Zafiro

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POV Elisa

Zafiro. Era exatamente como eu havia visto uma vez na vitrine de um shopping caro da zona nobre da cidade. Dois pontos que brilhavam mais que qualquer estrela, desperdiçados em meio a luz amarelada e doentia da sala de hospital.

Encarou a porta fechada atra de mim desinteressadamente, como se essa não fosse a única maneira de sair dali, como se sair dali não significasse nada.

Mudei o peso da perna enquanto analisava os papéis com o histórico médico que tinha na mão.

Danos físicos: algumas costelas quebradas, um corte no lado direito dos lábios, alguns pontos na panturrilha e arranhões nas costas e no peito.

Danos psicológicos: O paciente se negava a manter qualquer tipo de conversa fosse com quem fosse.

Encarei a cadeira vazia na diagonal da cama e o criado mudo que havia ao lado. Algumas flores haviam sido colocadas cuidadosamente em uma jarra com água. Eram rosas em um tom gentil e pacífico. Todo o resto era branco e sem vida.

Apoiei os papéis que ainda segurava no colo enquanto me acomodava na cadeira e pegava uma caneta no bolso do jaleco que vestia. Me lembrava da primeira vez que havia colocado o jaleco branco e havia sentido que de verdade tinha conseguido. Sempre havia me sentido cômoda com essa roupa desde então. Sempre havia sentido que não era só parte de um uniforme. E mesmo que eu não estivesse obrigada a usar, colocar essa roupa cada dia tornava real tudo pelo que eu tinha lutado.

— Noah.

Seus olhos encontraram os meus ao ouvir seu nome. Tenho certeza que qualquer artista adoraria pintá-los, por mais que fosse impossível conseguir o tom exato daquela íris que continha todos os tons de azul existentes e outros nunca vistos antes.

Limpei a garganta, coloquei os papéis com o histórico no criado mudo e abri meu caderno em uma folha em branco. Seria melhor começar pelo básico, isso sempre funcionava... Na maioria das vezes.

— Meu nome é Elisa Sommer, estarei te acompanhando uma vez por semana durante uma hora nas sessões de terapia.

Desprovidos de qualquer interesse, os olhos dele percorreram o quarto afastando-se dos meus como se eu fosse um móvel a mais naquele lugar carente de emoção. Fiz uma nova tentativa, encarando a folha ainda em branco no meu colo enquanto o tic tac do relógio na parede me indicava os minutos desperdiçados.

— Noah, sei que não quer falar sobre o que aconteceu, mas posso te garantir que se sentirá melhor depois disso... eu estou aqui para ajuda-lo.

Como se isso representasse um esforço desnecessário ele voltou a me encarar se acomodando com certa dificuldade na cama. Apesar das marcas do acidente em seu rosto, Noah não poderia ser nada menos que intimidante. Descreve-lo seria impossível tendo em conta minha objetividade, mas não faze-lo poderia considerar-se um pecado, então tentarei...

O Zafiro dos seus olhos estavam protegidos por duas cortinas pesadas, longas e escuras, qualquer garota mataria por ter cílios assim. Seus lábios eram como Rubi e a pele clara fazia com que todas essas cores parecessem quase irreais. Acomodei-me na cadeira enquanto lutava contra a sensação de estar sendo examinada, enquanto lutava por manter meus olhos longe dos dele.

Por dentro eu estava gritando. Tinha uma pontuação excelente no programa de estágio da faculdade e esse seria o projeto final do semestre que poderia destruir ou alavancar minha carreira. Respirei fundo, não me renderia, jamais o havia feito.

— Por que não iniciamos falando sobre como começou aquela noite? _ Vi quando suas mãos se fecharam em punho, apertando tanto o lençol que os nós dos dedos ficaram brancos.—  O que aconteceu depois da última mensagem Noah?

Depois do fim (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora