Enganado

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[2015]


Silvinho estava sozinho em casa mais uma noite.

Caminhou tranquilamente até a cozinha onde sua mãe, conhecida na vila como Dona Vera, havia preparado o jantar. Colocou uma colher de arroz e uma concha de feijão no seu prato e sentiu nojo quando viu a carne refogada com quiabo. Silvinho odiava quiabo e sua mãe parecia adorar fazê-lo comer o legume. Com os olhos revirando, serviu-se da carne e foi até a sala para degustar do seu terrível jantar.

Ligou a televisão e assistiu um programa cheio de mortos-vivos. Sílvio mastigava a carne pensando o quanto preferia comer carne de gente a comer a carne que sua mãe havia preparado nas pressas.

O telefone tocou fazendo o garoto de 18 anos, perder o interesse na televisão. Levou o celular ao ouvido e falou com sua voz anasalada.

- Fala Jair! O que temos para hoje?

- Consegui uma bichinha lá do centro da cidade - uma voz rouca falava no telefone - O rapaz parece ser rico e depois que eu mostrei uma foto do seu caralho, o veadão vai fazer chover dinheiro para gente.

- Beleza! – Sílvio respondeu animado – estarei pronto em dez minutos.

- Passo te buscar aí na sua casa então! – Jair desligou o telefone.

Sílvio terminou de engolir a gororoba da sua mãe e correu para o banheiro. Ele já havia tomado banho na parte da tarde então não era necessário tomar de novo. Apenas escovou o dente, passou um desodorante embaixo do braço e lavou o grande pênis da pia do banheiro. Olhou-se no espelho e se viu com os cabelos castanhos encaracolados, uma sorriso grande e os olhos negros mais sedentos do que nunca.

Sentou-se na beirada da calçada enquanto esperava o senhor Jair aparecer com seu Escort cinza. Sílvio conhecera o Seu Jair já fazia uns dois anos. O senhor de quarenta anos era solteiro e morava em um bairro vizinho da Vila Celestino. Sílvio sentia nojo do homem, principalmente do seu bigode grisalho e dos pelos que ele tinha pelo corpo todo.

Os dois se conheceram no campinho da vila. Seu Jair estava assistindo uma partida de futebol, Sílvio estava no time dos sem camisas e já fazia o seu terceiro gol. Ele sempre ganhava, não importava o jogo, desde o futebol até o esconde-esconde. Podia ser qualquer coisa, Silvinho mostrava a sua sede por vitória.

E no jogo do senhor Jair, ele já estava craque em vencer.

Funcionava sempre da mesma forma, Jair divulgava os programas que Silvio fazia e arranjava os melhores homens discretos da cidade. Sílvio ia até o pequeno kit net onde Jair morava e encontrava o cliente já pelado em cima de uma cama de casal. O bairro onde seu cafetão morava era mais afastado e por tanto bem mais seguro de esconder as coisas que aconteciam ali. No fim, ambos ganhavam em torno de quinhentos a mil reais por noite só para Sílvio comer a bunda de uma homem enrustido.

No começo, Sílvio sentia nojo, mas a ideia de ganhar quinhentos reais por noite o fez aceitar qualquer proposta do senhor Jair e desde então os dois trabalharam junto.

O Escort cinza encostou na sarjeta e seu Jair abriu a janela com um sorriso torto na boca:

- Hoje eu prevejo no mínimo mil reais para cada.

- Espero! – Sílvio respondeu – fiquei a tarde inteira sem gozar para fazer bonito.

- Está aprendendo então – Jair orgulhou-se – entra aí no carro que a passivona já deve estar te esperando.

Sílvio entrou no carro e ambos desceram pela rua quatro. Avistaram dois camburões de polícia em frente a uma das casas deixando o senhor Jair um pouco preocupado:

Lendas de amor e sangue: Vila CelestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora