Capítulo XXI

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"Veja, criança", comentou baixinho a viscondessa viúva que ia ao lado de lady Graham, servindo de companhia a sobrinha. "Metade dos olhos estão postos sobre você".

"Que exagero, tia", riu Elizabeth com um brilho divertido nos olhos enquanto se punham a caminhar entre os convidados. "Olham para todos que entram".

"Tolice!", negou lady Dungavan sacudindo a cabeça com certa veemência. "Durante semanas, sua chegada foi assunto nesta cidade. Seria impossível que sua figura não causasse alguma comoção", a viscondessa diminuiu o tom, pois tão logo estavam dentro do salão viram-se cercadas de uma profusão sem fim de curiosos, todos figuravam na lista de conhecidos de lady Dungavan.

Elizabeth sentiu-se como uma atração exposta em alguma feira. O escrutínio da sociedade e suas perguntas a exasperava de tal forma que tão logo surgiu oportunidade, se desvencilhou do grupo que a cercava e saiu para caminhar pelo salão. Caminhou a esmo, observando os modos frios capital e os maneirismos tolos, a fleuma e a pompa que a ela tornavam o riso discretamente irônico. No meio do caminho, numa parte mais calma do salão, um lampejo azul se distinguiu entre as pessoas. Um par reluzente de olhos azuis se aproximou dela, lançando ao mar todo autocontrole e segurança ao parar diante dela com aqueles modos sérios. Por instantes, não falaram apenas trocaram um olhar a uma distância respeitosa. Ela estendeu a mão e ele a tomou, ambos estremeceram com esse toque tão simples.

"Boa noite, lady Graham", a voz de George soou educada e grave logo após de beijar-lhe a mão.

"Milord...", o cumprimento de Elizabeth não foi mais que um suspiro rouco e assustado. No peito, o coração iniciava um ritmo descompassado ao ter ali aquele objeto de um bem querer sem fim. "Vejo que está em boa saúde", completou após avaliar satisfeita que ele não poderia estar melhor em aparência e maneira.

"Digo o mesmo da sua pessoa, milady, ainda que no seu caso a beleza e a juventude não a abandonam", o duque comentou com um traço fino, quase invisível de galanteio.

"Oh, céus, ainda está um mentiroso intratável", mordeu o lábio para segurar um riso que queria se formar. Em resposta aquela provocação, ele sorriu e ofereceu o braço silenciosamente para que pudessem caminhar. Elizabeth, ainda que com relutância, aceitou e passaram a andar sem pressa e sem intenção de abordar este ou aquele membro da sociedade.

"Os olhares dos cavalheiros presentes confirmam que eu estou certo, lady Graham", ele foi o primeiro a quebrar o silêncio que se impos com o início da caminhada.

"Atribuo a curiosidade", disse com indiferença. "Como estão os pequenos?", inquiriu com um sorriso doce apoiando com mais firmeza a mão no braço de George. O coração maternal havia adotado aos Stanfield que havia ficado sem mãe no mesmo ano que os filhos, os Graham, ficaram sem pai.

Antes que George pudesse responder, surgir um cavalheiro diante deles e fez uma reverência perante os dois, lançando um olhar significativo para George. O duque fechou o rosto diante daquela pequena impertinencia. Conhecia bem o tipo, principalmente se tratando de um Burton, cuja a família era conhecida pela libertinagem desenfreada. Antes que as faces lhe ficasse ainda mais nebulosas, um olhar de Elizabeth foi o suficiente para suavizar as feições e proceder educadamente.

"Permita-me, milady, apresentá-la ao senhor Frederick Burton", introduziu o duque sem nenhuma emoção na voz.

"Não é preciso que o senhor apresente a esta dama, pois já foi cantada em verso e prosa na Escócia", o rapaz fez uma profunda reverência diante da baronesa e tomou sua mão para beijá-la enquanto recitava uma quadrinha que algum bardo fizera sobre a beleza de certa dama de Ayton. Não sabia por estar lisonjeada ou envergonhada, mas George viu que aquelas palavras fizeram com que a baronesa ficar corada e aquilo o exasperou de tal forma que ele fechou a expressão ainda mais, tornando-se quase ameaçador. O frangote fez com que ela risse e falasse amenidades e George se tornou amargo, afinal as atenções de Elizabeth, por direito como que divino, deveriam ser suas. Ao fazer menção de falar algo, foi novamente interrompido.

"Sei que o amigo há de me perdoar, mas é meu desejo dançar com lady Graham. Nenhuma dama com tal aparência deveria eximir-se de dançar", ele pediu com polidez excessiva.

O mau humor se instalara de vez em George com aquela pergunta. Culpava-se por não ter pensado naquele detalhe e preenchido todo o cartão de dança de Elizabeth ou outro tipo de ideia. Culpava aquela beleza que, ao contrário de outras viúvas, não repelia, atraia por sua falta de interesse claro na coqueterrie ou na sedução. Enfim, para lord Milford, o universo era culpado, pois lhe tirava o prazer da companhia da mulher que lhe era de direito para que estava fosse dançar com um frangote.

"Faça como bem entender", resmungou lançando um olhar frio para Burton e se retirando sem uma palavra a Elizabeth. 



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