Memória

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Eu tenho fotos da minha infância. Registro de pessoas das quais nem lembro o nome.  E aqui, bem acima da minha cabeça, no meu mural de fotos, existem pedaços das minhas mais caras lembranças. 

Antes, quando mais jovem, eu acreditava ter uma memória excelente. Me lembrava até do cheiro das coisas. Hoje, ainda jovem, mas nem tanto assim, já não me lembro. Às vezes penso que deveria existir algo relacionado a certo lugar, ou que certa pessoa que passa por mim na rua já fez parte da minha vida. Mas não me lembro. E a cada dia guardo menos detalhes.

Por isso sempre tiro fotos, as revelo e as guardo em uma caixinha. Para acumular poeira e para facilitar a tarefa de não esquecer os importantes. 

Mas me apavora pensar que eles irão me esquecer. Pensar que quem eu amo não se lembrará do meu rosto jovem, mas nem tão jovem. Pensar que não se lembrarão de cada carta que escrevi, de cada palavra que dediquei com o coração. Me entristece pensar que eles não se lembrarão a maneira como eu admirava músicas e filmes antigos. Quase me enlouquece pensar que eles não recordarão cada aspecto que forma minha personalidade. 

E não sei o que é pior: esquecer ou ser esquecida. Mas a cada dia sinto a desmemória mais permanente, mais certa. Todos vamos acabar esquecidos, certo!? Todos desapareceremos na multidão da humanidade. 

É Gus, eu entendo. 

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