiosidade, devo confessar que nunca foi um dos lugares que mais me atraiu no mundo. Para dizer a verdade, nunca tive um.

   Logo encarávamos a estrada novamente. O ronco da sua motocicleta deixara de me incomodar há bastante tempo e era quase um tipo de música para meus ouvido quando juntava-se ao som do vento. Era uma sensação quase divina, sem obrigações, sem responsabilidades, algo como o amor antes das inconveniências. Eu podia ouvir o canto dos pássaros que vinham junto com a brisa de verão. A velocidade com que seguíamos fazia meu organismo liberar a adrenalina que eu precisava para despertar completamente.

   Se eu morresse jovem, tinha certeza de que teria vivido bem mais que a pessoa mais velha do mundo, pois eu juntara experiências, eu sabia das coisas por própria experiência, eu aproveitava tudo o quanto eu podia. E se Deus existia, eu acreditava que era para isso que tínhamos a chance de viver em um mundo tão cheio de oportunidades: para desfrutar e fazer de nossa vida arte.

   Era assim que vivíamos, dirigíamos até o anoitecer ou até nos sentirmos cansados – o que costumava demorar a acontecer –, e bebíamos e conversávamos a noite inteira. Diria que éramos uma família se eu não soubesse que isto estava em decadência e que não era o nosso tipo de relação.

   Logo, Jason freou sua moto e, consequentemente, os outros também o fizeram. Ele me ajudou a descer da garupa, mesmo ciente de que eu podia fazer isso sozinha, e com um alarme deu a partida para que todos desfrutassem do lugar. Em pouco tempo, sobrara apenas eu, Nora e Phillip próximo às motocicletas. Eu observava o lugar: a grandiosidade dos cassinos, o brilho em todo o lugar ofuscando meus olhos, o som alto da confusão musical e das vozes das pessoas e a grande circulação noturna. Suspirei.

- Segura isso pra mim. – Nora estendeu-me uma canga enquanto começava a tirar a camisa.

- Não estamos na praia. – ri, ciente do nosso costume de trocar de roupa publicamente.

- Já fizemos coisa pior. – ela deu de ombros enquanto colocava um vestido preto de mangas bem justo.

   Quando terminou, ela segurou a canga azul enquanto eu colocava meu vestido tomara que caia de festa amarelo-dourado. Maquiamo-nos uma a outra e ajeitamos nossos cabelos de qualquer forma enquanto fingíamos ser aquelas mulheres ricas ou metida a ricas daquele ambiente. No momento em que ficamos prontas, Phillip tinha terminado de ajeitar todas as motocicletas, tarefa que ele pegara voluntariamente por ser organizado. Enfim, fomos andando até o Blue Pacific, cassino no qual os outros estavam.

Born To UltraviolenceOnde histórias criam vida. Descubra agora