Esperado

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[2005]

 Era dia 8 de fevereiro na Vila Celestino. 

 Carnaval.

 Além de comemorar a festança que é comum nessa época do ano, os moradores da vila Celestino tinham algo especial para comemorar.

 O asfalto da rua principal havia sido inaugurado oficialmente naquela manhã. O chão ainda brilhava da cor do petróleo e ainda era responsável por colar algumas solas de sapatos. Mas isso era mero detalhe que não destruiria a felicidade do povo da vila.

 A vila celestino começou a fazer parte do município de São Tomé na década de 80. As terras pertenciam a uma grande família chamada "Celestino" que misteriosamente desapareceu sem sobrar ninguém como herdeiro. Assim, a prefeitura fechou o lote e começou a vender os terrenos das sete ruas verticais somadas a rua principal que fechava um novo bairro.

 Rubens Carquejo havia pesquisado a fundo a história do bairro antes de comprar um pedaço de terra que se localizava na rua 4. A vila não era assim tão bem vista pelo povo da cidade, mas Rubens não se importava. Ele olhou para aquele projeto de bairro e começou a plantar grandes ideias em sua cabeça.

 Com 26 anos, Rubens já havia conquistado muitas coisas em sua vida. Vindo de família rica, sempre teve uma ótima educação nas melhores escolas do país, cresceu sendo um exemplo para toda a família. Formou-se em administração com apenas 22 anos de idade e desde então seguiu o mesmo caminho do pai que era um grande empresário.

 Descendente de franceses, Rubens era alto, tinha um cabelo castanho escuro penteado perfeitamente para o lado. Seu rosto tinha um formato triangular que combinava com o seu porte físico médio.  Seus olhos eram pequenos e profundos e somados com seu nariz empinado, formavam a expressão de um homem ganancioso.

 Forçado a casar com uma garota de família rica aos auges dos 23, Rubens via em seu matrimônio apenas como uma forma de ganhar dinheiro e ostentar com uma bela mulher em seus braços para toda a sociedade de classe alta, nunca houve paixão entre os dois e a mulher não dava a miníma para ele. Rubens tão pouco se importava porque ele só tinha um amor verdadeiro em sua vida.

 E ele iria aproveitar muito desse amor naquela noite de carnaval.

 Rubens havia sido o responsável pelo mais novo asfalto da vila Celestino. De fato, ele chantageou o prefeito da cidade para conseguir a verba e a autorização para o seu projeto. No começo, apenas a rua principal seria asfaltada, mas bastou algumas ligações e outras ameaças e o acordo foi firmado. A rua de número 4, onde Rubens planejava construir sua bela mansão, também seria asfaltada.

 A grande casa de Rubens mau havia começado a se construir, mas o povo da vila já o amava e o admirava como se fosse um Deus. Asfalto naquela época era um luxo, principalmente para um bairro tão afastado da cidade quanto a vila Celestino. Graças ao homem rico que passeava em seu carro chique todos os dias, aquilo seria possível.

 A rua 4 estava interditada. Famílias montaram mesas nas calçadas e um caminhão de som parou no meio da esquina ligando a música em um volume ensurdecedor que agitava todos os moradores da vila em plena 10 horas da noite. Quase toda a vila estava presente para comemorar a grande conquista.

- Eles estão te esperando lá fora para um pronunciamento!

 Olhando fixamente para as paredes levantadas, Rubens tomou um leve susto e olhou para trás. O homem que o chamava tinha um metro e noventa e cinco, cabelos loiros com uma leve calvície aparecendo, tinha a mesma idade de Rubens e vestia uma camisa social branca com os primeiros botões abertos deixando uma pelugem loira aparecendo em seu peito.

Lendas de amor e sangue: Vila CelestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora