Desejo

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Existe momentos que perco minha capacidade de expressar o que penso. Nesses momentos eu não listo quem sou, ou o que quero ser. Eu listo como as coisas poderiam ser piores. 

Então estou sem nenhuma gota de capacidade para criar, mesmo sendo esse meu ganha pão. Mas, poderia ser pior. Eu poderia de fato não ter um ganha pão. É aquela velha história do porquê gostarmos de tragédias. É bom saber que não é comigo. 

Mas, desejo ser uma pessoa melhor. Sempre. Talvez seja essa minha falha mortal. Tenho tanta vontade de ser melhor que acabo não sendo. 

Desejo, também, ter alguém além...

Além dos problemas, além das angústias, além das tragédias, além dos dramas. 

Alguém, fisicamente, metaforicamente, espiritualmente que permaneça além. Que fique além. Que não se espante com minha maldade, ou minha dor, ou meu cansaço, ou minha incapacidade de ser competente. 

Mas, isso não me torna especial. Meus problemas e minhas virtudes são genéricos. Mais pessoas no mundo já viveram e morreram sendo melhores do que eu. Outras piores. O fato é: gosto de pensar que sou única, original. Mas no fim somos todos copiadores. Somos réplicas desejando ser peças originais. Infelizmente não sou uma obra de Caravaggio. 

Mas desejo ser. Por isso, talvez, eu passe tanto tempo com a casa fechada, observando um pequeno facho de luz entrar pela janela, expondo minha humanidade. Expondo que não sou melhor do que os piores. Expondo minhas vulnerabilidades. Expondo que sinto mais saudade do que me empenho em amar outra vez. Expondo que, talvez, eu não queira ser realmente feliz. Expondo que tenho medo. Por isso fecho a janela também.

À DerivaOnde histórias criam vida. Descubra agora