Capítulo XIX

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Lidar com uma dezena de crianças, incluindo dois bebês, além de uma velhota e um homem, era o suficiente para manter lady Graham muito atarefada. A todo instante, havia algo que verificar ou decidir ou ordenar para que tudo ocorresse na mais perfeita ordem. Com o seu dia cheio, sua mente ficava bem longe do olhar do duque que a atraia e a chamava de uma forma desconcertante.

Amentava a menina Stanfield e mantinha os irmãos mais velhos desta agindo como crianças, suprindo assim sem esmorecer ou reclamar as necessidades físicas e espirituais daqueles pequenos. Com um tom aberto e carinhoso, lady Graham incitava os pequenos a correr, rir, cantar, se sujar e fazer todas as coisas ordeiras que crianças deveriam fazer. Nisto, tinha ajuda de seus filhos, que eram mestres na antiga arte de ser criança. Os quatro Graham levavam os três Stanfield e até Alexandra a subir em árvores, andar a cavalo, nadar no lago e a desfrutar da vastidão verde das terras de Kenbridge., que naquele verão parecia ser um lugar especialmente feito para as brincadeiras infantis.

Na maioria das vezes, a baronesa sugeria que lord Milford fosse junto para interagir com os meninos para que ele gozasse um pouco de um ambiente mais relaxado e aproveitasse para estreitar os laços com os pequenos. Enquanto isso, ela ficava na casa cuidando a mimando as bebês, dando seguimento a vida da propriedade através de reuniões com o administrador e os arrendatários e recebendo seus vizinhos que vinham visitá-la para um conselho ou para consolar seu luto.

Naquele dia, no entanto, o plano era que todos, sem exceção, participassem juntos de um piquenique próximo das ruínas de um antigo monastério. O planejamento fora todo dos pequenos com a supervisão do duque, cabendo aos demais participantes apenas a presença. Era uma forma de aproveitarem o último dia junto, pois se aproximava a hora da separação, marcada para o dia seguinte.

As ruínas do monastério de St. Margaret ficavam na fronteira norte de Kenbridge. O único indício de que no local houvera um monastério era uma cruz de pedra que se erguia no meio da clareira. O resto eram apenas pedras cobertas por plantas indicando que aquele local estava abandonado há muito tempo. Apesar de não servir mais para seu intuito original, a pequena clareira onde o monasterio se localizava era um excelente lugar para um piquenique e, além de ser grande para brincar de esconder, o que os pequenos logo fizeram ao deixarem a carruagem que os trouxera. Logo, os gritos e risos preencheram o lugar sagrado de vida e trouxeram um não disfarçado sorriso ao duque, que os viagiava de perto. Observava que a interação natural e fraterna entre seus filhos e os de Elizabeth era tal que podiam passar por irmãos sem qualquer dúvida e aquele pensamento alentou o coração de George.

O calor daquele dia fizera com que Elizabeth escolhesse a sombra de uma cerejeira em flor para acolher o local onde disporiam o lauto banquete providenciado pela sra. Amstrong, a cozinheira dos Graham, compostos de três cestas grandes repletas de bolos, tortas, pães, doces e compotas além de refrescos e chá. Aos pés daquela árvore, dois criados dispuseram uma grande toalha e alguns almofadões para que todos estivessem bem acomodados. Para lady Dungarvan fora trazido um pequeno banquinho para que não precisasse fazer tanto esforço, mas a velha preferiu acompanhar as duas babás no passeio com Elizabeth e Audrey pelo bosque que circundava a clareira.

Findados seus deveres de organizar a disposição das coisas, Lady Graham encontrou um lugar para se sentar e observar o cenário feliz que se abria diante da vista. Apesar da árvore ser frondosa e oferecer boa sombra, alguns raios de sol mais teimosos insistiam romper a barreiras flores apenas para acariciar a pele da baronesa. Uma brisa fresca espalhava um aroma suave de cerejas no ar e espalhava também alguma das flores por envolta dela. Apesar da perda recente de James, cuja estranheza ainda mexia profundamente com a baronesa, Elizabeth sentiu-se feliz naquele exato momento, havia nela uma sensação de completude com a presença daquelas pessoas que tanto considerava e aprendera a cuidar.

O azul dos olhos teusOnde histórias criam vida. Descubra agora